A World Athletics, a federação internacional de atletismo, divulgou nesta sexta-feira suas novas normas para o uso de calçados nas competições esportivas. Entre as principais mudanças na regulamentação estão o limite de 4 centímetros para a altura da sola e a utilização de apenas uma placa de carbono dentro do calçado, mas sem cobrir toda a extensão da sola.
Outra obrigatoriedade é que o modelo necessita estar à disposição de qualquer atleta em lojas de artigos esportivos. Com isso, qualquer protótipo não poderá ser usado nas competições até que seja analisado e colocado no mercado com quatro meses de antecedência, a partir dos dia 30 de abril deste ano.
“Não é nossa função regular todo o mercado de calçados esportivos, mas é nosso dever preservar a integridade das competições de elite, garantindo que os tênis usados não ofereçam vantagem injusta. É um ano olímpico, então podemos traçar uma linha proibindo o uso de sapatos que ainda não estão no mercado enquanto investigamos mais”, disse Sebastian Coe, presidente da entidade.
Há alguns anos a federação internacional (antiga IAAF) vem sendo questionada sobre um modelo de calçado lançado pela Nike. Alguns críticos consideram um “doping tecnológico”. Para resumir, o tênis Nike Zoom Vaporfly 4%, apresentado em 2017, conseguiu trazer avanços que ajudaram a melhorar os tempos da maratona. E um dos trunfos dele é a placa de fibra de carbono que está no interior do tênis.
“Eu acompanhei a evolução desse calçado, que foi de uma para três placas de fibra de carbono. É parecida com aquelas lâminas de atleta paralímpico amputado das duas pernas. Se reparar nas provas, ele larga e fica muito para trás, mas a lâmina armazena energia. A partir de um determinado tempo da prova, ele ganha uma velocidade absurda. Na maratona, e nas provas mais longas, a energia acumulada impulsiona o passo”, explica Ricardo D’Angelo, gestor do Instituto Vanderlei Cordeiro de Lima e da Orcampi.
A promessa da empresa era de que o Vaporfly melhoraria o desempenho em 4%, ou seja, em um tempo de 2h10min para a maratona, algo muito bom, o atleta seria até cinco minutos mais rápido. Desde então, as cinco marcas mais rápidas da prova no masculino vieram em sequência, todos com atletas usando este calçado. Entre as mulheres, duas das cinco marcas mais rápidas.
Ricardo D’Angelo até faz uma comparação entre o avanço dessa tecnologia com o que houve em outras modalidades esportivas. Na Fórmula 1, por exemplo, a Federação Internacional do Automobilismo (FIA) regulamenta qualquer mudança e impõe limites, em discussão com as equipes do campeonato.
Em 2009, a Federação Internacional de Natação (Fina) votou por banir da modalidade os maiôs tecnológicos. Na época, a Speedo tinha um traje de corpo inteiro, usado inclusive no masculino, e mais de 100 recordes mundiais foram quebrados. Depois disso, os homens voltaram a usar apenas calção e muitas marcas daquela época persistem até hoje.
“A federação optou pela integridade no atletismo. É como a Fórmula 1 e como ocorreu na natação. Acredito que vai ser até benéfico. Não está proibindo a tecnologia, as outras empresas que quiserem acompanhar vão ser dentro dessas regrinhas. A Nike trabalhou numa tecnologia, o tênis realmente é um sucesso, as modificações produzem melhora no desempenho e os resultados mostram isso. Agora vem a tentativa de dar um padrão”, comenta D’Angelo.
Em outubro do ano passado, o queniano Eliud Kipchoge correu uma maratona em Viena com um tempo recorde – não homologado. Ele percorreu os 42.195 metros da prova abaixo de 2 horas, algo impensável anos atrás. Tudo graças principalmente ao protótipo da Nike que utilizou, o Alphafly. Ele tem uma sola mais alta que os 4 centímetros permitidos e conta ainda com duas bolsas de ar no interior. Nos padrões atuais, ele não pode ser usado em competições oficiais.