Paulo Autuori é a sombra de Muricy Ramalho no São Paulo. Conselheiros corintianos lamentam não ter esperado uma semana para poder contratar Abel Braga. Geninho não quis o Atlético-MG. Emerson Leão desdenhou propostas de Sport Recife e Goiás. Nunca o Brasileirão começou com tantos treinadores de ponta sem trabalho. De prestígio, só Vanderlei Luxemburgo está tranqüilo no Santos.?Avisa à reportagem que estou em Búzios com a minha filha e quero ficar um tempo sem pensar em futebol. Depois, quando voltar a trabalhar, eu dou entrevista?, informou Paulo Autuori à sua assessoria de imprensa.
?Entrevista? Hum… Paiê… Você vai falar? (pergunta). Não? Olha, esse telefone não é do Abel Braga, não?, disse, sem nenhuma convicção, Rafael, filho do técnico. Os dois melhores treinadores sem trabalho têm a mesma postura. Sabem que o momento é de recolhimento, de silenciar, de estudar o que pode ser melhor no mercado nacional. Autuori não pode falar no São Paulo abertamente. Nem Abel pode se oferecer ao Corinthians, que começa o Brasileiro com Paulo César Carpegiani. Geninho também está sem dar entrevistas e recusou o Atlético-MG esperando coisa melhor.
Só Leão aceitou falar para a televisão. Precisa passar a imagem que não foi responsável pelos fracassos do Palmeiras e do Corinthians. Aproveitou para denunciar que o clube do Parque São Jorge lhe devia R$ 2 milhões.
Os nomes desse quarteto já estavam presentes nas listas de conselheiros e diretores antes mesmo de o Brasileirão começar. Times populares e de tradição comandados por treinadores sem conquistas significativas já começam a competição sob suspeita. Bastarão alguns tropeços para sentir a pressão comum ao cargo. ?É normal que o técnico de currículo recheado pressione de uma forma indireta os novatos. Até mesmo pela própria opinião da mídia?, analisa o treinador pentacampeão do mundo e atual técnico de Portugal, Luiz Felipe Scolari.
Muricy Ramalho, Paulo Cesar Carpegiani, Caio Jr., Celso Roth, Renato Gaúcho, Gallo e Dorival Jr. terão de mostrar resultados e precisam se policiar nas declarações.
Há hoje boa mão-de-obra à disposição. Mas Felipão insiste em que a questão não pode virar paranóia. ?O técnico – novo ou experiente – não tem que se preocupar com quem está fora e, sim, em fazer bem o seu trabalho?, aconselha.
Uma medida que poderia diminuir essa expectativa de mudança de treinador seria seguir o exemplo da Itália.
Lá, o técnico pode trabalhar somente em uma equipe durante toda a emporada.
Isso faria com que os dirigentes pensassem bem antes de contratar e demitir. ?Seria bom para todos
se o clube e o treinador cumprissem os contratos.
E quem rompesse com o acordo, que pagasse a multa. Se fosse o técnico, ele ainda ficaria sem trabalhar no período do acordo?, diz Felipão. Mas essa realidade está muito longe do que acontece no futebol brasileiro. Perdeu, saiu. E o desemprego do quarteto deverá ser mais curto do que todos imaginam.