“Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. Este trecho de uma música tão conhecida no Brasil nunca coube tão bem ao atual momento do futebol brasileiro. A derrota acachapante para a Alemanha por 7×1, anteontem, pela semifinal da Copa do Mundo, no Mineirão, escancarou a fragilidade e a crise que vive o país do futebol. Com mudanças nos comandantes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), mas com a mesma ideologia política, o vexame brasileiro diante da seleção alemã nada mais foi do que a constatação da falta de planejamento e da deterioração que está passando o futebol brasileiro.
A CBF, apesar de trocar seu regente nos últimos anos, tem sempre ligada ao seu nome escândalos de corrupção e falta de transparência nas suas principais diretrizes. Depois de substituir Ricardo Teixeira, José Maria Marín dará vaga para o seu vice, Marco Polo Del Nero, a partir do ano que vem. A eleição, coincidência ou não, aconteceu antes do Mundial e somente as federações paranaense e gaúcha votaram em branco. Ou seja, o atual comando do futebol nacional tem a anuência quase que total das federações que regem o esporte mais praticado no Brasil.
“Nosso futebol vem se deteriorando há anos, sendo sugado por cartolas que não têm talento para fazer sequer uma embaixadinha. Ficam dos seus camarotes de luxo nos estádios brindando os milhões que entram em suas contas. Um bando de ladrões, corruptos e quadrilheiros. Estou há quatro anos pregando no deserto sobre os problemas da Confederação Brasileira de Futebol, uma instituição corrupta gerindo um patrimônio de altíssimo valor de mercado”, disse um trecho do texto publicado pelo ex-jogador de futebol e deputado federal Romário.
Para o comentarista esportivo Carneiro Neto, o futebol brasileiro, a partir de agora, precisa se reestruturar e a criação de uma liga dos clubes, como já acontece na Europa, seria o ponto de partida para o fortalecimento do futebol nacional. “O futebol brasileiro precisa renascer das suas próprias cinzas, como na famosa lenda da Fênix. O futebol brasileiro precisa passar por uma reforma estrutural. É preciso criar uma liga dos clubes, com a contratação de executivos competentes. As categorias de base não podem mais ficar escondidas, com os times atuando nas épocas ruins do ano. A mudança da Lei Pelé é importante, pois são os empresários dos jogadores que comandam, já que eles começam a empurrar os jogadores para dirigentes incompetentes e sem conhecimento”, explicou.
As mudanças, para o comentarista Valmir Gomes, terão que acontecer de cima para baixo, a começar pela mudança no comando da CBF. “É preciso arrumar a casa, do teto ao piso. A CBF é milionária, tem muito dinheiro, e os clubes são na sua maioria devedores, mesmo com as verbas de televisão. A mudança tem que partir da cúpula da CBF. Uma porção de coisas desemboca em uma seleção mais forte, partindo do princípio que os clubes precisam se organizar, desde as suas categorias de base até o profissional. A Alemanha fez isso nos últimos anos e está colhendo os resultados agora”, acrescentou.
Além de todas as mudanças estruturais, é preciso também investir nos treinadores do futebol brasileiro a exemplo do que acontece na Europa, ofertando aos profissionais cursos de capacitação para o desenvolvimento dos técnicos de futebol. “Os treinadores precisam se reciclar. Hoje não temos um técnico no comando de times de ponta de fora do país ou treinando seleções de fora. Os treinadores estão todos defasados, com exceção de alguns novos que estão surgindo procurando estudar e se inteirar sobre táticas. É preciso mudar, principalmente o comando da CBF. Os que lideram são sempre os mesmos, infelizmente”, arrematou o ex-jogador e comen,tarista, Sicupira.