O futebol paranaense perdeu ontem o grande idealista Munir Calluf, aos 69 anos, em decorrência do câncer. Na quarta-feira, ele ainda assistiu ao jogo entre Brasil e Argentina, seu último contato com a bola. Afastado do futebol desde a sua saída do Coritiba, no final de 1999, Calluf marcou seu nome nos principais clubes do Estado, exercendo várias funções. A paixão que ele tinha pela bola fez com que jogasse, comandasse, dirigisse, supervisionasse e até mesmo comentasse o futebol, sempre com uma visão profissional e futurista. A visão de modernidade – e as tentativas de trazê-la ao futebol paranaense – era reflexo de sua experiência com o esporte norte-americano. Nos anos 60, ele estudou administração esportiva nos Estados Unidos e tinha como meta aplicar a estrutura das competições colegiais e universitárias no futebol paranaense. Algo parecido com o que o Atlético Paranaense começa a fazer hoje, trinta anos depois, sob o comando do teórico Antônio Carlos Gomes. Esse sonho Calluf carregou consigo até o fim. Engavetado, ele mantinha um projeto de parceria entre escolas e um clube de futebol profissional, que não saiu do papel, talvez por falta de iniciativo dos dirigentes paranaenses.
A última grande conquista de Munir Calluf no futebol paranaense foi a conquista do título de 1999 como supervisor do Coritiba. E aquele título teve um significado muito especial. Além de vir após um jejum de dez anos sem título, do Verdão, marcou o retorno de Calluf ao Coritiba, de onde tinha saído após uma rusga com o presidente Evangelino da Costa Neves, no início dos anos 70. Segundo Calluf, na época, por problemas políticos, Neves e ele, então vice-presidente, fizeram acordo para renunciar. “No final das contas, eu renunciei e ele não. Senti-me traído e fui procurar outros horizontes”, disse ele tempos depois.
No intervalo de quase trinta anos, Calluf passou pelo Pinheiros, pelo Colorado, pelo Cascavel e até mesmo pelo Atlético Paranaense, após ficar 7 anos (89 a 96) trabalhando no futebol japonês, mais aberto a inovações propostas por ele.
O legado de quem viveu com o “professor??
“Fui atleta de Munir em 93 e 94 e acabei me tornando seu auxiliar em 97, no Colorado. Quando ele saiu, tive minha primeira oportunidade como treinador. Mas ele não foi um exemplo só dentro de campo. Aprendi muito de administração de futebol com ele, que fazia questão de transportar o humanismo e emoção na relação com os atletas. Munir era cativante, uma pessoa magnífica, que vai deixar saudades”.
“Apesar de eu também ter tido ligação com o Pinheiros, não tive oportunidade de trabalhar diretamente com ele. Mas, por causa do nosso gosto pelo futebol, acabamos nos tornando amigos. Aprendi muito com ele, que era uma pessoa sempre disposta a ensinar. Essa era sua marca: era inteligente e não se privava de transmitir conhecimento a quem quer que fosse”.
Ricardo Machado Lima – Diretor de futebol do Paraná Clube
“Apesar de termos tido uma vida sempre ligada ao futebol, não trabalhamos juntos em nenhum clube. Em compensação convivemos quase vinte anos trabalhando juntos no departamento de Educação Física da UFPR. Além da capacidade acima da média no trato com o futebol, o Munir foi um exemplo de jovialidade, que o aproximava muito dos alunos e dos atletas. Um exemplo de relação humana e profissional”.
Odivonsir Frega – ex-supervisor de Coritiba e Atlético Paranaense
“Eu conversei com o Munir no domingo. Almocei com os filhos dele, e logo depois tive a chance de conversar com ele. Falei que queria visitá-lo, e ele chegou a perguntar sobre o Coritiba. Ele era uma das pessoas que eu consultava sobre futebol. Foi brilhante no Coritiba, um dos responsáveis pelo sucesso do ex-presidente Neves. Vai fazer falta.”
Domingos Moro – Vice-presidente do Coritiba
“O Munir teve um significado especial na minha vida porque tínhamos uma relação pessoal. Nossos pais vieram juntos da Síria e convivemos desde pequenos. Ele inclusive foi meu padrinho de casamento. Tivemos a oportunidade de trabalhar juntos no futebol, onde ele sempre foi exemplo de organização e seriedade. Essa é a herança que ele deixa: de extremo profissionalismo”.
João Jacob Mehl – Ex-presidente do Coritiba