A possibilidade da Fifa retirar de João Havelange o título de presidente honorário será discutida no seu congresso, que será realizado no próximo mês, embora Joseph Blatter, seu sucessor, tenha declarado nesta sexta-feira que nenhum país-membro solicitou a análise do caso do brasileiro, envolvido em um escândalo de propinas.
Blatter disse em julho passado que seu antecessor “não podia permanecer como presidente honorário” depois de um relatório ser publicado, confirmando que Havelange recebeu propina na negociação da venda dos direitos de transmissão da Copa do Mundo na década de 1990.
Depois, Blatter declarou que o a situação de Havelange, de 97 anos, deveria “ser tratada no próximo congresso”. O dirigente brasileiro presidiu a Fifa por 24 anos, até 1998.
O prazo para que os membros da Fifa propusessem assuntos a serem discutidos no seu congresso, marcado para o dia 31 de maio em Maurício se encerrou na semana passada. “Não houve nenhuma proposta sobre isso, mas está na agenda”, disse Blatter. “Há um ponto na agenda que é chamado ‘honra'”.
Perguntado se ele espera que Havelange mantenha o seu título, Blatter disse que não sabe. “Porque a pessoa interessada, o próprio Havelange, não disse nada sobre isso”, afirmou.
Havelange pode enfrentar uma ação disciplinar formal nos próximos dias pelo seu papel no conhecido caso da ISL, a agência de marketing com sede na Suíça, que negociou os direitos de transmissão da Copa do Mundo antes de falir em 2001.
O juiz Joachim Eckert tem um prazo até 15 de abril para recomendar uma ação depois da apresentação de um relatório de 4 mil páginas, no mês passado, pelo promotor Michael J. Garcia.
A Fifa pediu no ano passado para Garcia estudar o caso ISL, que implicou atuais e antigos membros do seu comitê executivo, acusados de terem recebido suborno. Documento divulgado pela Justiça da Suíça também sugeriu que Blatter sabia sobre um pagamento de 1 milhão de francos suíços (aproximadamente R$ 470 mil) para Havelange em 1997.
O caso de Havelange também envolve Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, com pagamentos que totalizaram US$ 22 milhões (R$ 44 milhões) entre 1992 e 2000. Teixeira renunciou aos seus cargos no futebol no ano passado.
O paraguaio Nicolas Leoz, de 84 anos, presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol, teria recebido US$ 730 mil (R$ 2,96 milhões), mas nunca enfrentou uma investigação da Fifa. A situação é mesma do camaronês Issa Hayatou, vice-presidente da Fifa, que foi repreendido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) por ter recebido 100 mil francos (R$ 47 mil) suíços da ISL em 1995.
Havelange foi membro do COI por 48 anos, mas renunciou ao seu cargo em dezembro de 2011, dias antes da entidade olímpica definir se iria suspendê-lo em sua própria investigação sobre o caso da ISL.