O erro do árbitro Thiago Duarte Peixoto no clássico entre Corinthians e Palmeiras, na última quarta-feira, no Itaquerão, recolocou o desempenho dos homens do apito sob os holofotes. A polêmica aconteceu no momento em que o diretor do departamento de arbitragem da Federação Paulista de Futebol (FPF), Dionísio Domingos, procura elevar o nível dos juízes paulistas com uma série de mudanças que entraram em vigor no começo deste ano.

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A principal inovação foi a criação dos tutores de competição. Cada tutor cuida de dois árbitros do primeiro até o último jogo da Série A1. O acompanhamento começa antes da partida, auxiliando na preparação. Passa pela avaliação do desempenho em campo e, consequentemente, por aconselhamento.

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“Não quero um pai, quero um padrasto. O pai sempre vai achar que o filho é lindo. Tem de tratar o árbitro como ele realmente foi na partida”, comentou Dionísio Domingos. “Tem de corrigir o que é necessário.”

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A avaliação do tutor é o primeiro passo para o árbitro se credenciar para ser escalado. Ao todo, são 22 árbitros no sistema da FPF em condições de apitar na primeira divisão do Paulista. Além do relatório dos tutores, existem outros 60 avaliadores acompanhando os jogos.

As notas são lançadas em um sistema, que conta ainda com avaliações físicas e psicológicas detalhadas, outra inovação do departamento de arbitragem para procurar minimizar os erros em campo. A falha de Thiago Peixoto fez com que ele, que era um dos mais bem avaliados, perdesse pontuação e, por isso, ficasse fora da escala por tempo indeterminado.

Ele é o segundo juiz afastado neste Paulistão. O primeiro foi Ilbert Estevam da Silva, que cometeu um erro na partida entre Ferroviária e Mirassol, pela segunda rodada. Na ocasião, o árbitro exagerou no rigor ao expulsar Jonathan Bocão, da equipe de Araraquara, por demorar para bater um arremesso lateral, aos 26 minutos do primeiro tempo. A expulsão foi determinante para a virada do Mirassol.

Thiago e Ilbert foram encaminhados para uma reavaliação psicológica, já que nos dois casos foi detectado um problema de falta de flexibilidade. Ilbert continua fora da escala da FPF.

“Antes o retorno era muito superficial. Agora é uma coisa mais completa. Às vezes achava que tinha ido bem em um partida porque não gerou polêmica e continuava fazendo o trabalho. Hoje você tem uma resposta detalhada do que pode ser melhorado em todos os aspectos”, afirmou o ex-assistente Carlos Nogueira Júnior, que é tutor dos árbitros José Claudio Rocha Filho e Leonardo Ferreira Lima.

Dionísio vai se reunir com os árbitros na próxima semana para ter um retorno do trabalho com os tutores. “Temos de ter uma arbitragem mais segura, que o jogo tenha o resultado que aconteceu e não com alguma interferência do árbitro.”

Com experiência no apito, o diretor sabe que é impossível alcançar o 100% de acerto – o clássico o fez lembrar disso -, mas ele acredita que, com este programa, pode obter um nível melhor de excelência na arbitragem de São Paulo em três anos.

ESTILO DE JOGO – Com ajuda da Wyscout, ferramenta que realiza análise de desempenho de times e atletas, os tutores passam aos árbitros informações sobre o comportamento das equipes em campo. O árbitro designado para apitar um jogo do Audax, por exemplo, recebe orientação para se posicionar mais próximo da área na saída de bola, já que o time costuma avançar trocando passes. “Ele chega mais preparado para o que vai encontrar no jogo”, disse o tutor Carlos Nogueira Júnior.

Os árbitros também possuem canal direto com Felipe Biazotto, responsável pelo departamento físico, para receber planilhas e vídeos de treinos conforme o desempenho nas avaliações e jogos, e com Marta Minopoli, que cuida da área de psicologia. “Os árbitros nos procuram para se aprimorar”, explicou Felipe.

A cada dois meses os árbitros participam de reunião presencial na sede da FPF. Nesse encontro, passam por avaliação técnica, física e mental.