Depois de três dias de reuniões por videoconferência, os clubes da Série A do Campeonato Brasileiro praticamente não conseguiram mudar condições apresentadas pelo Grupo Globo e aceitaram a redução de até 70% no repasse feito pela emissora, dona dos direitos de transmissão do torneio, em abril, maio e junho.
O máximo de sucesso que tiveram foi fazer com que a emissora reduza 60% em abril, não mais 70%, como ocorrerá em maio e junho.
O aceite tem dois motivos: o aperto financeiro em que as agremiações se encontram, com a paralisação das atividades diante da pandemia da Covid-19, e o receio de a Globo ir à Justiça para suspender o contrato até que o Brasileiro comece, algo que ainda não tem data para acontecer.
De abril a junho deste ano, as 20 equipes que estarão na elite do país deveriam receber R$ 1,5 milhão cada uma por mês, pelos direitos de exibição das partidas em TV aberta.
Diante da crise, porém, a Globo enviou carta com a proposta de pagar R$ 396.768,75 nos meses de abril, maio e julho. A partir de julho, as mensalidades passariam para R$ 1.124.178,13.
Na quarta-feira (29), os dirigentes fizeram uma contraproposta. A Globo se manteve irredutível e concordou apenas com o aumento da prestação de abril, compensada pela diminuição das de maio e junho. Em vez de pagar R$ 396,7 mil neste mês, a emissora irá repassar R$ 449,6 mil. Já em maio e junho, as prestações serão de R$ 337,2 mil.
“Não é possível ainda dimensionar a extensão dos danos já provocados ou calcular todas as consequências futuras da crise deflagrada pela pandemia [do coronavírus]. A temporada 2020 do Campeonato Brasileiro deveria ter início no dia 2 de maio, mas tudo indica que será adiada, sendo impossível no momento prever quando se iniciará”, diz o texto enviado pela emissora aos clubes.
Ressalta ainda que, como é impossível prever o que vai acontecer nos próximos meses, a pandemia pode “demandar novos ajustes nas obrigações contratuais”.
Pelo contrato assinado com as equipes até 2024, a empresa paga por ano R$ 600 milhões pela transmissão em TV aberta, divididos da seguinte forma: 40% (R$ 240 milhões) distribuídos de maneira igualitária, 30% (R$ 180 milhões) de acordo com a classificação no campeonato e outros 30% segundo o número de jogos transmitidos.
De receita fixa, cada uma das 20 agremiações tem direito a R$ 12 milhões anuais, com parcelas de valores variáveis dependendo do mês.
Em reuniões realizadas entre executivos e cartolas, a explicação da Globo foi que a proposta não prevê diminuição no valor total do contrato, mas uma mudança nas prestações. O grupo já havia pago normalmente os três primeiros meses do ano.
O contrato de pay-per-view não deverá sofrer modificação por enquanto, bem como o da Copa do Brasil.
Há estados, no entanto, em que a Globo ainda não quitou todas as parcelas dos torneios regionais. Em São Paulo, por exemplo, falta um depósito não pago, já que o Paulista foi paralisado em 16 de março. Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos ainda têm a receber cerca de R$ 5 milhões cada um.
Do saldo a ser quitado dos estaduais, a Globo oferece pagar 10% no início de maio, 15% quando o torneio voltar a ser jogado e os 75% restantes ao término dele.
A emissora também autoriza que os contratos de televisionamento sejam oferecidos como garantia em empréstimos bancários, algo que alguns clubes já haviam feito.
À reportagem a assessoria de imprensa da Globo disse que tem analisado todos os impactos e se debruçado sobre possíveis alternativas para superar a crise. Por isso, montou a fórmula das prestações pagas aos clubes.
Leia abaixo a nota enviada pela Globo “Desde a suspensão das competições, a Globo tem analisado de perto todos os impactos da pandemia no ecossistema do futebol e se debruçado sobre possíveis alternativas para superarmos esta crise. Assim, desenvolvemos um novo cronograma de pagamentos para 2020, que abrange os clubes com os quais temos acordos para a Série A; à CBF, referente aos acordos da Série B e da Copa do Brasil; e às Federações com as quais temos contrato para a transmissão de Estaduais. O cronograma de repasse da receita do Premiere para os Clubes da Série A se mantém inalterado até que o novo calendário seja confirmado.
Esse movimento reflete um esforço da Globo na tentativa de contribuir com o futebol durante os meses de crise, ainda sem conhecimento pleno dos impactos da pandemia nas nossas atividades, que podem gerar a necessidade de novos ajustes. É um cenário extremamente desafiador e com impactos importantes para todos. Somos otimistas e acreditamos na retomada do nosso futebol em breve, desde que com segurança para todos, não só pelo conteúdo que ele gera ao público em todas as plataformas, mas pela alegria e emoção que representa em um momento tão difícil para o Brasil.”
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