O momento econômico favorável por que passava o Brasil e a realização da Copa do Mundo de 2014 possibilitaram a construção de novos estádios no País. Além das arenas erguidas para o Mundial, clubes como Palmeiras e Grêmio aproveitaram a onda para refazer suas casas. Três anos depois, o quadro mudou e a economia brasileira sofre. Ainda assim, grandes times do futebol nacional começam a se planejar para construir seus próprios estádios ou reformar os que já têm.
Flamengo, Santos, Atlético Mineiro e Fluminense apresentaram publicamente propostas de nova arena, enquanto que o Coritiba discute internamente alternativas de um novo estádio.
Os clubes puderam aprender com os erros cometidos na “primeira onda” de construções. Assim, apresentam projetos diferentes, com outras maneiras de financiar e utilizar o espaço. Outra diferença está no tamanho desses estádios: apenas o Atlético Mineiro deseja uma arena com capacidade superior a 30 mil – será algo em torno de 50 mil.
Ainda assim, o consultor de marketing e gestão esportiva Amir Somoggi se mostra cético com a empreitada. “Depois do fiasco que foi a primeira onda, não sei por que pensam nisso. Todas as administradoras dos estádios estão tendo prejuízos”, apontou. “E também me surpreende que ainda falem em estádio multiúso como se fosse a salvação. O estádio do Palmeiras é o melhor nessa área no Brasil porque faz jogos e shows, mas não tem exploração comercial de lojas, museus, eventos corporativos. Quem administra os estádios da Copa está apresentando perdas”, acrescentou.
O especialista diz o que ele considera adequado. “O correto seria fazer um business plan com antecedência, para decidir se vale a pena ter um estádio e não para ter o estádio. Vendo a viabilidade do plano, discutir com torcedores, conselheiros e imprensa, com transparência, e só então iniciar algo. Caso contrário, seria melhor ficar nos estádios que já existem, como o Pacaembu (caso do Santos) ou Mineirão (para o Atlético)”.
PROJETOS – O Flamengo apresentou em 11 de maio um compromisso de construir um estádio na Gávea, em parceria com a prefeitura do Rio. O planejamento está sendo elaborado. “Há um grupo de arquitetos trabalhando em cima disso. Toda semana nós temos três ou quatro reuniões para que a gente possa finalizar o detalhamento do projeto desse estádio”, informou o vice-presidente de patrimônio do clube, Alexandre Wrobel.
O dirigente justifica a opção pela Gávea e garante que o clube se preocupa em não atrapalhar os moradores da região, que iniciaram um abaixo-assinado contra a construção. “O Flamengo entende que é um projeto viável. O clube já teve conversas (com a associação de moradores do Leblon, bairro da região) num passado recente, e quando o projeto for detalhado em sua plenitude, voltaremos a conversar, pois nosso intuito é buscar um meio termo que seja bom para todo mundo”.
Sobre a capacidade reduzida (entre 20 e 25 mil pessoas), Wrobel diz que a intenção do Flamengo é utilizar o estádio próprio em jogos menores. “Nosso foco continua sendo brigar pelo Maracanã e ter um estádio de pequeno porte, um estádio auxiliar, para jogos de pequeno apelo, de categorias de base”.
Financeiramente, o Flamengo procura parceiros e confia na torcida para viabilizar a construção. Serão feitas campanhas direcionadas aos sócios e o clube diz já ter grupos interessados em investir na futura arena.
OUTRA VILA – O Santos também já escolheu o terreno ideal: a sede da Associação Atlética dos Portuários, com quem dividiria a utilização do novo estádio e das áreas sociais a serem construídas. Entretanto, parte do espaço pertence à União e o clube negocia para obter o controle. Oferece em troca área no Guarujá (SP), onde o Governo Federal deseja construir moradias para o programa “Minha Casa, Minha Vida” e que seria adquirida por investidores que desejam ajudar.
No projeto, o clube prevê um estádio para 30 mil pessoas, capacidade insuficiente para sediar finais de torneios da Conmebol. “Não podemos construir uma arena pensando em um único jogo”, diz o presidente Modesto Roma Júnior. Dessa forma, o Santos levaria jogos para o Pacaembu e Vila Belmiro. O custo do estádio foi orçado entre R$ 200 milhões e 300 milhões. “Não sairá um centavo do clube, será tudo bancado por investidores”, garantiu Modesto.
Em Minas Gerais, o Atlético pretende apresentar em 7 de agosto todos os detalhes do projeto de seu estádio ao Conselho Deliberativo para receber o aval para a construção da grande obra.
O Fluminense tem planos de erguer sua arena aproveitando o espaço e materiais do Parque Olímpico da Barra da Tijuca. O estádio teria capacidade para um público entre 18 mil e 22 mil pessoas e custaria menos de R$ 100 milhões. O local também interessa ao Flamengo. Por isso, os dois clubes cariocas fizeram manifestação conjunta garantindo que possuem iniciativas distintas e que uma não interfere na realização da outra.