Demorou três dias para que o técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, tocasse no assunto das revistas eróticas que seriam distribuídas a alguns jogadores durante a Copa do Mundo, denominado carinhosamente como “kit-sexo”. Ontem, quando a equipe desembarcou em Busan, na Coréia do Sul, seguindo para Ulsan, onde faz sua estréia no Mundial dia 3, contra a Turquia, o treinador comentou a atitude agressiva e desrespeitosa com que, aos gritos recheados de palavras de baixo nível, ofendeu a reportagem. “Uma ou outra vez preciso reagir como eu sou”, disse. “Senão, vou ter uma úlcera de raiva.”
A informação caiu como uma bomba sobre a delegação, ainda na Malásia, e se tornou a maior polêmica no período da “Família Scolari”. Apesar das críticas que recebeu até mesmo dentro da própria comissão técnica, o treinador não se mostrou arrependido pela demonstração de descontrole emocional. Pelo contrário. Deu a entender que tal ‘cena’ pode voltar a acontecer. “Tem reações nas pessoas que, mesmo com 50 anos no cargo, continuam existindo. É a questão pessoal”, afirmou.
“Nesses casos, não adianta orientação do Rodrigo (Paiva assessor de imprensa da CBF), nem de ninguém.” Mesmo com o semblante mais tranqüilo, desta vez sem o olhar esbugalhado e vermelho de raiva, o técnico brasileiro fez questão de deixar claro que não vai mais falar sobre as revistas. “A CBF já se manifestou oficialmente sobre isso e para mim está tudo encerrado”, completou.
Mais dúvidas
Como se não bastasse esse problema para resolver, Felipão voltou a dizer que, a uma semana da estréia no Mundial, pretender fazer observações para saber com quem vai entrar jogando diante dos turcos. As dúvidas, que até então estavam concentradas na zaga (Edmílson ou Anderson Polga, com vantagem para o primeiro) e no meio-campo, sendo Kléberson o mais provável, chegaram também ao ataque.
Insatisfeito com o desempenho de Rivaldo e encantado com Denílson, Felipão revelou a possibilidade de mudar, senão na estréia, talvez no decorrer da competição. “Vi o jogo contra a Catalunha, contra a Malásia. Quando um jogador entra no meio da partida e joga bem, quem sabe não mereça começar jogando”, afirmou, sem citar nomes.
Uma das explicações para a seleção brasileira ainda não estar definida pode ser o tempo que teve de preparação. Scolari disse que não teve chance de fazer tudo o que gostaria nas duas fases de preparação, primeiro na Espanha, depois na Malásia. “Não conseguimos realizar tudo o que programamos. Ora era o exame de um (atleta) que demorava para ser feito, ora era outro que precisava de um trabalho específico”, explicou.
Apesar dos problemas, já sabe que a ansiedade vai começar a ficar mais evidente. “Quando faltarem dois ou três dias para o jogo (contra a Turquia) e estivermos com nossa equipe praticamente definida, muda um pouco nosso comportamento.”
Pés no chão
O treinador aproveitou também para minimizar os efeitos das declarações do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, sobre seu futuro. Ainda em Barcelona, o cartola afirmou que não tinha dúvidas de que Scolari permaneceria no cargo após a Copa. “Vocês (jornalistas) sabem melhor do que eu que o resultado diz tudo”, observou. “Quem não ganha não vai ficar nunca no posto. Se não fizermos um bom trabalho, ninguém segura.”
Diante de tantos problemas, o técnico da seleção mostrou no desembarque de que forma busca forças para enfrentar as barreiras: a psicologia. Assim como fez na Copa América de 2001, na Colômbia, vai fixar em locais estratégicos da concentração cartazes com frases de impacto que, diz acreditar, motivam os atletas. “Vamos ter muitas conversas e recados para os jogadores.”
AE ? Ulsan
Emerson feliz como capitão
Entrar no campo com a camisa da seleção brasileira é uma responsabilidade especial, sobretudo para um jogador de futebol. Entrar no campo para disputar uma Copa do Mundo, com a obrigação de corresponder às expectativas de milhões de pessoas, agrava ainda mais o problema. Contudo, para um jogador em particular, a situação pode ser ainda mais complicada. Emerson, o capitão da equipe, tem, além dessas duas dificuldades, o peso de ser o atleta de confiança do técnico Luiz Felipe Scolari.
Em uma de suas entrevistas, concedida em Kuala Lumpur, na Malásia, onde a seleção encerrou a segunda etapa de sua fase de preparação para a Copa do Mundo da Coréia do Sul e do Japão, com uma vitória por 4 a 0 sobre os donos da casa, o treinador enfatizou a importância do volante em seu time. Mais, depositou sobre ele a maior parte de sua superstição. “Gosto de tudo o que acaba no número 7. Por isso, dei essa camisa para o Emerson, que vai ser nosso capitão no Mundial”, disse Scolari. “Assim, quem sabe, ele tem uma força extra.”
Pois bem, é diante desse cenário que o capitão do Brasil vai liderar a equipe na busca pelo pentacampeonato. Com um jeito tímido, fala mansa que, nem de longe, deixa transparecer uma das características mais marcantes dos capitães, ou seja, o tom de voz alto, Emerson se diz tranqüilo. E não só com a competição, mas também com o “cargo” a ele designado, como deixou claro nessa entrevista à Agência Estado. “Fico até feliz em saber que o professor (Scolari) acredita em mim dessa forma.”
