Ferrari inibe revoluções

Melbourne –

O carro-xerox da Ferrari deixou cabisbaixos os projetistas dos modelos revolucionários que a Fórmula 1 estava ansiosa para ver. Ontem, na abertura dos treinos para o GP da Austrália, as duas F2004 sobraram e deixaram comendo poeira o carro-tamanduá da McLaren, o carro-gilete da Williams e o carro-onda da Renault.

Os apelidos foram sendo dados ao longo da pré-temporada, talvez para animar o campeonato. E havia motivos para isso, afinal foram quebrados 24 recordes em várias pistas durante os treinos de inverno. Enquanto isso, em Maranello, a Ferrari apenas aperfeiçoava uma receita que vem dando certo desde 2001, sem preocupações estéticas. Quando apresentou o novo modelo, muita gente ficou decepcionada ? a F2004 era a cara da F2003-GA, do ano passado, quase uma cópia xerox. “Bem, com esse a gente ganhou o título, talvez não seja tão ruim assim”, justificou Michael Schumacher.

O grid para a primeira etapa do mundial foi definido na madrugada de hoje (a sessão deveria terminar por volta da 1h45, horário de Brasília), e pode ser que os prognósticos apressados tenham ido por água abaixo. Mas o fato é que nas duas sessões livres da sexta, a Ferrari apavorou a concorrência. Schumacher e Rubens Barrichello foram os mais rápidos em ambas, com o alemão estabelecendo novo recorde para o circuito de Albert Park, com 1min24s718. O brasileiro ficou 0s108 atrás. Jarno Trulli, da Renault, foi o terceiro, a astronômico 1s039 de distância.

“Em tudo”, disse Rubens quando lhe perguntaram no que a F2004 é melhor que a F2003-GA, carro que teve grandes dificuldades para levar seu companheiro ao hexacampeonato no ano passado. “É um carro excepcional. Mas não devemos achar que o resultado daqui vai ser o mesmo para o resto do campeonato. A gente costuma andar bem em Melbourne.” Verdade. Nos últimos cinco anos, foram quatro vitórias, com Irvine em 1999 e Schumacher de 2000 a 2002. No ano passado ganhou David Coulthard, da McLaren.

Os pneus Bridgestone, de acordo com Barrichello, melhoraram bastante e ajudaram. “É a melhor Ferrari que já dirigi”, resumiu. “E ainda pode melhorar, estou aprendendo esse carro. Andei muito pouco com ele em pista seca.”

Assim, os revolucionários desenhos da Williams, com seu bico largo e robusto, da McLaren, de nariz fino como uma agulha, e da Renault, cheia de ondas no seu perfil aerodinâmico, correm o risco de virar história diante do convencional carro feito por Rory Byrne na Itália. É com ele que Schumacher busca o hepta, e é ele que será caçado durante toda a temporada. Só que os rivais correm o risco de não encontrá-lo tão cedo.

O GP da Austrália, primeiro dos 18 deste ano, será disputado hoje em Melbourne em 58 voltas, com largada prevista para a meia-noite, no horário de Brasília.

Pneus moles não agüentam

Melbourne

– Foi estranho o que aconteceu durante o primeiro treino livre de ontem (noite de quinta no Brasil). Barrichello vinha numa volta muito boa, com primeiras parciais abaixo do que Schumacher tinha registrado, quando foi chamado para os boxes. Deixou de fechar uma volta que, de manhã, poderia entrar na casa de 1min24s. Schumacher tinha 1min25s127. Motivo: estava com os pneus mais macios da Bridgestone. Que não seriam usados na classificação, nem na corrida.

Àquela altura, a Ferrari já tinha descoberto que os compostos moles, mais aderentes e rápidos, não agüentariam o tranco. O carro é rápido demais, na avaliação da fabricante japonesa de pneus. Assim, os mais duros foram escolhidos para as 58 voltas do GP australiano.

É um dado assustador para a concorrência. Significa que se a Bridgestone conseguir produzir compostos macios um pouco mais resistentes, talvez Williams, McLaren & cia tenham de recorrer a lunetas para ver os carros da Ferrari.

É claro que traçar um quadro tão definitivo depois de duas horas de treinos na primeira corrida de 18 pode ser temerário. As outras sempre podem melhorar.

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