Mesmo na Inglaterra, a presença de Gabriel Jesus no Jardim Peri, na zona norte de São Paulo, local onde o garoto cresceu, ainda é muito forte. Basta dar uma volta pelo bairro para sentir a presença de seu mais ilustre filho, mesmo ainda aos 20 anos. Foi lá que o ex-palmeirense cresceu e tem seus melhores amigos, além de alguns parentes. Muito antes de se tornar o camisa 9 da seleção e titular do Manchester City, comandado pelo técnico espanhol Pep Guardiola, o moleque franzino e de lábios grossos já fazia os seus gols nos campinhos de asfalto improvisados na avenida Maria Antônia Martins.

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Histórias do menino bom de bola circulam pelo bairro como verdadeiras lendas, algumas bem difíceis de acreditar até. “A gente estava brincando na rua e ele deu oito ‘chapéus’ em um amigo nosso. O moleque ficou tão bravo que foi embora”, contou Weslley Nascimento, de 18 anos, apontando para o lugar exato onde o lance ocorreu.

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Gabriel Jesus não é apenas uma lembrança para os moradores do Jardim Peri. Ele continua visitando o bairro, pobre e de gente alegre, mesmo depois de ter sido vendido para o Manchester City por R$ 121 milhões, após conquistar o ouro olímpico no Jogos do Rio-2016, ser campeão brasileiro pelo Palmeiras e escolhido o melhor do torneio, com 19 anos. O menino cumpre a profecia de jamais negar a sua origem depois de virar jogador de futebol profissional.

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Ele chegou no time inglês em janeiro deste ano, mas se lesionou na quinta partida. Depois de 68 dias fora, voltou para ajudar o clube a se classificar para a próxima edição da Liga dos Campeões da Europa. Terminou a temporada com sete gols em 11 jogos.

Não à toa, em suas primeiras férias depois da transferência do Palmeiras para o Manchester City e antes de se apresentar ao técnico Tite para dois amistosos na Austrália, Gabriel Jesus passou alguns dias no bairro, reviu amigos e visitou familiares. Em vídeo publicado em suas redes sociais, apareceu dando um “rolinho” em seu amigo Guilherme Silva, na mesma rua que jogava quando criança. “Mas não publicou o chapeuzinho que deram nele”, provocou o amigo Weslley. Também foi visto andando de bicicleta pelas ruas do Jardim Peri.

O orgulho pelo seu morador mais ilustre é tão grande no bairro que faz até torcedor do Corinthians usar camisa do Palmeiras – presente do próprio “Tetinha”, como Gabriel Jesus é conhecido por ali. A origem do apelido tem duas versões. Uns dizem que surgiu porque ele era chorão. A outra explicação está ligada ao futebol, claro. Segundo relatos, ele passou a ser chamado assim porque sempre dizia que o jogo estava fácil, uma “tetinha”.

Na rua dos Camarões, Gabriel Jesus tem um grafite em sua homenagem, logo depois que foi campeão olímpico pelo Brasil no Rio. No desenho, o jogador veste a camisa da seleção, com o nome do bairro tatuado no braço. Do lado, está escrita a frase: “Posso até sair do Peri, mas o Peri nunca sairá de mim”.

No muro pintado de laranja a imagem do atacante está em destaque, acompanhada de outros dois brasileiros famosos, o piloto Ayrton Senna e o rapper Sabotage. A pintura foi feita para o Dia das Crianças, quando os moradores organizaram a festa. “Estava difícil fazer a última festa, mas o Gabriel ajudou. Fechamos a rua, teve piscina de bolinha e futebol de sabão. Cada ano fazemos um bolo maior, o próximo vai ter oito metros”, disse Rui da Silva Lopes Júnior, que teve a ideia de fazer a homenagem ao craque juntamente com seu irmão e um amigo.

A casa onde Gabriel Jesus morava fica em uma rua íngreme de paralelepípedos e calçada estreita. A residência parece bem pequena, apesar de ser difícil enxergar os detalhes por cima do portão de ferro que toma conta de toda a fachada. No imóvel vizinho ainda mora o tio do jogador, Luís Antônio Diniz.

“A mãe (Vera Lúcia) separou do marido antes de o Gabriel nascer. Ele só conheceu o pai quando tinha 14 anos. Foi apresentado a ele. Ela teve de cuidar de quatro filhos sozinha. Mas sempre trabalhou fazendo faxina. Saía de casa de manhã e voltava só à noite. Teve um repórter que perguntou uma vez para ela se o Gabriel corria risco de entrar para o crime caso não tivesse virado jogador de futebol. Tenho certeza que não. O Gabriel é um menino muito bom”, afirmou.

Questionado se gostaria de morar em Manchester com o sobrinho, o tio sorriu. “Eu não, meu lugar é aqui no Peri”.