São Paulo – A morte do zagueiro Serginho reforça uma discussão que está em curso na Fifa desde 2000: os efeitos do desgaste mental e físico dos jogadores com o número excessivo de jogos por temporada. A entidade coloca o tema como crítico e propõe redução drástica no número de jogos. No Congresso de Medicina Esportiva que será organizado pela Fifa de quarta a sábado, em Cancún, o tema central será a morte súbita dos jogadores.
Nicolás Zazur, médico presidente executivo do congresso em Cancún, confirmou que a morte de Serginho obriga congressistas a discutir o assunto com profundidade. “Dedicaremos um dia ao tema da morte súbita de jogadores para unificar critérios e propor à Fifa melhores exames (médicos) prévios aos jogadores. Não se pode permitir que corram risco de vida.”
No início de outubro, o Comitê Executivo da Fifa já havia resolvido reduzir os jogos a partir de 2006. A decisão foi tomada com base em estudos de técnicos, médicos e especialistas. Carlos Alberto Parreira, técnico da seleção e observador da Fifa, é favorável à redução de jogos.
“As exigências do futebol de hoje beiram o absurdo. O jogador é submetido a todo tipo de pressão. Disputar mais de 70 partidas por ano é inadmissível”, disse o técnico em recente entrevista para a Agência Estado. “Hoje, o desgaste é anormal. A mídia e o marketing também exercem pressão demasiada. E têm os contratos, patrocinadores, empresários…”
Joseph Blatter, presidente da Fifa, espera que no próximo congresso da entidade, dia 18 de dezembro, em Zurique, seja definido o número máximo de jogos por ano que cada atleta deve cumprir. “Os jogadores estão cansados. Queremos menos partidas. A Fifa vai interferir para que isso aconteça.”
Menos de 1% faz exames
São Paulo –
Menos de 1% dos jogadores brasileiros submetem-se aos exames preventivos necessários. A delicada afirmação é do especialista em medicina esportiva Osmar de Oliveira. E confirmada por outro médico especializado, Joaquim Grava, que teve longa passagem pelo Corinthians. “O que é preciso melhorar no Brasil é a qualidade do exame médico do atleta. Considero isso mais urgente do que a redução no número de jogos”, diz Osmar. Grava acrescenta: “Viajei para alguns lugares com o Corinthians onde não havia nem vestiário, quanto mais algum tipo de atendimento médico…”.Para Osmar, o excesso de jogos pode ser o vilão dos problemas de joelho, tão comuns em atletas. Mas não pode ser responsabilizado pela ocorrência de doenças do coração. Embora concorde na questão do exame rigoroso, Grava julga que a questão do número de jogos também deve ser revista. “Desde a década de 90 que venho batendo nesta tecla: o jogador treina demais, joga demais, está no limite máximo. Alguma coisa deve ser feita.”
Grava diz que jogadores que atuaram há algum tempo, como Sócrates, por exemplo, teriam dificuldades em jogar hoje por causa das exigências de treinamento físico. “A luz vermelha está acendendo. Antigamente, não enfrentávamos esse tipo de problema. O jogador atuava só aos domingos, descansava nas segundas-feiras, depois voltava aos treinos. E ainda tinha férias normais. Dessa forma, conseguia ter uma condição melhor do que a atual.”
Grava foi o mentor da Associação Brasileira dos Médicos de Futebol. Depois, a entidade praticamente deixou de existir. “É um bom momento para que ela volte a atuar. Temo que, de repente, toda a culpa sobre casos como o de Serginho recaia sobre o departamento médico dos clubes. Seria injusto.”