O ano de 1978 foi marcado por grandes esquadrões no futebol paulista. O São Paulo ganhou o Campeonato Brasileiro de 77 em fevereiro daquele ano, diante do Atlético-MG, no Mineirão. O Palmeiras era apontado como o melhor time do Estado na década, com três conquistas estaduais e duas nacionais, enquanto o Corinthians contratava Sócrates para fazer dupla com Palhinha e tentar o bicampeonato regional após jejum de 22 anos.
Mas quem se destacou naquela temporada quarenta anos atrás e ganhou títulos foram dois times baratos formados por jogadores desconhecidos: o Santos, com os jovens talentosos Nilton Batata, Juary, Pita e João Paulo, a primeira geração dos Meninos da Vila, campeão paulista; e o Guarani, o primeiro campeão brasileiro do interior (Campinas), com Capitão, Renato, Careca, Zenon e Bozó.
“O Guarani era um time moderno. Atuávamos com marcação no campo todo. Cada um sabia sua função tática e a executava durante os 90 minutos. Tínhamos um preparo físico espetacular, aliado ao talento de vários jogadores”, disse Careca, camisa 9, que, com 17 anos, se destacava pelo oportunismo, técnica e poder de finalização.
“O Guarani tinha uma zaga forte, que marcava muito. Os laterais Mauro e Miranda sabiam apoiar. E o Neneca era um goleiro experiente, grande demais para a época e seguro”, lembrou o eterno artilheiro bugrino. “O Zé Carlos (volante) tinha experiência (ex-Cruzeiro), era o cérebro do time. Toda segunda-feira ele reunia o grupo na casa dele para a gente lavar a roupa suja e planejar as jogadas que seriam executas”, contou Careca, que defendeu a seleção brasileira nas Copas do Mundo de 1986 e 1990.
“E do meio pra frente, o time era muito velocidade, com variação de jogadas, domínio de bola e finalização. Capitão e Bozó pelas extremas. O Renato (Pé Murcho) fazia dupla comigo no ataque e o Zenon era quem armava tudo no meio e batia falta como ninguém”, acrescentou.
Careca lembrou que o Guarani chegou a ser menosprezado em Porto Alegre antes do jogo com o Internacional pela terceira fase. “Diziam que era ataque de riso por causa de Capitão, Careca e Bozó.” Os gaúchos foram surpreendidos com derrota por 3 a 0 no Beira-Rio, com direito a um gol antológico do meia Zenon. “Como o Internacional adiantou a marcação, lancei para mim mesmo e fiz um dos gols mais bonitos do ano”, relembrou Zenon, que três anos mais tarde jogaria pelo Corinthians.
Zenon voltaria a se destacar na semifinal, ao marcar dois golaços, um de falta, contra o Vasco, no Maracanã, na vitória por 2 a 1, com 101 mil vascaínos nas arquibancadas. “Acho que esse foi o maior jogo que fizemos naquele brasileiro”, disse Careca. “Saí no segundo tempo com o joelho inchado de tanto pontapé que levei”, disse o atacante, que anos depois foi fazer dupla com Maradona no Napoli, da Itália, depois do São Paulo.
Por fim, o título brasileiro veio após duas vitórias sobre o Palmeiras. A primeira, no Morumbi, teve participação direta de Careca, que cavou pênalti. “O Leão defendeu chute em dois tempos e eu encostei nele e falei algumas coisas. Ele se irritou e me empurrou. O Arnaldo (Cesar Coelho, árbitro) viu e marcou. Expulsou o Leão.” Zenon cobrou sem chances para Escurinho, atacante que foi para o gol, pois o time rival havia feito duas substituições possíveis. Em 32 jogos, o Guarani ganhou 20, empatou oito e perdeu quatro vezes. Careca e Zenon foram os artilheiros, com 13 gols.