São Paulo – Talvez se engane aquele que imagina ser um inferno a vida de Lewis Hamilton e Fernando Alonso sob o mesmo teto. Os dois pilotos da McLaren, que domingo decidem o título mundial de F1 desta temporada – com o ferrarista Kimi Raikkonen correndo por fora -, disseram ontem em Interlagos que, no fundo, no fundo, gostam da briga em que se meteram.
E estão curtindo a guerra declarada há alguns meses, quando começaram a surgir os primeiros sinais de insatisfação do espanhol diante do que considera um favorecimento do seu time ao pilloto inglês.
?Nós somos pessoas competitivas. É daí que vem nossa energia. Gostamos disso e continuaremos a fazer o que fazemos enquanto pudermos?, disse Hamilton na entrevista coletiva que reuniu os quatro primeiros colocados no campeonato, mas que teve perguntas dirigidas apenas à dupla prateada.
Falando também na primeira pessoa do plural, Alonso concordou com o parceiro. ?Essa é a nossa vida. Nós gostamos de carros e de corridas. E desse conflito, também. Fora da pista, cada um tem uma personalidade e um jeito de viver. Mas na pista é competição aberta, e gostamos disso.?
Pelo comportamento de Hamilton e Alonso ontem, pode-se entender que um armistício verbal foi decretado, pelo menos até que as coisas comecem a se decidir nos 4.309 metros de asfalto novinho em folha de Interlagos. Ambos negaram qualquer inimizade ou que tenham problemas de relacionamento. ?A mídia inventa muita coisa?, disse Lewis. ?Nossa relação é tão boa quanto sempre foi.?
O asturiano, de novo, repetiu as palavras do líder do mundial. ?Estamos lutando na pista, mas fora dela nos damos bem desde o primeiro dia, não mudou nada?.
Alonso tratou de minimizar uma possível derrota, dizendo que a disputa não depende só dele. ?Está fora do meu controle, porque preciso de uma combinação de resultados. Não vai ser fácil, mas vou fazer o que puder.?
Hoje começam os treinos livres para o GP do Brasil, a última etapa do mundial. A primeira sessão está marcada para as 10h e a segunda, para as 14h. Cada treino tem 90 minutos de duração. Amanhã sai o grid, a partir das 14h, mesmo horário da largada, domingo.
Massa: espionagem decidiu a temporada
Flavio Gomes e Bruno Vicaria
São Paulo – Felipe Massa titubeou, mas admitiu ontem que o episódio de espionagem envolvendo Ferrari e McLaren decidiu a temporada 2007. O brasileiro, quarto colocado no campeonato com 86 pontos, afirmou que os dados obtidos ilegalmente pela McLaren sobre a F2007 ajudaram os rivais a crescer durante a temporada.
?Se você tem um carro competitivo e te passam informações que fazem ele ficar mais rápido ainda, isso ajuda. Quando se sabe a estratégia do time concorrente, também?, afirmou o ferrarista.
Massa, que declarou recentemente o apoio ao companheiro Kimi Raikkonen na corrida deste domingo em Interlagos, comentou que só ajudará o parceiro se a dupla da McLaren estiver mal na prova.
?É uma situação complicada. Sete pontos é muita coisa. Para ajudar, depende de o Kimi estar na frente e de os carros da McLaren estarem algumas posições atrás. Não adianta nada ele vencer e um carro da McLaren terminar em terceiro, por exemplo?, continuou. ?Não depende só de mim, mas também de algum azar dos pilotos deles.?
?Meu campeonato já está decidido e o que eu quero é ganhar novamente em casa. Serei bem agressivo?, completou Felipe.
Fino
Curto e grosso, como é de praxe, Kimi Raikkonen comentou sobre a renovação de contrato de seu companheiro Felipe Massa com a Ferrari por mais três anos. Com a habitual sinceridade, o finlandês afirmou: ?Isso não importa nada para mim?. Mas o representante da fria Finlândia tratou de elogiar o colega logo em seguida. ?Temos um bom relacionamento e um sempre exige do outro. É um piloto justo e limpo. Não sei se ele vai me ajudar, mas buscamos sempre uma dobradinha.?
Raikkonen, que parte para a decisão de domingo como azarão, também afirmou que, não fosse os dois problemas enfrentados na Espanha e na Alemanha, poderia ser o líder da competição. ?Tive apenas dois problemas técnicos que me tiraram muitos pontos importantes. Se isso não tivesse acontecido, estaria em uma posição bem melhor no campeonato?, completou Kimi.
?Conexão? com Ayrton Senna
Flavio Gomes
São Paulo – Lewis Hamilton e Fernando Alonso não esconderam ontem sua admiração pelo maior ídolo do automobilismo nacional, Ayrton Senna. E se disseram ?emocionados? por correr na terra do brasileiro, morto num acidente em 1994, durante o GP de San Marino.
Curioso é que nenhum dos dois viu Senna correr ao vivo. Estavam começando a dar suas aceleradas no kart quando do acidente em Ímola. Hamilton tinha 9 anos; Alonso, 13. ?Não sei se há uma conexão espiritual com ele, mas posso dizer que é uma experiência única correr aqui?, falou o inglês. ?Finalmente estou em seu país. É algo tocante?.
Alonso contou que tinha fotos de Senna penduradas na parede de seu quarto quando criança, que ele era seu piloto favorito e ?um exemplo a ser seguido?. ?Quando comecei na F1, era na carreira dele que me espelhava. Por isso gosto de vir para cá. Há uma enorme paixão pela F1 no Brasil?.
Fiscal indesejado
Flavio Gomes
São Paulo – Se pudesse escolher, Fernando Alonso pediria para o presidente da Federação Espanhola de Automobilismo voltar para casa. Carlos Gracia, o dirigente, foi escalado pela FIA para fiscalizar o tratamento que a McLaren dará ao piloto neste fim de semana em Interlagos. ?Não é algo que me deixa confortável?, disse Alonso ontem. ?Não concordo com essa decisão de colocá-lo dentro dos nossos boxes, acho que ele não terá o que fazer lá?.
Fernando jurou que ?confia na equipe?, apesar de tê-la acusado de mexer na pressão dos seus pneus no treino de classificação em Xangai. Ontem, mudou o tom do discurso. ?Isso pode acontecer, prefiro achar que foi coincidência ou falta de sorte?, disse.