O termo “fake news” não é mais exclusividade do noticiário político das grandes empresas de comunicação. Na última semana, as duas palavras em inglês que significam “notícia falsa” ganharam destaque nas editorias esportivas. Elas foram ditas em português, de Portugal, pelo craque Cristiano Ronaldo.

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O jogador da Juventus respondeu às acusações de estupro que sofre nos Estados Unidos dizendo se tratar de uma fake news, embora o caso seja investigado. Em entrevista para a revista alemã Der Spiegel, a vítima afirmou que o jogador ofereceu US$ 375 mil (R$ 1,5 milhão), aceitos, pelo seu silêncio. Em 2009, quando teria ocorrido a relação criminosa, a americana temia por si e por sua família.

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Nesta semana, circulou nas redes sociais brasileiras uma informação falsa sobre sorteio da CBF. Um vídeo editado por alguém indicava que o Corinthians teria sido beneficiado na escolha do mando de campo da final da Copa do Brasil contra o Cruzeiro. Os clubes desmentiram, o assunto foi dado por encerrado e o responsável por espalhar a mentira não foi localizado. Era uma fake news.

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Os dois casos são de naturezas diferentes. Para compreender esse fenômeno e saber os impactos que ele pode causar, especialmente no futebol brasileiro, o Estado entrou em contato com os responsáveis pela principal rede social do mundo, o Facebook. Também procurou o Google, o site mais popular de buscas da internet, e ainda ouviu o departamento de comunicação dos clubes que disputam o Campeonato Brasileiro.

Dois especialistas ainda mostram-se preocupados com a onda. A informação falsa leva o torcedor a caminhos errados, a cobranças acirradas e a mais intolerância entre as torcidas.

Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e colunista do Estado, jogou luz ao tema. “Fake news é o nome de fraude informativa cometida nas redes que tenta se passar por jornalismo e induz o publico ao erro”, definiu.

O caso de Cristiano Ronaldo não se trata de fake news. Bucci esclarece que a falsidade começa antes. A forma é falsificada antes de se tornar conteúdo. “O jornal pode até ter mentido, praticado calúnia, mas não produz fake news. Não produz porque ele responde por isso”, ensina Bucci.

O caso da Copa do Brasil se enquadra mais no termo. Fábio Malini, coordenador do Laboratório de Estudos Sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo, diz que especificamente no futebol a fake news é mais propagada quando chegam os momentos decisivos dos torneios. “A temperatura sobe nas redes, começa a existir disputa entre torcedores e cria-se ambiente de instabilidade”, analisa. “Então, o torcedor passa a compartilhar aquilo que ele quer acreditar. É muito idêntico ao que ocorre na política.”

Como consequência, pode acontecer o processo de normalização do que é falso, como por exemplo insistir que o Corinthians é sempre ajudado pela arbitragem. “Cria-se a cultura da teoria da conspiração. As distorções de imagens e vídeos são hegemônicas no entretenimento. É algo comum”, diz. O que não se pode confundir no futebol, e no esporte de modo geral, é fake news com memes. O primeiro informa errado. O segundo brinca com a notícia.

Facebook e Google possuem formas semelhantes de combater as notícias falsas e usam especialmente a inteligência artificial para auxiliar na identificação do que é fake. A rede social age com base em três pilares: remove posts que violam sua política, reduz em 80% publicações que possam ser falsas (isso significa torná-las quase invisíveis na rede) e relata às pessoas sobre os conteúdos que elas veem.

O Google informa que investe pesado em tecnologia para proteger os usuários de informações falsas. Consegue identificar e reduzir o fluxo de tráfego. Ainda realiza parcerias e apoia iniciativas de agências que fazem a checagem de informações, como o First Draft e Projeto Comprova, do qual o Estado é parceiro. Tanto o Google quanto o Facebook oferecem espaço para que o usuário denuncie o conteúdo que considerar mentiroso.