Força do interior

No passado, o dinheiro do rico interior paranaense já bancou grandes equipes de futebol. Hoje, menos verba e mais disciplina vêm alavancando as equipes sediadas fora de Curitiba. Entre os quatro times com melhor campanha no Paranaense não há grande volume de recursos aplicados, mas começam a aparecer o planejamento e o investimento em médio e longo prazos.

As campanhas de Cianorte e Rio Branco, ponteiros do Grupo A, e Adap e Londrina, líderes do B, têm laços em comum. Cianorte, Londrina e Adap têm sítios na internet bem montados – os dois últimos contam também com assessor de imprensa. As equipes de Campo Mourão, Paranaguá e Cianorte investem nas categorias de base a ponto de fomentar com qualidade seus elencos profissionais. O Leão da Estradinha foi um dos líderes do movimento por melhores cotas de televisão no Campeonato Paranaense. O Tubarão corre atrás de maior estrutura.

?Não montamos um time para ganhar o título. A prioridade é profissionalizar o clube e investir em marketing e tecnologia, para no futuro atrair parceiros comerciais fortes?, explicou o presidente do Londrina, Peter Silva, que tomou posse este ano e pretende ser o melhor do interior para disputar a Série C com as despesas pagas pela CBF. Segundo o dirigente, atitudes como a volta ao Estádio do Café e a contratação de uma estrela do futebol nacional (o atacante Donizete ?Pantera?) têm como objetivo aproximar o time da torcida e do empresariado local. ?Estamos nos virando para que o Londrina volte a ser o que já foi um dia?, disse Peter.

O presidente do Rio Branco, José Carlos Possas, também não nutre grandes ilusões no estadual. Apesar da boa campanha, o Leão da Estradinha sonha também com uma vaga na Série C e, se possível, na Copa do Brasil. Mas vê uma aproximação em relação aos grandes. ?Não foram os times da capital que decaíram, mas os demais que cresceram?, acredita o dirigente. Em campo, Possas atribui a boa fase à contratação do técnico Itamar Bernardes e de alguns jogadores que já trabalharam com o treinador. Fora dele, a uma austera política salarial. ?Temos as finanças saneadas graças à filosofia de não pagar muito, mas pagar certo?, falou.

Dinheiro, aliás, não é problema para a Adap. Fundado pelos irmãos Prado, ricos empresários da área da construção civil, o clube montou estrutura imponente – que inclui um Centro de Treinamento com sete campos de futebol, que abriga 180 jogadores de 11 a 20 anos trabalhando diariamente. A associação não esconde a condição de ?trampolim? de atletas para outros centros, especialmente Europa e Coréia do Sul. Assim, a diretoria pôde manter a mesma base no elenco profissional há dois anos e fazer sucesso no estadual. ?Temos time para disputar de igual para igual com Coritiba, Atlético e Paraná?, anima-se o presidente Adilson Batista do Prado.

Em Cianorte, o clube acompanha a ascensão da economia da cidade, que rapidamente tornou-se pólo de indústrias de confecção. O clube apostou firme nas categorias de base – da equipe júnior, vice-campeã paranaense, saíram vários titulares do elenco atual: o goleiro Danilo, os zagueiros Diego, Montoya e William, o volante Emanuel e o meia Fernandinho. Para lidar com os jovens, o clube costuma trazer treinadores com bagagem na capital – a comissão técnica, comandada em 2005 por Caio Júnior e Serginho ?Cabeção?, hoje é encabeçada por Gilson Kleina, ex-Coritiba e Paraná. O clube lançou um pacote promocional para os jogos do estadual e fecha com a Prefeitura a aquisição de um terreno para construção de um CT. ?O Cianorte despertou e passou a trabalhar como uma empresa?, falou o presidente Marco Antônio Franzato. Em resumo, a política que pode tirar do sono o futebol do interior e do litoral do Paraná.

Ainda falta grana pra crescer mais

Apesar dos avanços, os pequenos do Paraná ainda dependem do apoio do poder público ou de ?mecenas? para sobreviverem. Os presidentes de Cianorte e Rio Branco admitem colocar dinheiro do bolso nos times, e o Londrina precisa de um patrocínio estatal para se manter. Uma realidade quase inevitável diante do pobre calendário.

Com pouco dinheiro proveniente dos direitos de transmissão (cerca de R$ 30 mil por todo o campeonato) e alijados de grandes competições nacionais,

os clubes do interior têm minguadas fontes de renda. No Rio Branco, o público que costuma ultrapassar os 5 mil pagantes na Estradinha garante ?alguma estabilidade?, segundo o presidente Possas. ?Mas ainda não é suficiente. Dependemos de colaboradores da cidade e diretores?, diz.

No Tubarão, a ?bênção?

é o patrocínio da empresa de telefonia municipal Sercomtel, que, segundo fontes extra-oficiais, totaliza R$ 50 mil mensais. O clube conseguiu trazer reforços de certo renome mais devido aos contatos do presidente Peter Silva – ex-presidente da Futebol Brasil Associados, entidade que gerencia os interesses dos clubes da Série B nacional – do que pela força do caixa.

No Cianorte, boa parte da folha salarial de R$ 60 mil mensais é bancada por dois homens – Marco Antônio Franzano, presidente do clube desde a sua fundação, em 2002, e dono de uma das maiores empresas de confecção da cidade, e o diretor de futebol Luiz Carlos Bersani, que tem uma empresa de factoring. O clube também recebe aporte do poder público, através da Prefeitura Municipal, além de doações menores de outros empresários. ?Esperamos que em 10 anos o Cianorte comece a andar sozinho.

Mas se subirmos para a Série B, decolamos e não caímos mais?, sonha Franzato.

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