Luiz Felipe Scolari vem dizendo há muito tempo que o Brasil estará no Maracanã no dia 13 de julho para disputar a final da Copa do Mundo. Mas o alerta veio daquele que foi capaz de calar quase 200 mil vozes numa final de Mundial: “A confiança matou o homem. No futebol, não se pode antecipar um resultado”.
O protagonista de um dos momentos mais dramáticos da história do futebol brasileiro voltou neste sábado ao palco onde criou sua obra inesquecível – ou, pelo menos, chegou bem perto dele. O ex-jogador Alcides Gigghia, que marcou o gol sobre o Brasil que deu o título ao Uruguai na Copa de 1950, foi um dos convidados de honra na inauguração da Casa Coca-Cola, instalada ao lado do estádio do Maracanã. Junto dele, o ex-atacante da seleção brasileira Jairzinho, tricampeão em 1970.
Sessenta e quatro anos depois do episódio que ficou conhecido como Maracanazo, Ghiggia nem de longe aparenta ser o carrasco que adiaria por oito anos o sonho do primeiro título mundial do Brasil. Sentado próximo à entrada da Casa Coca-Cola e trajando um terno escuro, o ex-jogador, hoje com 87 anos, apresentava um semblante tranquilo. O olhar sereno e que procurava desviar das câmeras revelava um senhor tímido, numa curiosa ironia para alguém que se tornou um dos maiores protagonistas da história do futebol sul-americano.
O autor de quatro gols na Copa de 1950 entrou para a história graças ao mais famoso deles: aos 36 minutos do segundo tempo da partida contra o Brasil, Ghiggia chutou rasteiro entre o goleiro Barbosa e a trave esquerda e marcou o gol da vitória do Uruguai, que daria o bicampeonato mundial à Celeste e calaria um público estimado em 200 mil pessoas no Maracanã.
Já na coletiva de imprensa, Ghiggia estava mais à vontade. Colocou a camisa da patrocinadora do evento e relembrou o título de 1950. “Ganhamos, eu e meus companheiros, aquela Copa e demos alegria ao nosso país. Mas lamento que tenha deixado o Brasil inteiro triste”, declarou Ghiggia. “Mas o Brasil se recuperou logo e depois venceu o Mundial em 1958.”
O ex-jogador uruguaio falou também sobre o momento da seleção de seu país. Mesmo tendo sido quarta colocada na última Copa e ostentando o título de atual campeão da América do Sul, ele não colocou o Uruguai como favorito ao título deste ano. “Não creio. Há equipes muito poderosas e com muita ambição.”
Sentado ao seu lado estava o “furacão” Jairzinho, que marcou sete gols na campanha do tricampeonato, em 1970, balançando as redes adversárias em todas as partidas. O ex-atacante brasileiro demonstrou confiança na seleção brasileira, mas fez um pedido. “Precisamos respeitar os adversários. Quando respeitamos, o resultado vem”, destacou. Jairzinho não quis colocar o Brasil como favorito absoluto ao título – ele elencou Alemanha, Itália, Espanha, Holanda e França, mas não citou a Argentina ou o Uruguai -, mas disse que o fato de jogar em casa vai pesar a favor.
“Nós estamos acostumados a jogar no nosso clima. Em 1974 nós jogamos no frio, onde não estávamos acostumados, e vários jogadores tiveram problemas de contratura muscular. Eu, inclusive”, contou. “Agora os outros terão que enfrentar o calor, principalmente o grupo que jogar em Manaus.”
Segundo a empresa, a ideia de unir os dois campeões veio do fato de que ambos vestiam a camisa 7 e marcaram gols em todos os jogos em que atuaram em uma edição da Copa. Sobre Gigghia, pesou ainda o fato de ser o único jogador ainda vivo a marcar gol num Mundial no estádio do Maracanã.
