São Paulo – Há quase um ano – mais exatamente, no dia 26 de agosto de 2004 -, elas pularam, gritaram e festejaram em Atenas. Mesmo sem o investimento milionário que os homens recebem, as mulheres igualaram o sexo oposto no degrau máximo que o futebol brasileiro já chegou em uma Olimpíada: ganharam a medalha de prata e, por pouco, não tiraram o ouro das americanas.
Diante de tal feito, choveram elogios e manifestações de apoio. "Só que as promessas feitas não foram cumpridas", decreta a zagueira Juliana Cabral, de 23 anos.
Tão logo a medalha de prata brilhou no peito das 22 jogadoras, a Confederação Brasileira de Futebol anunciou que iria organizar um campeonato brasileiro. O pensamento era colocar as atletas em atividade no País e evitar a saída das meninas para o exterior – algo que não foi conseguido sequer com os homens.
Quase 12 meses depois e sem um campeonato nacional – que, segundo a assessoria da CBF, não tem previsão de acontecer neste ano -, 7 jogadoras dentre as 11 titulares estão suando a camisa em gramado alheio. A atacante Marta, de 19 anos, eleita pela Fifa como a terceira melhor jogadora do mundo, continua no Umea, da Suécia – a meia Elaine é sua companheira de time e Formiga também está por lá, mas jogando no Koppaberg. A meia Rosana joga na Áustria, Pretinha está no Japão, Cristiane na Alemanha e Daniela Alves está no fim do contrato com o americano Bay State Select.
Pelo menos, todas estão empregadas, ao contrário do que acontecia no ano passado. "É um passo a mais. Pelo menos estamos jogando e com patrocínio", explica Juliana, atleta do São Paulo e titular da equipe vice-campeã olímpica. Assim como ela, as outras titulares estão no futebol paulista, único canto do País onde existe um campeonato organizado. A zagueira Tânia Maranhão também joga no São Paulo, a goleira Andréia é do Saad e a zagueira Mônica está em Araraquara, atual campeão paulista. "Mas temos que dar graças ao Lars (Grael, secretário estadual de Juventude, Esportes e Lazer). Se hoje existe futebol no Brasil, é graças a ele."
Sem o campeonato paulista, Juliana e a volante Daniela Alves jogavam futsal pela Sabesp. Pelo menos, havia um salário garantido. Com 21 anos, Daniela já é veterana e, por falta de incentivo, já chegou a ficar 9 meses parada. "Chegou uma hora em que desisti de jogar bola. Não tinha time, não tinha nada, isso me chateava demais." Mesmo sem uma liga profissional, foi para os gramados norte-americanos que Daniela se transferiu em meados de maio. Primeiro, jogou no Hampton Roads Piranhas, na Virgínia. Uma proposta melhor levou a jogadora, em junho, para o Bay State Select, em Massachusetts. Por um ponto, seu time não se classificou para os playoffs. Seu contrato está acabando e já negocia com times brasileiros. A perspectiva do futebol no País? "Eu não sei como está aí agora, mas penso que não deve estar como a gente merece."
Supervisor das seleções femininas, Paulo Dutra defende a CBF. "Não existe fórmula mágica. Como fazer uma competição se não há time? Sem clube, não há condições. Não tem interesse dos clubes, então não tem atividade. A CBF faz a parte dela, fazendo as convocações. Mas milagre não dá pra fazer."
Seguindo na crítica aos clubes, Dutra lembra de um brasileiro organizado em 2000. A cidade de Taubaté, no interior de São Paulo, recebeu um jogo de semifinal, entre Flamengo e Vasco. "Mais de 3 mil pessoas foram ao estádio e a cidade ficou em polvorosa. Imagine se fosse um Corinthians e Palmeiras? Mas os dirigentes não se conscientizam de que dá retorno e que o futebol feminino é esporte olímpico. Olímpico – e que dá medalha. Ainda que praticamente sem investimento algum."