As suspeitas de corrupção no interior do Comitê Olímpico Internacional (COI) envolvendo a escolha do Rio de Janeiro para sede da Olimpíada de 2016 fizeram nesta segunda-feira sua primeira vítima. O ex-campeão namíbio de atletismo Frank Fredericks, conselheiro da Associação das Federações Internacionais de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês), demitiu-se do posto que ocupava após o jornal francês Le Monde revelar que o Ministério Público Financeiro de Paris tem indícios sobre o recebimento de propina pelo dirigente, em meio à votação que resultou na escolha da capital carioca em outubro de 2009, na Dinamarca.

continua após a publicidade

De acordo com as investigações, Yemi Limited, empresa de Fredericks situada nas Ilhas Seicheles, recebeu um depósito de US$ 299,3 mil no dia da votação que resultou na escolha do Rio de Janeiro, derrotando Tóquio, Madri e Chicago. O ex-atleta era então o responsável pela votação.

continua após a publicidade

Segundo o MP Financeiro de Paris, o depósito na conta de Fredericks foi feito por Pamodzi Consulting, uma das empresas de Papa Massata Diack, filho de Lamine Diack, então presidente da IAAF e membro do COI. Papa Diack, por sua vez, recebeu três dias antes das votações um total de US$ 2 milhões em pelo menos dois depósitos, um de US$ 1,5 milhão e outro de US$ 500 mil, do empresário brasileiro Arthur Cesar de Menezes Soares Filho, por intermédio de uma de suas empresas com sede em Miami, a Matlock Capital Group.

continua após a publicidade

Arthur Soares era nessa época proprietário do Grupo Facility, então beneficiário por contratos de serviços da ordem de R$ 3 bilhões, assinados pelo governo do Estado do Rio de Janeiro, na época comandado por Sérgio Cabral.

Cabral foi preso na Operação Lava Jato em 17 de novembro passado e depois disso tornou-se réu por corrupção, formação de quadrilha e pela lavagem de dinheiro, além do desvio de R$ 224 milhões em verbas públicas. Uma das suspeitas apuradas pelo MP Financeiro de Paris é de que a empresa de Arthur Soares tenha sido usada por Sergio Cabral para pagar propina a Papa Massata Diack e a seu pai, Lamine Diack, que por sua vez teriam repassado recursos a membros do COI com poder de influência na votação da cidade-sede dos Jogos de 2016.

Segundo nota oficial da IAAF divulgada nesta segunda-feira, o presidente da entidade, Sebastian Coe, aceitou a demissão de Frank Fredericks do cargo de membro da força-tarefa da entidade que investiga internamente outro escândalo: a IAAF é suspeita de ter feito vistas grossas à política de doping em massa de atletas da Federação Russa de Atletismo (Rusaf).

“Eu decidi me afastar do grupo de trabalho para que a integridade de sua tarefa não seja questionada após as alegações feitas contra mim no jornal Le Monde”, argumentou Fredericks, que também exercia o cargo de presidente honorário da Comissão de Atletas da IAAF. “É importante que a missão da força-tarefa seja vista como livre e justa, sem influência externa.”

Sebastian Coe afirmou que aceitou a demissão com o objetivo de garantir a integridade do trabalho da força-tarefa. “O trabalho do Grupo de Trabalho da IAAF é de extrema importância na reconstrução da confiança na Rússia, cujo sistema nacional frustrou as aspirações de atletas limpos e a integridade da competição”, afirmou. “A sua coordenação com a Rusaf e o acompanhamento da sua aceitação e adesão aos critérios de verificação e condições de reintegração é crucial à medida que trabalhamos para devolver os atletas às competições internacionais em um ambiente seguro para todos”.

Em Paris, o MP Financeiro segue sem se manifestar oficialmente sobre o escândalo de corrupção envolvendo a escolha do Rio de Janeiro em 2016 e Tóquio, cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2020.