Geninho sai do Atlético-MG sob “tiros”

O técnico Geninho, que será apresentado hoje como novo treinador do Corinthians, oficializou ontem o seu desligamento do Atlético-MG e disse que se prepara para um “vôo longo” à frente do clube paulista. O treinador deixou o alvinegro mineiro debaixo de pesadas críticas da diretoria atleticana, que considerou sua saída uma “irresponsabilidade” e se sentiu traída pela decisão.

A expectativa de um bom desempenho à frente do Corinthians apesar de afirmar que está ciente dos riscos e da pressão do cargo – foi feita em resposta à declaração do presidente do Conselho Deliberativo do Galo, Alexandre Kalil, que, irado com a sua transferência para o Timão, apostou que o treinador teria “vôo muito curto” em sua nova missão.

“Se de repente eu começar um Campeonato Paulista mal, se for mal na Libertadores, eu posso trabalhar no Corinthians dois ou três meses. Isso eu tenho consciência. Só que eu estou apostando num vôo longo. Eu não iria sair daqui com medo de um vôo curto” disse.

Geninho, ressaltando que nos últimos três anos conquistou dois títulos nacionais: campeão brasileiro do Módulo Amarelo da Copa João Havelange, em 2000, pelo Paraná Clube, e do Brasileirão de 2001, pelo Atlético Paranaense.

O ex-técnico do Galo aceitou assumir o lugar de Carlos Alberto Parreira, que irá dirigir a Seleção Brasileira, após reunir-se na quarta-feira com o vice-presidente do Timão, Antônio Roque Citadini e com o gerente Edvar Simões. Na conversa, os dirigentes quiseram saber a opinião de Geninho sobre as possíveis contratações do meia Beto, que disputou o último Campeonato Brasileiro pelo Fluminense, e do goleiro Júlio César, que pertence ao Flamengo.

O treinador aprovou os nomes e disse também que gostaria de contar com a permanência de Vampeta no atual elenco. “Me perguntaram o que eu achava. Se eram bons jogadores, se caberiam. Eu disse que caberiam, claro. Me perguntaram se eu gostaria que o Vampeta continuasse. Eu disse que gostaria”.

Geninho, que não soube informar o horário e o local de sua apresentação, adiantou que pretende levar para o Parque São Jorge o auxiliar-técnico Ivan Almeida e o preparador-físico Ridênio Borges. Para o técnico, o que pesou em sua decisão foi a oportunidade de dirigir um clube grande da capital paulista e a “valorização profissional” que isso poderá lhe proporcionar. Geninho chegou a falar em Seleção Brasileira, apesar de Parreira ter reassumido a função esta semana. “Até 2006 tem muita coisa para correr debaixo da ponte. Eu sou mais novo do que a maioria dos que estão aí e tenho muito tempo. O Zagallo tem 70 anos e não está na Seleção?”, questionou. O treinador disse que o motivou também o fato de o Corinthians disputar este ano a Copa Libertadores da América. Ele afirmou que irá conversar com Parreira sobre o atual grupo corintiano para aprimorar suas impressões sobre o elenco. Adepto convicto do esquema de três zagueiros, Geninho sinalizou que não deverá, a princípio, adotar a nova formação tática devido ao pouco tempo de trabalho. Sob o comando do técnico da Seleção, o Corinthians jogava no ofensivo 4-3-3. “Não é algo que dá para ser mudado de uma hora para outra”, disse o novo treinador.

Caráter

Entre os dirigentes do Galo, a atitude de Geninho foi considerada uma traição. O contrato do técnico venceria no final do ano e não havia multa rescisória. Pouco polido nas palavras, o presidente do Conselho Deliberativo questionou o caráter do treinador e disse que se dependesse dele, Geninho não teria nem acesso às dependências do clube. “Foi a maior surpresa que eu já tive no futebol. Foi surpreendente, estarrecedor o que o Geninho fez com a gente”, disse Kalil, afirmando que o treinador “não serve” mais para ser seu amigo. “Eu escolho meus amigos pelo caráter deles”.

Mesmo evitando a polêmica, o técnico rebateu as críticas de forma contundente. “Ser mais honesto do que eu, ninguém é. Em honestidade e caráter eu compito com qualquer um. Talvez eu perca, muito de perto, para Cristo”.

Geninho insistiu que sua transferência foi uma “opção profissional” e não financeira. Ele revelou que, pela proposta salarial do Corinthians, irá receber “apenas” R$ 5 mil a mais do que ganhava no Atlético. O técnico, contudo, não deixou de alfinetar a atual diretoria e comunicou que ainda não recebeu o salário de novembro do ano passado.

Deivid animado com comando

Dos jogadores da atual equipe do Corinthians, só um conhece o novo treinador do Corinthians: o atacante Deivid. Apesar de lamentar a saída de Carlos Alberto Parreira, que foi para a seleção brasileira, o jogador se animou com a chegada de seu substituto. “É um técnico que trabalha dentro de campo e é amigo fora dele”, afirma Deivid.

O jogador corintiano já deu algumas dicas do estilo de trabalho de Geninho. “É um treinador que quando um jogador está errando chama em um canto para conversar. ” Deivid, no entanto, diz que seu jeito conciliador não quer dizer falta de pulso. “No time dele só jogam os melhores”, garantiu. Outra dica dada pelo jogador corintiano é sobre a atitude que mais irrita Geninho. “Ele detesta quando o jogador sai de campo (na hora da substituição) balançando a cabeça.”

A apresentação de Geninho foi marcada pelo início da tarde de hoje. O vice presidente de futebol do Corinthians, Antônio Roque Citadini, não disse se algum novo jogador será apresentado junto com o técnico, mas garantiu que Geninho será ouvido quanto às novas contratações para a temporada. Em seguida à apresentação, o técnico segue com a delegação para Extrema (MG), onde comandará a pré-temporada do grupo até o dia 17.

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