O Grêmio enfrenta o maior desafio de sua história. O time precisa ganhar do Boca Juniors por quatro gols de diferença, às 21h45, no Estádio Olímpico, para ser campeão da Libertadores pela terceira vez – ou pelo menos por três gols, para levar a decisão à prorrogação e, se for o caso, aos pênaltis. A missão parece impossível, mas ninguém admite jogar só para cumprir tabela. "Aqui ninguém pensa em vice-campeonato", disse ontem o técnico Mano Menezes em concorrida entrevista para cerca de 60 jornalistas do Japão e de diversos países da América Latina.
Os torcedores prometem lotar o Olímpico porque sabem que, se tudo der certo terão presenciado um jogo histórico, daqueles que serão citados por muitos e muitos anos como exemplo de superação e de heroísmo – uma espécie de "Batalha dos Aflitos", a épica vitória sobre o Náutico na fase final da Série B, em 2005, em versão revista e muito melhorada
Se o Boca Juniors for campeão pela sexta vez, como tudo indica, haverá o consolo de lembrar que era mesmo difícil reverter os 3 a 0 que os argentinos fizeram em Buenos Aires. "Acho quase impossível, mas ainda acredito", resume o motorista João Batista Pires, com ingresso na mão.
Dos 47 mil bilhetes vendidos, apenas 2.700 foram destinados aos argentinos. A fé dos gremistas está inspirada na história do clube, que tem uma trajetória de conquistas muito sofridas – a maior delas nos Aflitos, com sete jogadores em campo, mas não a única. Na primeira Libertadores, em 1983, entrou para a história a cena do capitão De León erguendo a taça com o sangue escorrendo pela cabeça. Só neste ano, o time obteve uma vitória por 4 a 0 contra o Caxias, resultado necessário para reverter um 3 a 0 e ir à final do Campeonato Gaúcho, e eliminou São Paulo e Defensor na Libertadores após derrotas no jogo de ida.
Mano Menezes admite que sua fé é resultado dessa trajetória. "Isso nos leva a crer, como o torcedor, que dá para fazer um grande jogo e reverter a expectativa estabelecida depois dos 3 a 0 que sofremos lá". Como a semana é decisiva, o treinador tratou de esconder todas as pistas sobre sua estratégia. Deu a entender apenas que tratará de anular o craque Riquelme sem recorrer a marcação individual, e pedirá aos jogadores que evitem cometer faltas desnecessárias para não oferecer a jogada de bola parada a um adversário eficiente neste quesito. "Cuidaremos do Boca como um todo", garante. "E seremos mais audaciosos", promete.
A única alteração do time será a substituição do volante Sandro Goiano, suspenso, por Lucas. O ideal é chegar ao final do primeiro tempo com vantagem no placar. Se isso não ocorrer, Mano pode substituir o lateral-direito Patrício pelo atacante Amoroso no segundo tempo. "Estamos preparados para tudo, inclusive para tomar um gol e lembrar que o jogo tem 90 minutos", comentou o treinador, revelando, nas entrelinhas, que o time terá, ao mesmo tempo, de jogar com velocidade, mas pressa e afobação.