Valquir Aureliano
Giba foi alvo de fanatismo explícito antes de viajar.

Giba começou ontem um novo momento em sua carreira. Aos 30 anos, consagrado como o melhor jogador do mundo, campeão olímpico, mundial e pan-americano (além das Ligas Mundiais) em doze anos de seleção brasileira, ele deixa o disputado vôlei da Itália para jogar no ascendente campeonato russo.

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O atacante paranaense assinou contrato com o Iskra Odintsovo por três temporadas. Um período novo em sua carreira, mas que ele pretende encarar com a ajuda da família e com a experiência de ser um ?nômade? do esporte.

Um atleta se acostuma com a mudança de cidade, de país. Giba passa por isso há quinze anos – metade da vida longe de casa, em Maringá. De lá para Curitiba, depois Belo Horizonte, Itália e agora Rússia. ?É diferente, e eu não sei o que vai acontecer. Sempre que fui jogar lá pela seleção brasileira, era verão. Agora, vamos para lá no inverno, vamos passar sete meses. Estou pronto, acho que vai ser um começo difícil, mas estou ansioso para saber o que vai acontecer?, reconheceu o jogador.

Para facilitar a adaptação, Giba deixou Curitiba na noite de ontem com a família. A esposa, a ex-jogadora romena Cristina Pirv, e a filha Nicoll vão encarar o desafio junto com o jogador. ?Com eles eu não tenho nenhum problema. As coisas mais complicadas, como a adaptação à cultura e à língua, a gente vai tirar de letra?, garantiu o paranaense.

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Assim como o melhor jogador do mundo, Cristina Pirv sabe o que é ficar longe de casa. ?Eu saí da minha casa na Romênia com 14 anos. Por mais que a mudança seja grande, a gente já tem um conhecimento de como essas coisas são?, afirma a esposa de Giba, que teve a incumbência de reforçar o guarda-roupa da família. ?A diferença desta viagem é que a gente vai levar mais malas, por causa dos trajes de frio?, reconhece.

Às vésperas de deixar o Brasil, Giba não quis pensar no futuro, nem em um possível retorno ao vôlei local. ?Primeiro eu tenho que pensar nos três anos em que vou jogar lá. Depois vamos ver o que vai acontecer?, resumiu.

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Fãs fazem qualquer coisa pelo ídolo

Quem olhasse para o Palácio de Cristal, ginásio do Círculo Militar do Paraná, na noite de segunda-feira, pensaria que estava para chegar um ídolo jovem. E não seria nenhum dos atuais, e sim alguém que levava o público brasileiro ao desespero – como Roberto Carlos, nos anos 60 ou Renato Russo, nos anos 80. Não era, era um jogador de vôlei. Era Giba, que em Curitiba descobriu que a ?Gibamania? não tem limites.

Seria arriscado dizer que o atacante paranaense, melhor jogador do mundo, é o atleta mais popular do Brasil. Kaká, Robinho e Ronaldinho (e até mesmo Romário e Ronaldo) são idolatrados em todo canto do País. Mas é certo afirmar que Giba é o paranaense mais importante no esporte mundial, e ele teve a prova disso com o carinho com que foi recebido no Palácio de Cristal, e pela ajuda que o público deu à sua iniciativa de colaborar com o setor infantil do Hospital Erasto Gaertner. Foram arrecadadas 28 toneladas de alimentos. ?Foi ótimo. É suprimento para três meses?, disse o gerente de relações institucionais do hospital, Mário Bosso. ?Nós fizemos tudo muito rápido, e o povo de Curitiba nos atendeu. Estamos emocionados?, reconheceu Cristina Pirv, esposa de Giba.

Além do lado filantrópico (e do jogo, em que os Amigos do Giba venceram a Unisul por 3 sets a zero), o que estava presente na festa de segunda era a chance – única, para alguns – de ver um grande ídolo em quadra. O público, formado basicamente de adolescentes, chegou cedo ao ginásio para ficar mais perto, e com isso ter a chance de tirar uma foto ou conseguir um autógrafo do jogador.

Durante o aquecimento, começaram a espocar os flashes das câmeras e a surgirem os telefones celulares. Na partida, os torcedores tentavam chamar o paranaense mesmo com bola em jogo. Sorte teve quem ficou perto dos bancos, e conseguiu falar com ele durante os pedidos de tempo.

Quando o jogo acabou, aí começou o frenesi. Os seguranças não conseguiram sustentar todo o público nas arquibancadas, e muita gente conseguiu entrar na quadra. Depois de se desvencilhar dos jornalistas, Giba ficou quase quarenta minutos dando autógrafos e tirando fotos. Mesmo bastante procurados, os selecionáveis Bruno Rezende e Anderson e o ex-jogador Giovane ficavam em segundo plano ante o sucesso do paranaense.

E até mesmo outras figuras importantes do esporte tinham tranqüilidade para circular no ginásio. Caio Júnior, técnico do Palmeiras, aproveitou a folga da segunda para assistir à partida beneficente. ?Meus filhos estavam malucos para vir aqui. E o Giba é um sujeito sensacional, um ídolo como poucos?, comentou o treinador.

Após muito assédio, Giba conseguiu ir para o espaço reservado aos seus convidados. Só que era impossível fazer com que alguém fosse buscar suas roupas para que ele se trocasse – em frente à porta do reservado, dezenas de jovens se aboletavam esperando um aceno do campeão mundial e olímpico.

Percebeu-se, então, que Giba não teria como ir embora do ginásio – havia um jantar promovido pelos co-organizadores do evento, quase todos os convidados estavam lá, menos o principal anfitrião. O assédio era tanto que uma fã, toda paramentada com o uniforme do vôlei do Paraná Clube, conseguiu invadir o local dizendo que era filha deste repórter. E ela teve sucesso: tirou a foto e conseguiu conversar com ele, o que os jornalistas que estavam no reservado não conseguiram.

Giba saiu escondido, por uma porta quase secreta, passando até por uma escola de artes marciais. O carro que o levaria estava parado em um espaço mínimo, e isolado do público. Só faltou o atacante entrar no porta-malas, como Roberto Carlos precisava fazer para fugir das fãs.

Nada sobre Ricardinho

Era inevitável. O assunto Ricardinho estava implícito no jogo festivo de Giba na segunda-feira. E o que se imaginava acabou acontecendo – nenhum dos envolvidos na história que estiveram em Curitiba quiseram falar do assunto.

Quando perguntado sobre a rusga entre Bernardinho e Ricardinho, Giba preferiu calar. ?Eu não falo mais sobre esse assunto. A última vez em que falei deste caso foi na coletiva que todos nós demos lá em Saquarema (local de treinos da Confederação Brasileira de Vôlei)?, disse o jogador paranaense.

Também questionada sobre o assunto, a esposa de Giba, Cristina Pirv, manteve o silêncio. ?Se ele não quer falar, não sou eu quem vai ficar falando?, resumiu a ex-jogadora romena. Cristina confirmou, no entanto, que Giba e Ricardinho continuam conversando. ?Eles se falam muito?, disse.