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Futebol feminino muda de patamar pós-Mundial, mas ainda sofre com calendário

O futebol feminino mudou de patamar com o Mundial da França, disputada em julho. Passado o torneio, o Estado ouviu atletas e dirigentes dos dois principais clubes do País, Corinthians e Ferroviária, para saber o que ainda precisa ser melhorado. É unânime que para a próxima temporada o calendário nacional tem que mudar.

Neste ano, a reta final do Campeonato Brasileiro e do Paulista aconteceram ao mesmo tempo. A Libertadores demorou para ter as datas definidas e também encavalou. A final do Estadual precisou ser adiada para realização do torneio continental, que está sendo realizado no Equador. A final do Paulista acontecerá nos dias 2 e 16 de novembro e terá o Corinthians, que está na disputa da Libertadores, e o São Paulo, que está parado – até a data da partida serão 38 dias sem um jogo oficial.

“O calendário é um ponto que está abaixo. Houve neste ano competições conflitantes em um calendário que não é tão difícil como o masculino. No masculino têm clubes que fazem 70 e tantos jogos. No feminino os clubes que chegam às finais como o nosso time, por exemplo, vão fazer 47 jogos no ano. Não é um número ruim, mas é mau distribuído. Nossa temporada dura sete meses e meio e fica muito tempo ocioso”, disse o técnico do Corinthians, Arthur Elias em entrevista ao Estado.

A premiação também ainda é irrisória comparada ao masculino. A Ferroviária levou R$ 120 mil pelo título do Campeonato Brasileiro. O Corinthians, que foi vice, levou R$ 60 mil. No masculino, a premiação no Brasileiro tem variável por causa do acordo com direitos de transmissão, mas os valores devem passar dos R$ 30 milhões ao vencedor.

No feminino tem o agravante que os valores são os mesmos há quatro anos. E a falta de investimento não pode servir de justificativa, pois na atual temporada, pela primeira vez, a competição contou com um patrocinador oficial: a Über. Houve também a transmissão em TV aberta pela Band e Rede Vida, apesar de as emissoras não pagarem direitos aos clubes como acontece no masculino.

A lateral-esquerda Tamires voltou ao Brasil neste ano para atuar pelo Corinthians após passar quatro temporadas no futebol da Dinamarca. Ela sabe que há muito o que melhorar, mas destacou a evolução. “A gente que vive dia a dia sente a diferença. Houve um crescimento, muitas televisões estão nos acompanhando, estamos dando mais entrevistas, coisa que a gente não via antes. Então são coisas boas que temos que nos apegar e fazer que fique mais forte. Dentro de campo tem sido diferente, estamos jogado futebol mais técnico e tático. A base está tendo mais estrutura. Estamos evoluindo.”

O Corinthians é uma das equipes mais bem estruturadas na modalidade. Tanto é que neste ano alcançou 34 vitórias consecutivas, um recorde mundial reconhecido pelo Guinness Book. O time principal foi vice-campeão nacional, está na final do Paulista e é um dos representantes na Libertadores. Mesmo assim dá prejuízo.

“Pelo meu conhecimento ainda não é sustentável. O investimento é maior do que as receitas que entram. É algo natural. O importante é que as receitas estão aumentando para que a modalidade se organize cada vez mais. Acredito que a gente caminhando para maior desenvolvimento do futebol feminino como um todo”, disse Arthur Elias.

Atualmente, todos os clubes que disputam o Brasileirão masculino são obrigados a ter um time feminino adulto e um de base. Neste cenário, a Ferroviária se consolida como um dos mais tradicionais. Com 18 anos de história, o clube do interior de São Paulo se orgulha em manter ativa a modalidade mesmo com as diversas transformações.

“Profissionalizamos seis atletas da equipe adulta. Hoje todas as atletas acima de 20 anos possuem contratos profissionais e as atletas sub-20 têm contrato de bolsa atleta pela prefeitura”, disse ao Estado a coordenadora de futebol feminino da Ferroviária, Ana Lorena Marche.

De acordo com o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, o município ainda mantém atividades no esporte e continua apoiando a Ferroviária. “Ficamos basicamente com a parte social do projeto, e expandimos o número de escolinhas nas categorias de base.”

“A prefeitura ajuda na mobilização dos empresários locais, porque basicamente o futebol feminino é patrocinado por empresários locais. Diferente do futebol masculino que tem outras fontes de receita”, completa o prefeito.

O time já revelou nomes como o da atacante da seleção Bia Zaneratto, que atualmente joga no Incheon Hyundai Steel Red Angels, da Coreia do Sul. Em 2017 passa pela maior e mais importante mudança com a decisão do clube-empresa incorporar e administrar as atividades relacionadas à modalidade.

FUTURO – Para Arthur Elias, o crescimento do esporte precisa de uma conjunção de fatores, como maior investimento na base e maior diálogo entre clubes e federações. “São alguns passos. Um muito importante é a formação de jogadoras, nosso processo de formação, investimento nas categorias de base. Hoje a aceitação é maior e mais massificada. A médio e longo vai aumentar. Mas processo de formação com treinamentos adequados, cuidado para que possam a jogar no alto rendimento é fundamental”, disse.

Para que isso aconteça, para que o futebol feminino mantenha a ascensão, o técnico acredita ser fundamental que os clubes e as entidades que organizam a modalidade conversem mais. “É necessário mais diálogo com a CBF. As Federações precisam escutar mais os clubes e profissionais que estão há muito tempo nessa trajetória”, disse o técnico que trabalha com futebol feminino desde 2006. “Não ter congresso técnico no Campeonato Brasileiro deste ano é exemplo da falta de diálogo”, finalizou.

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