Perto de iniciar a sua sexta temporada, a Fórmula E cresceu mundialmente em termos esportivos e econômicos no último ano e já começa a se tornar referência para novos campeonatos de carros elétricos, seja com carros de turismo ou SUVs, e até mesmo de motos. Somente no Brasil, impulsionada pela entrada de Felipe Massa, ex-piloto da Fórmula 1, a F-E elevou sua audiência em 84% na comparação entre a quarta e a quinta temporadas.
Em nível global, a categoria alcançou mais de 400 milhões de telespectadores em sua última edição, crescendo em 24% a sua audiência na mesma comparação entre as últimas duas temporadas. A expectativa é de que o alcance se torne ainda maior no próximo campeonato, a ser iniciado em novembro. O motivo é a entrada de duas novas e tradicionais equipes: a Porsche e a Mercedes, maior força atual da Fórmula 1.
O crescimento recente já se traduziu em cifras. Os promotores esperam que a categoria se torne lucrativa pela primeira vez na nova temporada. O valor esperado não é divulgado pela F-E. Mas tem como base o aumento do valor cobrado dos patrocinadores, das taxas cobradas pelas cidades que recebem as corridas e dos direitos de transmissão. A entrada no “azul” é significativa, uma vez que o campeonato chegou a ter prejuízo de 34 milhões de euros (cerca de R$ 154 milhões, no câmbio atual) em 2016.
“A Fórmula E só precisa de tempo para crescer mais e ficar mais conhecida. Estamos bem organizados, com as principais montadoras do mundo participando do campeonato e correndo em cidades sensacionais, como Nova York, Paris, Hong Kong. Acredito que a F-E vai crescer muito ainda nos próximos cinco, dez anos”, disse o piloto brasileiro Lucas di Grassi, um dos criadores da categoria.
Ganhando sustentação própria, a F-E já começou a gerar filhotes no mundo do automobilismo. O mais consistente no momento é o Jaguar I-PACE eTROPHY, campeonato satélite que acompanha parte do calendário da Fórmula E. Trata-se de competição de apenas uma marca (que também disputa a categoria maior) com dez corridas e 12 carros em sua primeira temporada, finalizada em julho.
Na prática, tornou-se o primeiro campeonato de carros de turismo movidos apenas à eletricidade. “Hoje o mundo do automóvel vive uma revolução como há muito tempo não se via. Estamos entrando em um mundo 100% elétrico e poder promover a primeira competição de veículos de turismo totalmente movidos à eletricidade do mundo é um privilégio”, afirmou ao Estado Frederic Drouin, presidente da Jaguar Land Rover América Latina.
Na competição, cada time representa um país, com dois pilotos. E o Brasil estreou com título, tanto por equipes quanto individualmente, com Sérgio Jimenez. Cacá Bueno foi o seu companheiro de time.
Na avaliação dos dois experientes pilotos, ambos com história na Stock Car, as competições de carros elétricos vieram para ficar. “Acho que vai criar um outro mercado e isso faz bem para o esporte. Com certeza, teremos mais campeonatos deste tipo no futuro”, afirmou Jimenez à reportagem. “Não tenho dúvida nenhuma de que isso é o futuro do esporte a motor”, reforçou Cacá.
BARULHO – Como acontece na F-E, no campeonato da Jaguar o diferencial é o barulho. No caso, a falta do tradicional ruído dos motores à combustão. “Isso afeta até a pilotagem. Aqui não tem barulho mesmo e isso muda a forma como pilotamos o carro”, disse Jimenez.
O carro é mais pesado, tem tração nas quatro rodas e freios ABS, mas não tem câmbio. “É bem diferente da Stock Car, por exemplo. O torque dá uma porrada, entra tudo de uma vez. Você não consegue dosar o acelerador. É uma pilotagem totalmente diferente”.
Para Cacá, o preconceito dos fãs de automobilismo em relação à falta de barulho pode estar com os dias contados. “É uma questão de costume. Eu cresci vendo corrida de opalões. Mas meu filho, de seis anos, terá outro ambiente. O primeiro carro dele já vai ser elétrico. Provavelmente ele não terá aquele desejo pelo barulho. Acho até que vai achar o barulho um absurdo, com toda aquela fumaça que sai pelo escapamento”.
Também silenciosas são as motocicletas da MotoE. Com grande potencial de crescimento, a MotoE World Cup é a pioneira nas competições elétricas de duas rodas. A temporada inaugural, em andamento, conta com seis corridas em quatro circuitos diferentes. O planejamento inicial era contar com mais etapas, mas um incêndio no chamado “e-paddock” da categoria no circuito de Jerez de la Frontera, na Espanha, em março, destruiu todas as motos.
Com velocidade máxima de 250km/h, as motos levam 30 minutos para serem carregadas. E vão de zero a 100km/h em apenas três segundos. Para efeito de comparação, na MotoGP a velocidade pode alcançar 350km/h. O ponto negativo é a curta duração das provas: entre sete e dez voltas.
A MotoE World Cup é reconhecida pela Federação Internacional de Motociclismo (FIM, na sigla em inglês) e conta com os mesmos promotores da MotoGP, daí seu potencial de crescimento. E tem como patrocinador máster a Enel, empresa italiana que vem a ser líder em distribuição de energia no Brasil desde o ano passado.
Em fase mais experimental, a Roborace é o campeonato elétrico mais ambicioso. Tem por objetivo fazer uma corrida de carros autônomos, sem qualquer orientação de pilotos, com base em inteligência artificial. No momento, a categoria liderada por Lucas Di Grassi conta com disputas entre laboratórios de grandes universidades, em um torneio piloto que deve dar origem a uma competição mais profissional a partir de 2020.
POR UMA BOA CAUSA – Algo comum nas palavras dos promotores e pilotos de todas as categorias elétricas, o discurso ambientalista é ainda mais forte na Extreme E. De todos os campeonatos, é o que tem menos caráter esportivo e maior simbolismo. É quase uma aposta de marketing dos mesmos promotores da Fórmula E para divulgar a causa ambientalista. Por isso, escolhe a dedos os locais onde é disputada, sempre em lugares com apelo ecológico.
No mês passado, a organização definiu a Groenlândia como a primeira parada deste rali que vai rodar o mundo a partir de 2021 em uma disputa off-road com SUVs. Será a primeira prova de automobilismo na Groenlândia. “Estou muito empolgado por trazer a Extreme E para uma das fronteiras da luta global pelo clima. Eu prometo que a E-E vai quebrar o modelo do automobilismo atual e esta corrida vai provar isso”, garantiu o espanhol Alejandro Agag, criador da F-E e um dos promotores da Extreme E.
A categoria, que também tem como dirigente o brasileiro Gil de Ferran, vai passar pela Floresta Amazônica, pelo Himalaia, pelas ilhas do Oceano Índico e pelo Deserto do Saara. Todas as pessoas e veículos envolvidos na competição vão rodar pelo mundo a bordo do navio St. Helena, que servirá como um “paddock flutuante” para o campeonato. A opção, segundo os organizadores, servirá para reduzir as emissões de gases que intensificam o processo de aquecimento global.