São Paulo (AE) – Sem um jogador sequer entre os 100 primeiros do ranking mundial – o que não acontecia há mais de nove anos – e com Guga vivendo seu ostracismo, a esperança de melhores momentos para o tênis brasileiro recai nos juvenis. Uma dessas promessas está longe das origens saxônicas de Kuerten, Kirmayr, Kley, Keller, Kist ou Koch e trata-se de um Zé, o José Pereira Júnior, filho de Zé Pereira, um ex-bóia-fria do sertão de Pernambuco, que, ao buscar vida nova emigrando para o Sul do País, abriu, sem querer, as portas do esporte para sua família ao empregar-se como encarregado de manutenção em uma academia em Curitiba, no Paraná.
Os benefícios do esporte ao desenvolvimento e à saúde já são visíveis. José Pereira, o filho, com apenas 14 anos, mede 1,80m, enquanto seu pai não passa do 1,60m. A construção desse físico vem de um trabalho duro.
O filho do ex-bóia-fria tem uma rotina exigente. Acorda às 6h30, viaja diariamente de Balneário de Camboriú para Itajaí, em Santa Catarina, e treina pela manhã e à tarde. Seu esquema é quase de um profissional. Por isso, os estudos ficam para segundo plano, tendo aulas apenas uma vez por semana.
?Todas as segundas-feiras vou à escola?, enfatiza Zé Pereira, com um sorriso meio sem jeito. ?Mas minha vida é o tênis?.
Os horizontes para Zé Pereira hoje estão bem mais amplos apesar do quase abandono aos estudos. E uma série de coincidências levou o menino a revelar seu talento. Como seu pai trabalhava na academia, Zé e sua irmã Teliana (que também se transformou em tenista) pegavam bolas para ganhar uns trocados. Nas brincadeiras com raquetes velhas, o dono da academia, Didier Rayon, um francês que se radicou no Brasil, viu nas crianças um jeito especial para o esporte.
?O dono da academia (Didier) me levou para o Instituto do Tênis em Santa Catarina, onde estou treinando até hoje?, contou Zé Pereira, esta semana em São Paulo, onde disputou etapa do circuito juvenil no Clube Harmonia.
O Instituto do Tênis fornece uma espécie de bolsa de estudos a jovens talentos do esporte. Oferece toda a estrutura para a formação de um tenista, como técnicos, nutricionistas, preparadores físicos, e tudo mais que for necessário, em troca de um contrato. Se o juvenil profissionalizar-se, destinará parte de seus prêmios ao Instituto, que reinvestirá na formação de outros jogadores.
Com essa opção, Zé Pereira conta com orientação de técnicos como o argentino Patrício Arnauld, ou brasileiros experientes como Ivan Kley e Marcos ?Bocão? Barbosa. E com força, talento, boa preparação, as esperanças são muitas de que o novo ídolo do tênis brasileiro seja um Zé. ?O tênis mudou minha vida. Estou muito feliz?.
O futuro de Zé Pereira promete mesmo ser brilhante. Com apenas 14 anos e 1,80m de altura, já disputa torneios de 16 anos. Esta semana participou, em São Paulo, do Masters do Circuito Credicard, com os melhores classificados nas seis etapas realizadas durante do ano. Numa delas, em São José dos Campos, interior de São Paulo, foi o campeão, mesmo jogando com adversários de uma categoria acima.
