O governo brasileiro deve anunciar nesta sexta-feira o reforço da segurança no Maracanã e ampliar o período em que os estádios estarão sob proteção. Reuniões de emergência foram convocadas no Rio de Janeiro e, ainda nesta sexta, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, viaja até a capital carioca para tentar bater o martelo sobre o novo esquema.
Depois de gastar mais de R$ 1 bilhão com a segurança e mais de 100 mil homens, o governo pode ser obrigado a elevar o efetivo diante de invasões de estádios. O que não está definido é se o reforço ocorrerá com a PM do Rio ou o Exército.
A relação entre Fifa e governo voltou a estremecer e Cardozo vai deixar claro para a entidade que não aceita ser responsabilizado sozinho pelos problemas. Nesta quinta, a Fifa chamou a invasão de dezenas de torcedores chilenos no Maracanã de “vergonhosa”, culpando o governo brasileiro pela falta de segurança fora do estádio. O governo insiste que a responsabilidade é dos vigias contratados pela Fifa – que deveriam garantir a segurança dentro do estádio. A percepção de Brasília é que a entidade está tentando passar a responsabilidade do caos para o governo.
Existe, segundo a Fifa, três falhas no Rio. O perímetro no entorno do estádio não estava sendo suficiente e centenas de pessoas sem ingressos estavam onde não deveriam chegar. A saída do metrô no Maracanã é outro ponto frágil, além da falta de capacidade do policiamento em identificar grupos de risco, muitos dos quais passavam as barreiras usando ingressos antigos ou até do carnaval.
Agora, tanto Fifa quanto governo admitem que haverá um “realinhamento” da estratégia de segurança, principalmente diante do fato de que o Maracanã é o estádio da final e que, para o jogo, estão sendo aguardados diversos chefes de estado, entre eles Dilma Rousseff e Vladimir Putin.
MEDIDAS – Andrey Passos Rodrigues, secretário extraordinário de Segurança para Grandes Eventos, admitiu que a utilização do Exército está sobre a mesa e, ainda na quinta, comandantes das Forças Armadas estiveram no Maracanã. Mas a Fifa resiste a essa opção, temendo uma imagem de uma Copa “militarizada. A opção seria uma utilização mais contundente da Polícia Militar do Rio.
Outra medida seria ampliar de quatro para seis horas o período de operações em um estádio, antes da bola rolar. Atualmente, quatro horas antes de um jogo, policiais são colocados nas proximidades do estádio, teoricamente impedindo a chegada no local de pessoas sem entradas. Mas muitos torcedores sem ingressos estão se concentrando nos portões antes mesmo de a polícia desembarcar.
Oficialmente, ninguém quis assumir publicamente a falha na segurança no acesso ao Maracanã. “Não tivemos nenhum incidente no interior do estádio que comprometesse o evento, embora nós tivemos o problema da invasão”, disse Hilário Medeiros, chefe de segurança do COL e que indicou que mil homens trabalharam na operação. “Vamos passar por uma readequação para impedir que isso volte a ocorrer”, disse.
O governo também se isentou de qualquer responsabilidade em sua área. “Até o momento não houve nenhum incidente de maior gravidade. O único a usar uma declaração mais forte foi o chefe de segurança da Fifa, Ralf Mutschke, que definiu como “vergonhosa” a invasão dos torcedores chilenos. Questionado se houve falhas, ele apenas levantou os braços, rindo. Até agora, 288 atos de violência foram detectados na Copa, 77 pessoas foram impedidas de entrar no país e 21 cambistas foram presos.
Um informe feito pela Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados uma semana antes da Copa e enviado ao Rio de Janeiro também detectou sérias falhas na preparação. O deputado Protógenes Queiroz fez a vistoria e constatou que os policiais apenas começam a aprender a usar os equipamentos adquiridos no sofisticado Centro de Controle no Rio.