Um teste para o Brasil, para os estádios e para as seleções. Mas a Copa das Confederações também será um teste para o futuro do futebol. O torneio será o primeiro entre seleções a contar com o uso da tecnologia para determinar se a bola cruzou a linha do gol. Um êxito na aplicação do sistema significará a sua aprovação para a Copa do Mundo de 2014 e, segundo a Fifa e especialistas, também abrirá as portas do esporte para a tecnologia. Mas há quem denuncie a medida como mais uma manobra da entidade para lucrar.

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No lugar dos olhos do árbitro, são mais de 500 fotos registradas por segundo em relação à bola e no momento em que cruza a linha do gol. O sistema aprovado pela Fifa é da empresa alemã GoalControl 4D, que desbancou tecnologias inglesas e de outros países para ficar com o contrato milionário.

Apenas para a instalação do sistema, a administração de cada estádio despenderá R$ 520 mil. Durante um dia de partida, a operação do sistema custará cerca de R$ 8 mil. Serão 14 câmeras instaladas para registrar a posição da bola em cada gol. Elas estarão conectadas a um sistema de processamento de imagem que irá registrar cada movimento da bola. Quando ela cruza a linha do gol, uma mensagem instantânea é enviada a um relógio de pulso que ficará com o árbitro.

No Mundial de Clubes, no final de 2012, a Fifa usou um sistema parecido. Mas ele não foi acionado em nenhuma ocasião. Agora o teste será maior, com mais estádios e, desta vez, com seleções nacionais. Se convencer, será usado na Copa de 2014.

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Mas nem todos estão convencidos de que esse deve ser o caminho adotado pelo futebol. O presidente da Uefa, o francês Michel Platini, resiste. “Na verdade, o problema não é essa tecnologia, mas o princípio. O que temo é que estamos abrindo as portas do futebol à tecnologia”, disse. “E o que eu quero saber é qual será o limite”.

O argumento é considerado pertinente entre os árbitros: se a tecnologia pode ser usada no gol, por que não para detectar impedimentos, saída pela linha lateral e tantos outros casos? Pierluigi Collina, ex-árbitro e um dos membros do Comitê da Uefa, também alerta que o sistema pode não ser perfeito. “Não estou certo de que o sistema seja 100% seguro”, disse. “Meu computador também tem problemas”. Para ele, é mais adequado ter mais um assistente atrás dos gols, como já ocorre em vários torneios.

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Segundo Platini, só na implementação desse serviço de registrar um gol, a Europa teria de gastar mais de US$ 70 milhões (cerca de R$ 150 milhões) para equipar seus 280 estádios. O valor pode parecer pouco para os grandes clubes de elite, mas times menores teriam dificuldade em gastar mais 280 mil euros por temporada para garantir um sistema que funcione.

Algumas federações na Europa já indicaram que vão ignorar a Fifa e continuar com suas práticas normais, sem o uso da tecnologia. Uma delas é a federação italiana, que se recusou a entrar no que chama de “aventura”. Mas críticos dentro da Itália apontam que o uso da tecnologia poderia reduzir as chances de manipulação de resultados, um problema que vem afetando o país há anos.

O dilema, para muitos clubes, ocorrerá quando a Liga dos Campeões passar a exigir essa tecnologia ou quando, para se candidatar a receber uma Copa do Mundo, os estádios tenham de se mostrar compatíveis com a tecnologia.

Campeonatos nacionais já começam a se mobilizar para instalar sistemas parecidos. A Premier League, na Inglaterra, já aprovou a implementação da tecnologia a partir de setembro, quando o campeonato será iniciado. Para chegar a essa decisão, todos os 20 clubes da primeira divisão votaram. Os ingleses, ao contrário da Fifa, usaram sua empresa local, a Hawk-Eye, que já presta o mesmo serviço para o críquete e tênis. Serão sete câmeras por gol.

O que começa a preocupar os especialistas é que os sistemas são incompatíveis e, em algum momento, federações terão de tomar decisões para harmonizar o sistema e evitar uma guerra de marcas. A própria Fifa admite que o número de empresas oferecendo os serviços ainda é pequeno, o que abre as chances de um verdadeiro monopólio dessas companhias em relação ao futebol. A entidade está tentando convencer outras empresas a seguir o mesmo caminho e desenvolver a tecnologia. Por enquanto, essas empresas teriam de ser aprovadas por um laboratório suíço credenciado pela Fifa.

Mas fontes na Uefa confirmam que parte do debate não tem relação com a tecnologia ou o desejo de ver o futebol em seu estado bruto e natural, mas sim em saber quem está por trás de empresas que nos últimos anos surgiram apenas para criar esse sistema. Na Inglaterra, a Premier League terá de pagar mais de US$ 400 mil à Fifa apenas pelo direito de usar seu sistema registrado e patenteado.