Com duas rodadas de antecedência para o fim da 2ª divisão do Paranaense 2010, o presidente do Sport Campo Mourão, Luiz Carlos Khel, sentenciava o fim de seu time. “Ninguém ajuda, as rádios não cobrem, o torcedor não comparece. A Federação Paranaense de Futebol (FPF) só cobra e quer que eu pague a arbitragem. Chega! Pra mim já deu”, disse o dirigente, que na sexta-feira ainda não sabia se seu time participaria da penúltima rodada do torneio em Foz do Iguaçu.
Toda lamentação do presidente tinha como embasamento a fuga de um grupo que prometeu investir no Leão mourãoense, mas que sumiu da cidade deixando uma série de dívidas a serem pagas. Mais que a crise no time que revelou o atacante Alcântara, artilheiro do Paranaense – 1991, a situação também reforçava: o futebol do interior está na UTI.
Os mesmos empresários que prometeram investir no Sport Campo Mourão, o Grupo Universe, também eram responsáveis pelo Londrina na Segundona. No entanto, mesmo assumindo o clube com a benção da justiça do trabalho da cidade, os investidores sumiram e diversos cheques sem fundos foram deixados no comércio local. O Tubarão apenas não fechou as portas por persistência de alguns torcedores, que formaram um conselho representativo para tocar o time.
Em Cascavel, cidade detentora de um título estadual, o sumiço do empresário paulista Sergio Santos quase causou a extinção da Serpente. Em 2008, ele ‘desapareceu’ da cidade, deixando um vermelho estimado em mais de R$ 500 mil. Apenas agora, com um grupo de desportistas locais tocando o time, as finanças estão saindo do vermelho. Problema parecido teve o Nacional de Rolândia no Estadual 2010. “Já somos um clube que carece de estrutura, mas tínhamos um nome a zelar pelos bons trabalhos e pela dignidade nos compromissos. Foi tudo destruído. Daqui por diante não queremos mais saber de parcerias com empresários”, lamentou o diretor de futebol do NAC, Fernando Leite, sobre os investidores cariocas que deixaram mais de R$ 500 mil em dívidas na cidade.
A situação de calamidade causa preocupação em velhos ídolos que fizeram história no interior e na capital. Entre eles Tião Abatiá, que foi revelado pelo União Bandeirante e nos anos 70 ganhou notoriedade por formar com Paquito a nostálgica dupla caipira do Coritiba. “Nesse interior do Paraná tem muito jogador bom. Tem que valorizar moleque que suja o pé no barro e tem vontade de vencer na vida. O futebol do interior precisa de ajuda”, resume.