Os times nacionais e a seleção brasileira passaram a ter um ritual novo nos treinamentos diários nos últimos anos. Antes de iniciar o trabalho no gramado, os jogadores se dedicam a uma modalidade que parece recreação, mas que virou uma ferramenta técnica e de aquecimento. O chamado futmesa, mistura de tênis de mesa com futebol, é a nova sensação nos clubes.

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Com uma bola de futebol e uma mesa com rede, formato e dimensões semelhantes à usada no tênis de mesa profissional, a modalidade está cada vez mais presente nas equipes. A seleção brasileira conta com o equipamento desde 2017 e até chegou a levá-lo para os treinos realizados na Rússia, durante a Copa do Mundo. Corinthians, Palmeiras e São Paulo também já utilizam o futmesa.

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O jogo é geralmente praticado em duplas e usa parte das regras do tênis do mesa. Dois jogadores de cada lado usam as pernas, o peito e cabeça para sacar e lançar a bola ao outro lado com o intuito de dificultar o controle dos adversários. A bola pode quicar até uma vez em cada um dos lados da mesa.

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A modalidade se tornou popular há pouco tempo. Até anos atrás os jogadores se divertiam no intervalo dos treinos ao brincar com a bola em uma mesa de plástico. Aos poucos, o equipamento evoluiu. Os modelos mais modernos são feitos de metal ou fibra de vidro e custam mais de R$ 10 mil.

Há vários fabricantes no mercado, com mesas de tamanhos variados, estilizadas com cores, nomes e gosto do comprador e de superfícies planas ou curvadas levemente para baixo. Os clubes brasileiros passaram a contar com o futmesa graças aos pedidos dos jogadores. No Internacional, o elenco dividiu as despesas para deixar uma mesa no centro de treinamento e outra no vestiário do beira-rio.

A comissão técnica aprovou. “Na parte técnica, a modalidade ajuda muito. Mexe com controle e domínio da bola, passe e reflexos rápidos. O futebol tem uma pressão diária, então promover uma situação mais divertida é bem bacana”, disse o preparador físico do Internacional, Cristiano Nunes.

No Atlético-MG, o futmesa serve como aliado na recuperação de lesões. O fisioterapeuta do clube, Rômulo Frank, explica que ao deixar o departamento médico e começar a trabalhar com bola o jogador pode praticar a modalidade. “O intuito é fazer um aquecimento. O atleta aumenta a frequência cardíaca, tem mobilidade nas articulações e é interessante colocá-lo diante de movimentos imprevisíveis”, afirmou.

Nos clubes, os jogadores costumam chegar mais cedo aos treinos para ter mais tempo a se dedicar ao futmesa. O lateral-esquerdo Wendell ajudou a virar febre no Bayer Leverkusen, da Alemanha. “Conheci o futmesa no futevôlei. Quando estava fora, esperando a vez de jogar, a gente colocava mesas de plástico e jogava”, contou. O elenco do time alemão improvisava o jogo em uma mesa de plástico até a diretoria comprar um equipamento para atender a demanda.

O brasileiro brinca que existe até uma concorrência sadia entre os colegas para saber quem é melhor na disputa. “Como a bola não para, ajuda a pensar mais rápido, ter mais técnica no domínio e a dosar a força. Está me ajudando a pensar rápido. Vou para o treino mais ligado”, disse Wendell.

Alguns jogadores como o próprio Wendell, Neymar, Thiago Silva e Philippe Coutinho fazem questão de ter uma mesa em casa, para brincar nas horas vagas com os amigos.

A novidade, no entanto, ainda gera estranheza. Em fevereiro, a torcida do São Paulo protestou contra a eliminação na Copa Libertadores ao imitar um futmesa na porta do CT e criticar que o elenco em vez de treinar estava mais dedicado à modalidade.

EXPANSÃO – O futmesa também está crescendo como modalidade competitiva. Há o plano de se criar neste ano uma liga brasileira, enquanto que na Europa já existe uma versão do esporte conhecida como teqball, com federação internacional registrada e dois mundiais já realizados.

O teqball foi criado na Hungria e tem como principal diferença para o futmesa a superfície da mesa levemente curvada para baixo. “Há um grande investimento por trás da modalidade, pois a pretensão é tornar o teqball um esporte olímpico em um futuro não tão distante”, disse o diretor da Teqball no Brasil, Antonio Canto.

O último campeonato mundial, ano passado, foi disputado na França e teve a presença de 42 países. O Brasil ficou em terceiro lugar nas duplas mistas. O teqball tem praticantes em mais de 50 países e fornece equipamento para times como Arsenal, Chelsea, Flamengo, Shakhtar Donetsk e Milan.

No mercado nacional, a Futmesa Brasil é quem tem sido a principal fornecedora dos clubes. A empresa vai organizar na próxima semana um evento para divulgar a modalidade. “Levamos dois anos para desenvolver um modelo ideal da mesa. O público comum, que não é nem jogador profissional nem clube, compõe cerca de 40% dos nossos clientes”, disse o sócio-proprietário Flavio Deleo.