Grêmio apela pra Duarte

Porto Alegre – A contratação de Cláudio Duarte para substituir Cuca, anunciada ontem, é a sexta tentativa que o Grêmio faz, em 18 meses, para reencontrar o caminho das vitórias com a troca de técnico. Chamado tanto pelo Grêmio quanto pelo Internacional em situações de desespero, desta vez Cláudio já chega sem obrigações. A torcida não acredita mais que o time vá conseguir seis vitórias nos oito jogos que faltam, consideradas a necessidade mínima para escapar do rebaixamento no Campeonato Brasileiro. “Acabou, acabou”, conforma-se o vendedor ambulante Sérgio de Souza. “Não temos jogadores para tantas vitórias”, avalia o motorista José Kempler da Rocha.

O discurso dos dirigentes já é de resignação com a desgraça. O presidente Flávio Obino fala em “vencer mais este desafio” sem muito convicção. O vice-presidente de futebol Hélio Dourado diz que acredita na reviravolta, mas fala em “dever cumprido” para lembrar que assumiu o cargo quando diversos outros convidados recusavam a tarefa, para evitar o desgaste da tragédia que se anunciava.

No campo, os jogadores não esboçam qualquer sentimento de indignação e deixam-se abater diante da primeira adversidade. Um gol do adversário no início do jogo é suficiente para o time se entregar, como ocorreu em Belo Horizonte, na derrota para o Cruzeiro, por 2 a 0, na terça-feira.

Foi este estado de espírito e uma incontestável falta de qualidade técnica que fizeram alguns treinadores desistirem no meio do caminho. Tanto Plein quanto Cuca saíram dizendo que não conseguiam mais tirar nada do grupo. Cláudio sabe que não tem muitos recursos à mão e vai apelar para novas fórmulas do mesmo discurso motivador. “Sempre se pode tirar algo mais”, afirmou, ao chegar ao clube. “Depende da forma como se enfrenta a situação.”

Currículo, pelo menos, o técnico tem. Em 2002 livrou o Internacional da segunda divisão. Em 1989 foi chamado pelo Grêmio para resolver outro caso complicado. O clube ia mal no campeonato gaúcho e cairia para a segunda divisão se não vencesse o Glória, em Vacaria. Conseguiu a vitória, embalou e acabou campeão. Só que, naquela vez, chegaram com Cláudio alguns jogadores experimentados como o zagueiro Edinho e o volante Jandir.

Se a esperança atual está depositada no carisma de Cláudio Duarte, a explicação para a decadência está na crise financeira. Depois da eliminação da Copa Libertadores da América em 2003, o clube optou pela contenção de gastos para começar a reduzir a dívida de R$ 96 milhões.

Foram-se os vencedores Tite, Anderson Lima, Anderson Polga, Tinga e Rodrigo Fabri e também acabaram-se os tempos gloriosos que garantiram a média de um título por ano, uma das melhores do mundo, entre 1977 e 2001, e participação em fases decisivas em competições importantes como o campeonato brasileiro de 2002 e a Libertadores de 2002 e 2003.

Ficaram alguns jovens promissores, que nunca confirmaram, como Élton e Marcelinho, e passaram a chegar desconhecidos. Somente neste ano passaram pelo Olímpico 44 jogadores, até um centroavante envolvido em problemas com a justiça panamenha, o desconhecido Garcez, que nem chegou a vestir a camisa tricolor.

Para o vice-presidente de futebol Hélio Dourado, o clube, a exemplo de outros do futebol brasileiro, não estava preparado para as exigências da Lei Pelé. “No modelo antigo, quando o clube estava em dificuldades financeiras podia vender um jogador”, compara, admitindo que há grande diferença entre o time de antes da debandada de 2003 e o atual, resultado da falta de condições para atrair bons jogadores.

Em meio a tanto sofrimento, o Grêmio escapou da segunda divisão na última rodada do ano passado, quando o técnico era Adilson Batista. “Claudio pode dar o choque que o time precisa”, acredita Dourado, na última aposta deste ano e na esperança de que o milagre se repita.

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