Um voto. Apenas um voto decidiu a mais acirrada eleição da história do Coritiba. O presidente Giovani Gionédis foi reeleito com o voto de 67 conselheiros, contra 66 do oposicionista José Antônio Fontoura. A disputa de ontem ainda não terminou, pois os derrotados querem a impugnação de nove votos. Já Gionédis, que parte para o terceiro mandato, já pensa no futebol para 2006, e deve anunciar até amanhã a permanência de Márcio Araújo no comando técnico.
A grande polêmica da eleição foi a autorização para o voto dos atuais dirigentes. Segundo a oposição, o estatuto do Coritiba, no artigo 133, diz que os integrantes da Diretoria Executiva não poderiam votar, porque estão licenciados do Conselho de Administração. ?Somente os integrantes do Conselho podem votar. Eles precisariam renunciar para votar?, reclamava o candidato Júlio Militão da Silva. ?Na primeira eleição do Gionédis, toda a minha diretoria renunciou. Eu fiquei sozinho e não votei?, contou o ex-presidente Francisco Araújo.
A situação contra-atacava com duas teses. A primeira era de que a reunião de ontem não era ordinária, ao contrário do que dizia a oposição. ?Esta é uma reunião especial do Conselho, com objetivo apenas de realizar a eleição?, disse o presidente. A outra era de semântica. ?Se eu estou licenciado, porque minha candidatura foi autorizada? Se eu posso ser candidato, eu posso votar?, atirou Gionédis.
Com a decisão apertada, os dois lados se consideraram vencedores. ?Nós temos como certo, pelo estatuto do Coritiba, que os atuais dirigentes não podem voltar?, afirmou Tico Fontoura, que pretende se reunir com seus correligionários antes de anunciar a decisão de seguir ou não na tentativa de impugnação da eleição junto ao Conselho de Administração. ?Quero conversar com meus amigos. Minha gestão é compartilhada, e nós vamos decidir em conjunto?, disse. ?A decisão de recorrer é livre, mas acho que isto é um ato ainda no calor da eleição?, rebateu Gionédis.
Já preocupado com o futuro alviverde para 2006, o presidente confirmou que a definição do treinador para a próxima temporada não deve demorar. ?O Campeonato Paranaense começa no dia 11, e não podemos perder tempo. A decisão não passa de quarta-feira (amanhã)?.
Mas a tendência é que Márcio Araújo continue. O treinador, que mora no hotel onde foi realizada a eleição, esteve presente durante a votação. ?Ele fez um ótimo trabalho, e deve ser mantido. Mas quero ouvir os outros membros da diretoria?, disse Gionédis, que inclui neste rol o novo gerente de futebol Almir Zanchi, o coordenador-técnico Odivonsir Frega e até o já anunciado assessor da presidência José Hidalgo Neto.
Militão
A mesma diferença que deu a vitória para a situação na Diretoria Executiva foi suficiente para fazer o advogado Júlio Militão da Silva, da oposição, ser eleito o presidente do Conselho de Administração – o resultado também foi 67×66. Na eleição para o Conselho Fiscal, foram escolhidos André Gonçalves, Gustavo Hauer, Roberto Freitas, Giselda Crivelli e Simão Blinder.
?Zona eleitoral? toma conta da Ângelo Sampaio
A movimentação no hotel Mercure começou durante a tarde. Correligionários das duas chapas buscavam os últimos apoios, enquanto moças com adesivos e camisetas dos dois candidatos entregavam papéis com propostas para quem passasse por ali. O clima era de uma zona eleitoral – boca-de-urna explícita e implícita e até o batuque da torcida organizada. A rua Ângelo Sampaio, que teve o trânsito complicado, virou um reduto alviverde, e alguns torcedores rivais aproveitaram para fazer gozações por conta do rebaixamento.
Antes mesmo do horário previsto para o início da votação havia clima de disputa. A oposição tentava impedir os membros da atual Diretoria Executiva de votar, pelo fato de eles teoricamente estarem afastados do Conselho de Administração -os ?cardeais? votaram, mas a contragosto dos oposicionistas. Houve conversas mais acaloradas, mas o ambiente logo ficou desanuviado. A tristeza pelo rebaixamento, tanto do grupo do presidente Giovani Gionédis quanto do candidato José Antônio Fontoura, era evidente.
Por volta das 18h30, foi definido que o voto seria secreto. Os jornalistas ficaram em uma sala anexa, enquanto os fotógrafos e cinegrafistas só tiveram acesso aos votos de Fontoura e Gionédis. A votação seguiu por mais de duas horas, com longas filas na porta do salão Picasso, onde estava montada a ?seção eleitoral?.
Muitas pessoas ligadas à história do clube e nomes da política estavam presentes para votar. O prefeito de Pato Branco, Alceni Guerra, e os vereadores de Curitiba Luís Felipe Braga Cortes, Sérgio Ribeiro e Tito Zeglin ficaram na fila. Já os ex-presidentes tiveram o acesso mais facilitado. Dois deles, Marcos Hauer e Francisco Araújo, estavam na oposição. Evangelino da Costa Neves, bastante abalado, apoiava Gionédis. Além deles, estiveram no Mercure Sérgio Prosdócimo, João Jacob Mehl, Joel Malucelli, Édison Mauad e Arion Cornelsen. Eram oito ex-presidentes