É possível que quando você ligar sua TV na madrugada deste domingo, 1h30, para assistir à primeira etapa do Mundial de F1 de 2008 ache tudo muito estranho. A começar da largada, quando surgirem nuvens de fumaça de borracha queimando assim que se apagarem as luzes vermelhas em Melbourne.
Depois, você vai notar que os 22 pilotos darão um espetáculo bem menos polido que nos últimos sete anos. Vão se atrapalhar nas freadas, passear na brita, ralar as faixas de grama que delimitam a pista, brigar com o volante, sofrer para domar seus carros chucros nas retomadas de aceleração.
É que a F1 está ?descontrolada? em 2008. Os carros perderam um equipamento que, desde que foi permitido novamente, em 2001, camuflava todo e qualquer erro de pilotagem derivado de pisões exagerados nos dois pedais que, no fim das contas, determinam quem guia bem e quem guia mal. Uma espécie de volta ao passado, quando piloto pilotava, e carro obedecia.
Sem o controle de tração, responsável por equalizar a potência nas rodas a cada toque no acelerador, os carros de F1 tornaram-se máquinas muito mais sensíveis e difíceis de dirigir. Esse dispositivo está proibido. E era ele que, também, fazia com que os carros largassem praticamente sozinhos e auxiliavam imensamente na hora de brecar, acionando eletronicamente o freio-motor.
Os primeiros treinos para o GP da Austrália, na noite de quinta e na madrugada de ontem, mostraram que a pilotaiada terá muito que aprender neste ano. Foi um festival de erros, escorregadas, pontos de freada perdidos, ?chicotadas? de traseira em saídas de curva.
A maior dificuldade foi para brecar. Os pontos de referência mudaram. Naquela curva em que o piloto cravava o pé no freio na placa dos 50 metros, deixando para o controle eletrônico a tarefa de subir os giros do motor e ?segurar? o carro na redução de marcha, agora é preciso frear um pouco antes, e com certa parcimônia.
Apesar das diferenças de pilotagem, e da previsão de um campeonato com muitos erros curva a curva, pouca coisa mudou na relação de forças entre as equipes. Ferrari e McLaren dominaram os treinos livres e eram as favoritas à pole, no treino que definiu o grid na madrugada de hoje. A terceira força é que foi a novidade, a Red Bull, deixando Williams, BMW Sauber e Renault para trás.
O GP da Austrália terá 58 voltas e deverá ser disputado com forte calor. As temperaturas bateram na casa dos 37 graus na sexta-feira, algo incomum para esta época do ano em Melbourne. Mais um ingrediente para tirar o sono dos pilotos. E deixar todo mundo que vai ver a corrida bem acordado.