Fotografia, bem mais que um hobby para Parreira

Arequipa – O fotógrafo da agência Estado, Eduardo Nicolau, estava desconfiado. Depois de cada registro de Carlos Alberto Parreira, ele ouvia certas frases do técnico da seleção brasileira que o intrigavam.

“Pelo ângulo, você quer que eu apareça preto na foto, né? Você só está fazendo o detalhe do meu perfil e destacando o fundo como se fosse um cenário.” Não satisfeito por perguntas, Parreira várias vezes quer ver como vai sair a foto e discute técnicas que o fotógrafo usou para chegar ao resultado final.

“O Parreira tem uma preocupação com composição de fotografias que não é de amador. Sabe detalhes do equipamento profissional que trouxe para o Peru. Tem condições de fazer fotos difíceis sem usar o ajuste automático. Ele vê a fotografia muito além de simples hobby. Estou surpreso”, deixa escapar Nicolau.

“Se a pessoa só pensar em futebol fica brutalizada. A sensibilidade fica tolhida. Eu amo pintar e fotografar. E busco me aprimorar. Sei como a luz está incindindo na hora em que sou fotografado. Procuro observar e imaginar como a imagem ficará impressa”, avisa.

“O Parreira acaba sabendo quando um fotógrafo está disposto a sacaneá-lo. Passar uma imagem ruim. Isso é bom para ele”, assegura Nicolau.

O treinador revela que foram décadas de treino. “Tenho mais de quatro mil fotografias na minha casa. Eu as tirei durante todas as minhas fases de vida. Os álbuns de 36 fotos estão guardados em caixas de sapato. Minha mulher fica maluca. Atazanei minhas duas filhas desde que nasceram. Tenho fotos da Daniele e da Vanessa desde bebês até adolescentes. Com o passar do tempo, fui me aprimorando”, diz o treinador.

A sua obra prima foi a foto que fez da mulher no Kuwait.

“É do rosto da Leila em preto em branco. Ela estava com um véu preto, só mostrando os olhos. Enchendo o negativo (foto cheia, sem espaços vazios). Por trás coloquei um tapete persa. O contraste ficou excelente. Infelizmente, perdi o negativo. No último aniversário dela mandei fazer uma reprodução da fotografia em uma tela a óleo. Mas não ficou a mesma coisa.”

O técnico é um perfeccionista. E aproveita os raros momentos de tranqüilidade na concentração da seleção brasileira no Peru para falar com os fotógrafos. Com a insistência de repórteres que pedem exclusivas ao treinador, ele quer saber tudo sobre as novas máquinas digitais lançadas no mercado.

“Eu estou sempre me atualizando. Esse mundo da fotografia se renova de maneira rápida demais. Tenho várias máquinas. Mas me permiti comprar uma Leika alemã da década de 60. Com lente de cristal e tudo.

“Eu não a uso para fotografar. Mas eu precisava ter essa máquina em casa. Era um capricho que precisava fazer. Estou satisfeito por ter me dado esse presente.” O custo aproximado da máquina é US$ 10 mil.

Parreira viajou por mais de 110 países na sua carreira de treinador. Ele de maneira discreta sempre fez questão de registrar cada um deles. Saía bem cedo dos hotéis, bem antes da imprensa chegar, e saía sozinho em um taxi para fotografar.

“Isso serve para aliviar a tensão, a pressão e as cobranças de ser o técnico da seleção brasileira. Mas não penso em fazer exposições ou coisas do gênero. Fotografia é mesmo mais do que um hobby para mim.

“E há muito tempo. Só que sou melhor pintor do que fotógrafo”, provoca.

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