Colaboraram Ricardo Brejinski e Felipe Lessa
Só a Federação Paranaense de Futebol lucra com o futebol do Estado. É o que se pode constatar fazendo o levantamento de todos os borderôs de jogos envolvendo clubes da capital e do interior, seja pelas competições promovidas pela própria FPF ou pela CBF. Isso se deve a uma regra econômica nada justa para com as equipes. São elas que bancam, através do dinheiro deixado por seus sócios e torcedores nas bilheterias, todos os gastos de uma partida. Desde a bola até o lanche dos gandulas. Além disso, ainda assistem a federação sorver de 10% a 5% da renda bruta dos jogos, sem dar nenhuma contribuição às custas dos eventos. O resultado disso é que, até a partida Paraná Clube 2 x 1 São Caetano, na sexta-feira passada, a FPF havia lucrado R$ 962.994,72 com os esforços dos clubes. Considerando que Coritiba, Atlético e Paraná Clube ainda vão disputar 17 jogos como mandantes – incluindo Coritiba x Ponte Preta, de ontem -, é certo afirmar que esse valor passará de R$ 1 milhão fácil até o final da temporada 2012.
O Paraná Online analisou 279 borderôs, sendo que 226 foram de partidas promovidas pela própria Federação Paranaense de Futebol – leia-se campeonatos da Primeira e da Segunda Divisões -, de onde ela fica com 10% da renda bruta de todos os jogos. Os outros 53 referem-se a jogos de torneios da CBF onde há clubes do Estado – Copa do Brasil e Séries A, B e D do Brasileiro. Desses confrontos, 5% da renda bruta são destinados à entidada. Trata-se de uma contabilidade que não tem como dar prejuízo. De todo o dinheiro que entra de um jogo, a FPF tira o dela e manda os clubes arcarem com contas que, inclusive, deveriam ser pagas por ela própria, como trio de arbitragem e mesários. Com essa fórmula econômica, nem a dupla Atletiba consegue competir com a federação. Supostamente, Atlético e Coritiba são os únicos que têm potencial para lucrar com os jogos. Porém, os descontos com os quais arcam sozinhos drena o dinheiro deixado nas bilheterias. Resultado: em jogos comuns, é normal o borderô apontar “déficit”. Quer um exemplo? No jogo Atlético 2 x 0 Londrina, na 1.ª rodada do Estadual, a FPF faturou R$ 3.298. Já o clube mandante amargou prejuízo de R$ 17.455,37.
Exemplos como esse são maioria nos borderôs. Que o diga o Coritiba, que exceto nos Atletibas disputados no Couto Pereira, e em um ou outro jogo, conseguiu sair com lucro das partidas. Em outras partidas, empatou seu faturamento com o da FPF. No duelo Coritiba 5 x 1 Iraty, pela 3.ª rodada do Estadual, o Alviverde viu o borderô apontar receita líquida de R$ 11.144,93. Já a federação, no mesmo jogo, lucrou R$ 11.034,80. E o que dizer do Atletiba decisivo, que deu o título ao Coxa? A renda bruta foi de R$ 563.772,00, mas o clube só viu R$ 145.623,84 pararem em seus cofres. Em contrapartida, a FPF embolsou 56.377,20. Isso sem pôr time em campo, sem precisar pagar salários e bichos pros jogadores e sem bancar despesas da partida. Mas não foi o jogo em que ela mais faturou neste ano com os clubes do Estado. Na decisão da Copa do Brasil – Coritiba 1 x 1 Palmeiras -, foram parar R$ 59.655,40 nos cofres da sede do Tarumã.
Através de sua assessoria de imprensa, o Coritiba comunicou que demonstra interesse em reverter esse quadro a partir dos próximos arbitrais financeiros. “É um dinheiro que deixa de entrar para o clube, e o Coritiba, por ser o que mais atuou e com a maior média (de público) na temporada, vive esta realidade. No arbitral financeiro, que existe antes do início da competição, esse é um assunto que deverá ser discutido. Se for da vontade da maioria, pode ter seu valor reduzido”, diz o clube. O Paraná Online tentou entrar em contato com o presidente da FPF, Hélio Cury, ligando tanto para a sede da entidade quanto para o celular do dirigente. No entanto, não obteve retorno em nenhum dos dois contatos. A pergunta a ser feita era: o que é feito com esse dinheiro que entra limpo para a FPF, já que depois do leilão do estádio Pinheirão a entidade não tem mais grandes dívidas a saldar? E mais: ainda cobra tudo dos clubes, de xerox a registro de atletas, transformando-se em um verdadeiro ,cartório da bola.
Terceirona isenta
Para a Terceira Divisão do Estadual, que está em disputa, a Federação Paranaense de Futebol decidiu isentar os clubes. Houve pressão dos dirigentes das equipes no arbitral financeiro para que a taxa de 10% sobre a renda bruta não fosse cobrada. “Seria um absurdo se cobrasse isso. Não tem torcedor e as despesas dos jogos ficam em torno de R$ 3 mil. Se não tem renda, vai cobrar 10% do quê?”, explica o presidente da Portuguesa Londrinense, Edson Moretti. Na Segunda Divisão do Campeonato Paranaense, a FPF cobrou e chegou ao absurdo de, em jogos que deram dez reais de renda líquida, descontar um real.
Allan Costa Pinto |
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Sede da FPF: ela não tem time nem dá espetáculo, mas mesmo assim fatura de 10% a 5% da renda. |