Guga comemora vitória sobre Lopes e vaga nas quartas-de-final. |
Paris – Roland Garros e Paris transformaram-se em palavras mágicas para Gustavo Kuerten. Afinal, depois de amargar uma das piores fases de sua carreira, ele ressurgiu com ânimo e emoção para ganhar um lugar nas quartas-de-final do torneio, depois de vencer mais um jogo em três sets. Marcou 6/3, 7/5 e 6/4 no espanhol Feliciano Lopez em apenas 1h57 de jogo. O forte grito de “vamos” no final mostrou a nova cara de Guga. Revelou que está na briga por um título de Grand Slam, relembrando a façanha de sete anos atrás.
“A cada dia, a cada vitória, estou vivendo um sonho”, afirmou Guga. “É como se fosse em 1997, como a primeira vez em que cheguei às quartas-de-final. Afinal, se olhar para trás, não poderia pensar em chegar em Roland Garros e ir tão longe.”
Se as perspectivas eram remotas este ano, Guga vive agora uma certeza em Roland Garros. Está em seu melhor momento depois da cirurgia no quadril, realizada há dois anos. “Chegar às semifinais seria um grande sonho”, admitiu.
Para alcançar mais este sonho, Guga terá de passar pelo forte argentino David Nalbandian. Mas confia no seu jogo e, especialmente, na sua maior experiência. “Tenho agora mais consciência das minhas virtudes e dos meus problemas”, contou. “Sei bem dos atalhos que posso tomar para chegar a um bom resultado.”
Estes “atalhos” Guga vem usando com eficiência. Até agora, não se desgastou muito para chegar às quartas-de-final. Apesar de no primeiro jogo ter disputado cinco sets, em 3h07, ficou praticamente duas séries sem correr muito, apenas se poupando para dar o bote final sobre o espanhol Nicolas Almagro.
Depois, diante do belga Gilles Elsenner, o brasileiro venceu em 1h28. Em seguida, passou pelo suíço Roger Federer em 2h03. E agora, eliminou Feliciano Lopez em 1h52 de jogo. No total, ficou 8h30 em quadra. Em Roland Garros, existe uma lenda: são necessários 30 horas para se ganhar o título. Se Guga continuar no seu caminho rápido, poderá contrariar a tradição, nestas três partidas que ainda faltariam para o tetracampeonato.
“Não quero ficar pensando em título ainda”, avisou Guga. “Para mim não seria bom mudar o meu foco. Acho que tenho de pensar jogo a jogo. Está dando certo assim.”
Nalbandian elogia Kuerten
Paris – Também no tênis – assim como o futebol -o Brasil vai enfrentar a Argentina amanhã. Em Roland Garros, o próximo duelo de Gustavo Kuerten, valendo vaga para uma das semifinais, será diante de David Nalbandian, ex-finalista em Wimbledon, número 8 do ranking e que vem em busca de seu primeiro título em Paris. O tenista argentino não deixa dúvidas de sua força. Derrotou Marat Safin por 7/5, 6/4, 6/7 (7/5) e 6/3. Apesar de poder ser apontado como favorito, mostrou muito respeito a Guga.
“Ele (Guga) pode não estar em suas melhores condições, mas é um dos melhores do mundo no saibro, ainda mais jogando em Paris”, admitiu Nalbandian.
Para Nalbandian, que sequer sabia que haveria Brasil x Argentina pelas eliminatórias da Copa, a esperança é de fazer 2 a 0 na quarta-feira. Enquanto isso, Guga, por ironia, disse que para ele “meio a zero” já seria o suficiente para a seleção brasileira. “O importante é marcar três pontos”.
A Argentina já colocou quatro tenistas nas quartas-de-final. Além de Nalbandian, estão também classificados Gaston Gaudio, que eliminou Igor Andreev por 6/4, 7/5 e 6/3, Juan Ignacio Chela e Guillermo Coria, que jogam nesta terça-feira. Em outro jogo de hoje, Lleyton Hewitt superou Xavier Malisse por 7/5, 6/2 e 7/6 (8/6).
A rodada de hoje terá Jennifer Capriati com Serena Williams, Amelie Mauresmo x Elena Dementieve, e Tim Henman x Juan Ignacio Chela, na central. Na Suzanne Lenglen jogam Paola Suarez x Maria Sharapova, Anastasia Myskina x Venus Williams e Carlos Moya x Guillermo Coria.
Barcelona mudou a história
Paris – O abandono de Gustavo Kuerten na partida diante de Gaston Gaudio, no torneio de Barcelona, há um mês, serviu como um aviso. Guga precisaria fazer algo de novo para recuperar o seu bom tênis, a regularidade e ter condições físicas de brigar pelas vitórias.
“Tinha de parar”, confessou Guga. “Foi um aviso. E tomei consciência das coisas que precisaria fazer.” Desde a cirurgia no quadril, há dois anos, Guga vem lutando com seu físico. A decisão de jogar torneio atrás de torneio, jamais lhe deu tempo e condições para fazer uma reabilitação adequada. Mas, em Barcelona viu uma outra realidade. Passou pelo médico da Federação Espanhola de Tênis, Angel Ruiz-Gottorro, que lhe disse uma verdade: “tênis não lhe falta, o que precisa é físico”.
Guga passou, então, a lutar contra o tempo. Chamou a sua fisioterapeuta Mariângela Lima, contou com orientação médica e iniciou a reabilitação, abdicando de treinar tantas horas como fazia antes. “O mais difícil para mim agora é encontrar este equilíbrio. De quantas horas devo treinar e ficar disputando torneios. Só tenho uma certeza: a recuperação será lenta e demorada.”
Ainda neste estágio, Guga não conseguiu se livrar das dores. Por isso, vem chamando com frequência a assistência do fisioterapeuta nas partidas. “Peço para passar um creme que mantém a musculatura aquecida e alivia a dor”, diz. “De resto tenho sempre de cumprir uma rotina, de massagens, relaxamento e fisioterapia.”