O Paraná Clube festejou no último sábado o seu 20.º aniversário. Neste período, o clube coleciona nove títulos, sendo sete estaduais e dois nacionais (da Série B). Além disso, o Tricolor teve, num passado recente, campanhas marcantes no Campeonato Brasileiro da primeira divisão (2003, 2005 e 2006), com direito a uma inédita classificação à Copa Libertadores da América. Sob esse prisma, motivos de sobra para o torcedor se orgulhar. Porém, o quadro atual é marcado por preocupação e desconfiança.
Reflexo evidente das constantes mutações do time. O torcedor se mostra tão carente, que hoje basta um atleta disputar uma dezena de bons jogos com a camisa azul, vermelha e branca que já recebe status de “ídolo”. O exemplo mais recente é o goleiro Zé Carlos, que chegou, conquistou a posição e não precisou de muito para virar unanimidade entre os paranistas. No ano passado, o zagueiro Fabrício (que retornou ao Flamengo) e o atacante Ricardinho (hoje na Coreia) tiveram trajetórias similares.
Não muito tempo atrás, ídolos mesmo eram aqueles jogadores que marcavam história com o manto paranista. Não ao acaso, neste momento de comemorações e lembranças, vêm à mente sempre as mesmas “figuras carimbadas”. Afinal, que torcedor do Paraná deixaria de fora de sua seleção nomes como Régis, João Antônio, Adoílson e Saulo? O clube até tenta “fabricar” novos candidatos a ídolos, como Lúcio Flávio e Ricardinho, moldados na fábrica tricolor.
Só que as carências financeiras vêm abreviando a trajetória dos novos craques. Foi assim, recentemente, com Giuliano e Rodrigo Pimpão. E, há algumas temporadas, cada jogador forjado na base paranista já chega ao profissional como uma verdadeira colcha de retalhos, com percentuais de direitos econômicos espalhados entre diversos proprietários. Mesmo destino já foi dado a Elvis e Bruninho, na luta do clube para sobreviver à falta de recursos e de reais investidores.
A bola da vez para assumir a condição de referência do clube é o atacante Marcelo Toscano, que teve 60% de seus direitos econômicos adquiridos e assinou contrato de três anos e meio com o Paraná. É claro que nem o mais otimista paranista imagina que o artilheiro ficará todo esse tempo no clube. Mas, caso Toscano permaneça mais uma temporada na Vila Capanema já será uma exceção. Mais do que isso: um sinal de que as coisas podem mudar e que o Tricolor passará a não reformular completamente seu elenco a cada temporada (ou duas vezes num mesmo ano, como vem ocorrendo).
Este, a rigor, é o grande desafio do vice de futebol Aramis Tissot. Primeiro presidente da história do clube, ele conduziu a formatação de uma nova estrutura a partir da fusão entre Colorado e Pinheiros. Com dinheiro e bom material humano em mãos, comemorou o primeiro título do Paraná já em 1991. Agora, numa situação adversa, sem capital de giro e relegado à segunda divisão, Tissot trabalha com um grande objetivo em mente: recuperar uma equipe base. Algo que o torcedor não vê há tempos.
“Temos que dar um basta nisso. O Paraná não pode mais viver nessa ciranda de jogadores. Não se cria vínculos, raízes. Vamos mudar isso”, promete o dirigente, que nas últimas semanas definiu seis contratações e a permanência de três jogadores fundamentais, na sua ótica, para o sucesso do projeto: Luís Henrique, Luiz Henrique Camargo e Marcelo Toscano.
