Héber Roberto Lopes é afastado pela comissão de arbitragem

Arquivo/Tribuna
Héber foi  afastado pela
comissão de arbitragem até
o esclarecimento  dos fatos.

O empresário Nagib Fayad, conhecido como Gibão, acusado de ser o principal mentor do esquema de manipulação de resultados do futebol brasileiro, voltou atrás, em depoimento na CPI dos Bingos, ontem em Brasília, e inocentou o árbitro Héber Roberto Lopes (Fifa-PR) de qualquer participação no esquema.

Gibão afirmou, em sua primeira versão, que havia recebido um telefonema de Edílson Pereira de Carvalho, principal envolvido no ?Escândalo do apito? e banido do futebol, sugerindo que apostasse no Botafogo contra o Juventude, em partida realizada no Rio de Janeiro, no dia 11 de junho, já que Héber Roberto Lopes estaria disposto a ajudar o time da casa. Na ocasião, o Botafogo venceu por 3 a 2, com dois gols de pênalti.

O apostador, no entanto, negou qualquer acusação ao árbitro paranaense. Gibão confirmou o telefonema de Edílson, mas afirmou que este fez a sugestão porque os árbitros que erram contra os times cariocas vão para a ?geladeira? e, por conta disso, as chances do empresário seriam maiores se apostasse no time da casa.

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) aguardará o envio do depoimento integral de Fayad para analisá-lo e se pronunciar a respeito de suas declarações. Somente depois disso serão decididas quais providências serão tomadas.

Héber vai processar Gibão

Ontem, em entrevista por telefone à Tribuna, Héber Roberto Lopes, que mora em Londrina, negou as acusações de Nagib Fayad, o Gibão. Ele disse que ficou ?muito chateado? e pensou em se isolar, mas foi orientado por seu advogado a se defender publicamente porque não deve nada. ?São declarações infundadas, e quem falou terá que prová-las. Certamente irei acioná-lo (Gibão) judicialmente, pois essa história afetou meu nome e minha família?, disse o apitador.

Héber mencionou entrevistas concedidas ontem por Edílson de Carvalho, que negou tê-lo citado como membro da máfia do apito. Apesar da polêmica dos pênaltis, o árbitro paranaense considerou ?tranqüila? sua atuação no jogo Botafogo x Juventude.

Único paranaense no quadro da Fifa, Héber seria ?protegido? do ex-presidente da Comissão Nacional de Arbitragem, Armando Marques, afastado logo depois do estouro do escândalo.

Réu confesso no esquema de manipulação de resultados para ser favorecido em apostas ilegais na internet, Gibão tentou envolver Héber no esquema de manipulação de resultados, porém não chegou a citar o nome do londrinense. Mas afirmou que o árbitro teria fraudado o resultado do confronto.

Héber apitou esta partida e outras 15 do Brasileirão.

Segundo Gibão, quem lhe contou sobre a suposta fraude de Héber foi justamente o árbitro Edílson Pereira de Carvalho, outro réu confesso no escândalo de arbitragem. Em depoimento na CPI dos Bingos, o empresário contou que Edílson teria lhe dito a seguinte frase sobre o jogo: ?Joga no mandante. Ele (Héber) costuma proteger os times da casa quando apita no Rio?.

Gibão fez questão de destacar que não apostou na partida entre Botafogo e Juventude. Depois, mudou o tom da declaração. ?O que eu quis dizer é que o Edílson me ligou e disse que os juízes costumavam favorecer os times do Rio quando eles jogavam em casa?, disse o empresário.

Na partida, o Juventude chegou a abrir 2 a 0 de vantagem, mas o Botafogo virou em 30 minutos. César Prates, cobrando falta, diminuiu, e Alex Alves, em duas cobranças de pênalti, marcou os outros dois. Os dois times saíram reclamando da atuação de Héber – o Juventude pela marcação dos pênaltis e o Botafogo pela repetição da primeira cobrança convertida por Alex Alves. Héber alegou que os botafoguenses invadiram a área.

PF desconhece participação

São Paulo – O promotor do Gaeco, Roberto Porto, foi surpreendido pela revelação feita ontem por Gibão na CPI dos Bingos, acusando o árbitro Héber Roberto Lopes de manipulação de resultados de jogos no Brasileirão. ?Por qual motivo ele (Gibão) não citou o nome do Héber Roberto Lopes em seu depoimento na Superintendência da PF? Por que só contaria isso agora? Acho tudo muito estranho?, afirmou.

Um dos promotores que investigam o escândalo na arbitragem, Porto garante que nas 20 mil horas de conversas telefônicas gravadas pela PF sobre o caso em nenhum momento aparece o nome de Héber. ?Nem tampouco qualquer um dos depoentes ouvidos até agora mencionou seu nome? garantiu.

De acordo com as informações obtidas pela PF e pelo Gaeco, apenas os ex-árbitros Edílson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon teriam aceitado manipular partidas.

CBF ?preserva? árbitro

Rio – Com o objetivo de ?preservar? o árbitro Héber Roberto Lopes (Fifa-PR), o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Edson Rezende, decidiu afastá-lo, na noite de ontem, do quadro profissional da entidade. O dirigente disse não acreditar na nova denúncia feita pelo empresário Gibão, em depoimento na CPI dos Bingos, de que o árbitro paranaense também estaria envolvido na manipulação de resultados do Campeonato Brasileiro, mas destacou que o momento é de prevenção.

?Vejo tudo isso com muito espanto e não sei se podemos dar crédito. Acho que eles estão sendo orientados pelos advogados para criarem confusão ao contarem um fato novo a cada depoimento?, afirmou o presidente da Comissão de Arbitragem.

Edson Rezende aproveitou para mostrar sua confiança em Héber. Contou ter falado com o árbitro paranaense pelo telefone, ontem mesmo, para tranqüilizá-lo e explicar que o melhor seria seu afastamento dos jogos do Brasileiro até que a situação seja esclarecida.

O árbitro londrinense demonstrou serenidade. ?Falei com o Edson Rezende, que me deu total apoio. Ele comentou que este tipo de declaração já era esperado, pois este pessoal (Gibão e Edílson) começa a atirar para todo lado?, afirmou Héber à Tribuna.

O STJD optou por não se envolver, a princípio, no novo capítulo do escândalo na arbitragem. Em nota oficial, o presidente do órgão, Luiz Zveiter, disse que irá aguardar o envio dos documentos pela CPI dos Bingos, no qual Gibão prestou depoimento, para que a procuradoria do tribunal decida o que fazer em relação à nova denúncia.

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