Agência Estado – Ser escolhido como o capitão da seleção brasileira nessa Copa do Mundo é uma responsabilidade a mais para você?
Emerson – Não acho que isso possa ser encarado como uma espécie de peso a ser carregado. Algo que te deixe apreensivo, com receio. Eu, particularmente, fico feliz em poder colaborar dentro do campo de várias maneiras. Gostei de ter ficado com essa incumbência.
AE – Tudo bem, mas o Luiz Felipe Scolari já deixou claro que, para ele, capitão não é simplesmente aquele jogador que acompanha o sorteio sobre de que lado do campo cada time vai jogar…
Emerson – Eu sei disso. E fico ainda mais satisfeito em saber que vou ter uma participação mais ativa dentro do campo. É aquela velha história. O capitão tem de ser a voz do treinador durante a partida.
AE – Como você se sentiu diante dessa decisão dele atribuir o número sete, que é o número de sorte do Scolari, a você?
Emerson – Nós não conversamos nada sobre isso. Mas fico feliz em saber que o professor acredita em mim dessa forma. E em uma Copa do Mundo, qualquer ajuda é bem-vinda.
AE – De fora, você não parece ter aquelas características típicas dos capitães, como o hábito de gritar, dar broncas. O que, no seu jeito de ser, te fez ser escolhido para essa função?
Emerson – O comportamento de um jogador não é necessariamente igual dentro e fora do campo. Durante o jogo eu costumo cobrar bastante meus companheiros, orientá-los tanto na marcação, no posicionamento. É importante que todos os atletas sintam confiança em você. Ser capitão não é uma função que te dão, mas que a pessoa acaba conquistando naturalmente, com espírito de liderança.
AE – Você diria que é um trabalho que possui um lado psicológico forte?
Emerson – Não tenha dúvida. Você precisa saber lidar com as pessoas em diferentes situações e ter sensibilidade para falar a coisa certa na hora certa. Me sinto feliz com isso.
AE ? Ulsan
Fifa exige 10
O Comitê Executivo da Fifa proibiu ontem a Argentina de retirar a camisa número 10 da seleção. O goleiro Bonano também não poderá usar a camisa 24. Os argentinos já haviam recebido permissão do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2002 para aposentar a camisa 10, em homenagem a Diego Maradona. A decisão, porém, ainda dependia de uma autorização formal do Comitê Executivo da Fifa, o que não aconteceu.
Poupado
Claudio Caniggia não treinou com seus companheiros ontem. O atacante argentino participou apenas de atividades físicas leves, depois de ter sentido, no sábado, dores no joelho. Segundo o médico da delegação argentina, foram apenas medidas preventivas para não desgastar o atleta, de 35 anos, que já se recuperava de uma lesão no joelho. O técnico Marcelo Bielsa ainda não sabe se poderá contar com Caniggia para a estréia na Copa, dia 2 de junho, contra a Nigéria.
De quatro
A Croácia derrotou, por 4 a 0, a equipe do Toyama Dreams, em partida amistosa disputada ontem. Os gols foram marcados por Niko Kovac, Davor Suker, Daniel Saric e Goran Vlaovic. A Croácia está no Grupo G do Mundial, com México, Itália e Equador.
“Dinamáquina”
No último teste das duas seleções antes da estréia na Copa do Mundo, a da Dinamarca levou a melhor e venceu a da Tunísia por 2 a 1, ontem. Mesmo desfalcados da sua estrela – o meia Jorgensen -, os dinamarqueses mostraram força e ganharam ainda mais motivação para a estréia na competição, sábado, contra o Uruguai, em Ulsan, pelo Grupo A, o mesmo de França e Senegal.
Mal das pernas
A seleção do Equador não jogou bem no último teste antes da estréia na Copa de 2002. Ontem, em Tottori, empatou com o Kioto Purple por 1 a 1. Os jogadores atuaram com cautela, demonstrando preocupação de evitar contusões. O único gol dos equatorianos foi marcado por Alex Aguinaga. Tomitha empatou para os japoneses. O Equador disputou 14 jogos preparatórios, com sete vitórias, cinco derrotas e dois empates. A estréia será contra a Itália, em Sapporo, dia 3 de junho.
Ao ataque
O técnico da seleção espanhola, José Antonio Camacho, confirmou que vai escalar a espanha no sistema 4-4-2, durante a Copa, com um dos meias, Valerón, mais encostado nos dois homens da frente, Raúl e Tristán. O treinador observou que é o esquema adotado desde que assumiu o comando da equipe que defendeu por quase uma década como jogador.
Explicação
Para Camacho, que disputou os Mundiais de 1982 e 86 (este, como capitão) pela Espanha, esse esquema permite variações, pela facilidade que Valerón e Raúl têm de ser meias e atacantes, o que, em seu entender, deixa o time mais compacto no meio-de-campo.
Dúvidas
Mas, se a tática está definida, Camacho tem dúvidas na escalação, principalmente nas outras três posições do meio-de-campo. Os mais cotados são Helguera, Luis Enrique e Mendieta. No gol, com o corte de Canizares (por contusão), o novo titular deverá ser Casillas. A linha de quatro zagueiros também parece definida, com Puyol, Nadal, Hierro e Juanfran.