São Paulo
– Os dois dias de reunião do Comitê Executivo da Fifa, durante a semana, terminaram com uma vitória e algumas restrições para a América do Sul. A entidade que controla o futebol no mundo decidiu dar à região o direito de organizar a Copa de 2014 o Brasil surge como mais forte candidato. Em contrapartida, negou-lhe o direito de disputar, na repescagem, a quinta vaga para o torneio de 2006 e ainda impôs restrições para a convocação de atletas em amistosos.Os salões da sede da Fifa, em Zurique, se transformaram em cenário de negociações ?diplomáticas?, das quais participou a elite dos cartolas ligados ao poder central. As principais quedas-de-braço giraram em torno dos próximos Mundiais e da conciliação de interesses de confederações e clubes, sobretudo da Europa, que se sentem prejudicados com o calendário sobrecarregado das seleções.
Os sul-americanos tiveram de engolir uma exigência dos seus mais importantes investidores. Os europeus conseguiram fazer com que, em acordo de cavalheiros, os dirigentes latinos se comprometessem a convocar seus ?estrangeiros? para amistosos marcados apenas no continente. Isso significa que a CBF, por exemplo, não terá mais facilidade para contar com Rivaldo, Ronaldo, Roberto Carlos em partidas caça-níqueis marcadas em outras regiões do mundo.
A restrição é conseqüência de reclamações de grandes clubes, como Milan, Real Madrid, Bayern de Munique, que se revoltaram com apresentações recentes dos pentacampeões do mundo na Coréia do Sul (novembro de 2002) e na China (em fevereiro). Na opinião dos diretores desses times, atletas de ponta, caríssimos e imprescindíveis tiveram de submeter-se a maratona de viagens apenas para engordar os cofres da entidade nacional. Como contra-argumento, os sul-americanos alegam que, em datas reservadas pela Fifa, têm direito de contar com suas estrelas. Apesar do acordo, logo logo podem surgir atritos.
Os sul-americanos terão facilidade ainda assim relativa só em jogos oficiais das eliminatórias. Como a fase de classificação para a Copa de 2006 deve começar em setembro deste ano, receberam autorização para repatriar todos os jogadores que considerarem necessários. Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai são os principais beneficiados com essa ?liberalidade?, pois têm seus destaques espalhados pela Europa.
Como demonstração adicional de força, os times europeus também foram autorizados a liberar convocados para a disputa da Copa das Confederações em junho, na França , apenas cinco dias antes do início da competição. O Brasil, como atual campeão do mundo, participa, e o técnico Carlos Alberto Parreira pode ir pensando em plano alternativo para formar equipe forte, entrosada e competitiva em menos de uma semana.
A Fifa também fingiu não entender reclamação mais urgente da América do Sul, que não se conforma de ter ficado sem a repescagem para 2006. Houve a tentativa de convencer o Comitê Executivo a fazer com que o quinto colocado da região disputasse vaga com o quarto colocado da Concacaf e dessa forma confirmasse o lugar já reservado para a Oceania. Todo mundo se fez de desentendido.
Os sul-americanos não desistem e prometem voltar à carga agora com alternativa encarada com simpatia pelos alemães. Os anfitriões da próxima Copa acenam com a possibilidade de verem ampliado de 32 para 36 o número de participantes da competição. Dessa maneira, certamente sobraria uma vaguinha a mais para a América do Sul, que tem 9 dos 17 títulos mundiais. O assunto não foi vetado e faz parte de novas rodadas de discussão.
Para agradar mesmo, só a promessa de que, em 2014, o Mundial vem para cá. Como há muito tempo pela frente, é bom não comemorar com antecedência.