Uma das preocupações da comissão técnica do Brasil de agora em diante é perder Neymar por lesão. O Brasil precisa do seu craque durante as sete partidas até a final do torneio, sobretudo nas fases eliminatórias, quando não há mais chance de recuperação. O Brasil precisa de Neymar, como a Argentina precisa de Messi e Portugal precisa de Cristiano Ronaldo. Como o Brasil precisa de Pelé.
É dessa forma que Felipão vê a dependência da seleção do craque. “Todo time que tem um grande jogador, depende dele.” Contra a Sérvia, num campo pesado e diante de marcadores grandalhões e duros, Felipão não pensou duas vezes para tirar o atacante do jogo no segundo tempo, quando a seleção vencia por 1 a 0, mas os sérvios ainda não tinham se entregado. Bernard ganhou sua vaga.
O gesto foi uma contradição do treinador, que havia dito na Granja Comary um dia antes que Neymar precisava jogar para se sentir bem e adquirir ritmo porque ele ficou fora das partidas finais do Barcelona na temporada. Estava machucado. A intenção do treinador era deixar o garoto em campo durante os 90 minutos como fez diante dos panamenhos no primeiro teste.
Felipão sabe que a seleção se escora em Neymar, um dos três melhores jogadores do mundo, assim como todas as fichas argentinas são depositadas nas cartas de Messi, e as portuguesas, na de Cristiano Ronaldo. “Isso é normal. Neymar é igual a todos esses grandes jogadores. Toda seleção ou time que tem um grande jogador, vai se apegar a ele.Isso é normal”, disse.
É claro que o Brasil espera muito de Neymar. O próprio Fernandinho admitiu isso depois da partida em que a seleção ganhou do Panamá. “Ele vai ganhar muitas partidas para o Brasil. E nós daremos ao Neymar todo o suporte que ele precisa.”
Parreira foi o primeiro a perceber que Neymar precisava ter sossego para ajudar a seleção. Foi ideia dele liberar o atacante para uma viagem a Barcelona antes da Copa das Confederações, no ano passado. O jogador havia acabado de assinar contrato com o time espanhol, mas ainda vivia a expectativa da apresentação no Camp Nou. O Brasil já estava reunido para o torneio. A intenção da comissão técnica naquela ocasião foi tirar um peso das costas do garoto para que ele pudesse trabalhar com serenidade e mais concentrado na seleção. Parreira e Felipão sabem exatamente quanto Neymar representa para o Brasil nesta Copa do Mundo. E até Neymar já não foge mais dessa responsabilidade.
Mas tanto Felipão quanto Parreira não estão dispostos a assumir essa dependência do time, nem precisam com tantos bons jogadores no elenco, de Marcelo a Fred, passando por Oscar e Hulk, que tem feito uma função tática como poucos na posição.
Ocorre que é visível o rendimento da seleção quando Neymar vai mal, como foi diante dos sérvios. Ele tentou o tempo todo, mas não conseguiu nada. Por vezes a bola lhe escapou dos pés. E para provar que o craque geralmente é o espelho da equipe, todos os outros também não foram bem no Morumbi, até a defesa, que vivia fase diferenciada individualmente. Daniel Alves e Marcelo bobearam em algumas jogadas e quase complicaram a vida do Brasil. Em um desses erros, a Sérvia acertou a trave de Julio Cesar.
CARTA NA MANGA – Felipão imagina que a partida contra a Sérvia seja o modelo que ele precisava para convencer seus jogadores de que a Copa não será moleza para os anfitriões. E fazer o Brasil jogar quando Neymar estiver mal será seu grande desafio.
Sua carta na manga chama-se Willian. O ex-corintiano e agora do Chelsea pode ajudar o chefe nisso. E não necessariamente na vaga de Oscar. Willian pode ser um parceiro para desafogar Neymar. “Precisamos achar as brechas para penetrar nas defesas dos adversários, Às vezes não é fácil”, disse, referindo-se a quase todo o primeiro tempo do jogo do Brasil em São Paulo.
Quando entra no segundo, Willian pega as defesas já cansadas e por vezes desarrumadas. Sua a habilidade e rapidez, como o próprio Felipão ressaltou, podem ser mais úteis nessa parte do jogo do que desde o começo.