Gilmar Rinaldi vai acionar o governo para manter jovens craques no Brasil

Gilmar Rinaldi, coordenador de seleções da CBF, vai pedir ajuda do governo para tentar impedir que jovens jogadores deixem o País muito cedo para atuar no futebol estrangeiro. Esse é um dos próximos projetos do dirigente, que completou um ano na CBF na última semana. Ao fazer um balanço sobre o período, em entrevista exclusiva, ele considerou que o seu trabalho, junto com a comissão técnica comandada por Dunga, foi acima do esperado, baseando-se nas 11 vitórias que obteve em amistosos.

Gilmar, porém, acha que os jogadores da seleção brasileira precisam se adaptar ao “fair play negativo do futebol sul-americano” para ter um bom rendimento nas Eliminatórias. “A única forma de pegar experiência é no campo. É ir lá e apanhar”, disse o dirigente da CBF.

Agência Estado – Qual é o balanço de um ano como coordenador de seleções na CBF?

Gilmar Rinaldi – A primeira radiografia que busquei para fazer foi na base. Depois de um tempo, Dunga e eu começamos a tomar algumas filosofias de mudança. É a filosofia da meritocracia. Na seleção brasileira tem que chegar à excelência, o melhor.

AE – A demissão de Gallo teve a ver com essa filosofia?

Gilmar Rinaldi – Quando você vai fazer uma convocação, o médico liga para o médico do clube para ver se o jogador está bem, o treinador para treinador. Eu identifiquei que não estava sendo feita uma coisa. Então falei para o presidente: eu acho que tem que ser a mudança agora, apesar do desgaste, estou convicto.

AE – Com o que você não concordou?

Gilmar Rinaldi – Convocamos um atleta do Grêmio (Matheus Biteco), que estava sem jogar desde novembro, com uma carta de ameaça de uma empresa que tem os direitos dele. Se a lesão se agravasse, a CBF seria responsabilizada. Não foi feita a checagem.

AE – Pode fazer um balanço da seleção principal nesse período?

Gilmar Rinaldi – Pegamos uma seleção vindo do 7 a 1. Sabíamos que precisávamos trabalhar para retomar a autoconfiança. E aí nós criamos uma relação muito boa e começaram a vir os resultados. A gente tem de reconhecer que foram melhores do que o esperado. Não se esperava 11 vitórias. Houve erros, mas são internos. Não temos prepotência de achar que vamos acertar sempre.

AE – Qual é sua avaliação do Brasil na Copa América?

Gilmar Rinaldi – Perdemos algumas referências. A lesão do Luiz Gustavo, jogador muito importante, depois a do Danilo, a do Oscar e a ausência do Neymar, 40% do time. Tentamos mostrar ao time que na Copa América há uma condição muito especial, parecida com a Eliminatória. Nossos jogadores saíram daqui muito cedo. Estão acostumados com tudo certinho e aqui (na América do Sul) não tem nada de certinho.

AE – O Neymar foi repreendido após a confusão contra a Colômbia?

Gilmar Rinaldi – Não é repreendido. Ele já tem 23 anos. Ele quis ficar e foi punido (pela Conmebol). Mas ele amadureceu muito.

AE – Por que não recorreram da punição do Neymar?

Gilmar Rinaldi – A parte jurídica não é da minha alçada. A permanência dele ou não com o grupo foi decidida por mim e pelo Dunga. É a parte que nos compete junto com o Neymar.

AE – Depois da Copa América houve muitas críticas quanto à qualidade dos jogadores. Qual é sua visão?

Gilmar Rinaldi – Nossos jogadores estão nos maiores clubes do mundo. Temos jogadores de muita qualidade que saíram muito cedo e que tentam criar identidade com o nosso País. O que têm de fazer é se adaptar ao futebol sul-americano.

AE – O que é preciso para adaptá-los?

Gilmar Rinaldi – É muito simples. A única forma de pegar experiência é no campo. É ir lá e apanhar. Enfrentar esse fair play diferente. Saber se controlar.

AE – Você falou que os jogadores são de destaque. Mas porque o conjunto não funciona?

Gilmar Rinaldi – Aí é que está: o conjunto perdeu quatro. Nós conseguimos fazer um belo time. Talvez com 11 jogadores que formam o sempre o mesmo time. Mas eu não posso ter 11 jogadores. Preciso ter 23, 30.

AE – A convocação de jogadores que estão saindo dos grandes centros pode ser revista, visto que não foram bem?

Gilmar Rinaldi – A gente só ia saber isso chamando. Hoje a gente já tem uma visão de como eles estão nos mercados.

AE – Como é a sua relação com o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero?

Gilmar Rinaldi – Todos os dias que estou aqui levo uma lista de assuntos para tratar com ele. Afinal, ele precisa saber de tudo que está acontecendo.

AE – Acha que o caso de corrupção na Fifa pode ter causado algum tipo de pressão à seleção?

Gilmar Rinaldi – Não, zero. Uma coisa se chama “entidade CBF” e outra a “seleção brasileira”. Não temos autoridade, nem competência para julgar. Fazemos a nossa parte. Não nos compete dar opinião.

AE – O que espera do conselho estratégico da CBF? Na primeira reunião havia técnicos que há tempo não trabalham em alto nível…

Gilmar Rinaldi – Eles têm um passado muito bom, quase todos eles. Têm sabedoria. Estou aberto para aceitar sugestões. Se alguém der uma ideia melhor que a minha, vou pegar. Vou chamar jogadores campeões, Nelinho, o Zico, Junior. Pessoas que sejam referência.

AE – Já houve algum projeto prático que foi fruto da reunião?

Gilmar Rinaldi – Uma deles é um problema sério. Todo mundo leva nossos craques. Com 12 anos eles estão indo embora. A nossa legislação não deixa fazer contrato com uma certa idade. Precisamos chamar a atenção para isso. Vamos acionar o governo.

AE – O Brasil não ficou entre os quatro melhores da Copa América. Vai se repetir nas Eliminatórias?

Gilmar Rinaldi – É um jogo, vamos entrar. Tenho certeza da classificação.

AE – Acha que a seleção está distante do torcedor brasileiro?

Gilmar Rinaldi – Não tem a química que eu gostaria. Nem na hora do jogo. Não é como no clube, do qual a torcida está acostumada a ir aos jogos e a fazer a musiquinha. Nada melhor do que deixar o pessoal ver o treino.

AE – Como fazer para ter esse contato com amistosos na China, por exemplo?

Gilmar Rinaldi – Nós precisamos jogar na China. Precisamos jogar com adversários fortes em outros lugares. Mas concordo que precisamos jogar aqui e vamos. Pedi também que a seleção olímpica jogue sempre aqui.

AE – Dunga contestou recentemente a colaboração de técnicos estrangeiros. O que acha disso?

Gilmar Rinaldi – O Dunga sugeriu nomes de estrangeiros para o conselho junto comigo. Fomos visitar na Alemanha o (Jürgen) Klopp, técnico do Borussia Dortmund, fomos ao Chelsea falar com o Mourinho. Depois, no Real Madrid, com Ancelotti. Claro que temos que ver o que está sendo feito lá, mas não vamos copiar, não. O Dunga é o cara mais aberto a novidades. A gente está vendo aqui quem chamar (para o conselho), quem pode dar retorno técnico.

AE – Pensam em chamar técnicos que estão fora do Brasileiro?

Gilmar Rinaldi – Sim. A gente quer fazer um conselho específico com os principais treinadores. Não posso deixar de fora o Muricy Ramalho, tricampeão brasileiro.

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