Gêmeas brasileiras participam juntas do Ironman no Havaí

“Au” Au Kai, Paikikala e Holo Holo. Hoje, essas palavras, que significam respectivamente natação, bicicleta e “correr correr” na língua havaiana, farão parte da história de Cíntia e Luiza Tobar, 25. As gêmeas triatletas, naturais de Campinas (a 93 km de São Paulo), vão participar juntas da 34ª edição do Ironman em Kona, no Havaí.
Inédito na história do triatlo brasileiro, o fato de duas irmãs gêmeas disputarem esse tipo de prova é muito raro. No mundial nas ilhas havaianas, é apenas a segunda vez que isso acontece. Em 2007, as americanas Kim Loeffler e Kelly Liljeblad também competiram lado a lado.
A dupla brasileira não esteve junta nem mesmo nas provas do Brasil. “A gente começou a dividir. Ela [Cintia] fazia uma e eu outra, pois era só uma vaga para o mundial por categoria feminina”, disse Luiza.
Mais experiente das duas, Luiza começou no triatlo com 19 anos, e está pela terceira vez em Kona. Curiosamente, foi torcendo pela irmã no primeiro mundial dela no Havaí, em 2008, que Cintia, na época corredora de maratonas, também descobriu a vocação pelo esporte.
“Eu estava de apoio da Luiza, e como a prova [do Ironman] é longa, o locutor puxava papo com os espectadores. Ele me perguntou o porquê de eu estar lá. Quando falei que era por causa da minha irmã gêmea, ele disse que no próximo ano nós deveríamos competir juntas”, afirmou Cintia.
A “profecia” se concretizou com quatro anos de atraso, depois que Cintia acrescentou a natação e o ciclismo aos treinos de resistência. Ela conquistou a vaga para competir no Havaí, ao chegar em primeiro lugar na categoria 18-24 anos no Ironman de Cozumel, no México, em novembro de 2011.
Já Luiza venceu o Ironman de Florianópolis na categoria 25-29 anos, em maio deste ano. É nesta faixa etária que ambas vão nadar 3,8 km, pedalar 180 km e, no final, correr uma maratona pela costa havaiana.
Os objetivos de cada uma das irmãs no Ironman de Kona, porém, são diferentes. Luiza pretende diminuir seu tempo de 10 horas e 58 minutos e, se possível, lutar por um espacinho no pódio – ela ficou em quinto lugar na categoria amadora 20-24, quando competiu em 2010. Cintia, em sua estreia no mundial, pretende terminar o desafio em, no máximo, 12 horas.
O pai foi a inspiração para que a dupla começasse no atletismo. Luiza começou a correr aos 12 anos e completou sua primeira maratona aos 18. Depois de se mudar para Florianópolis para estudar educação física na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), obteve o segundo lugar em uma ultramaratona de 84 km.
O fato chamou a atenção de uma treinadora, que sugeriu à Luiza que experimentasse o triatlo. Com apenas seis meses de adaptação ao novo esporte, a campineira garantiu o primeiro lugar na categoria 19-24 anos do Ironman de Florianópolis, em 2008. A prova, cuja inscrição havia sido paga pela treinadora, garantiu a ela sua primeira ida para o Havaí, aos 20 anos.
De Kona para cá, Luiza completou oito provas com a mesma distância do Ironman, ficando sempre entre as cinco primeiras colocações. Ela chegou em primeiro lugar na edição 2011 do triatlo “Cabra da Peste e Mulher Guerreira”, realizado em Fortaleza, no Ceará.
Formada em Relações Públicas pela PUC Campinas, Cintia começou no atletismo aos 13 anos. Antes do triatlo, ficava satisfeita ao participar “somente” de ultramaratonas. Entre as conquistas, estão dois vice-campeonatos nos 75 km entre Bertioga e Maresias e o primeiro lugar em uma corrida de revezamento de 24 horas em Campinas.
Depois que passou a nadar, pedalar e correr, aos 20 anos, Cintia ampliou o leque de modalidades, subindo ao pódio em provas de triatlo de diferentes distâncias -“short”, “long distance” e meio Ironman, além de duatlos (corrida, ciclismo e corrida) e maratonas aquáticas.
A viagem, com um voo que saiu de São Paulo, fez escala nos Estados Unidos e só depois seguiu para o arquipélago havaiano, não ficou barata para o bolso da dupla. Sem patrocinadores, Cintia vai pagar mais de R$ 6 mil, só de avião e hospedagem. Luiza ganhou a passagem e uma bicicleta de apoiadores, o resto também fica por conta da triatleta.
As garotas estimam que o valor do equipamento – bicicleta, capacete, tênis – ainda que incompleto (a roda que Cíntia vai usar na competição é emprestada) gire em torno dos R$ 8,5 mil. Como cada uma precisa do seu kit, esse valor dobra: R$ 17 mil.
Independentemente do resultado no Havaí, as gêmeas afirmam que treinar para as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, está fora dos planos. “[O triatlo olímpico] não é a distância que a gente faz e nunca foi nosso sonho. Para nós, o mundial de Ironman é a nossa Olimpíada, é a maior grandeza para a gente”, afirmou Luiza.
   

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