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FBI espera que José Maria Marin, preso na Suíça, conte tudo o que sabe

O FBI quer a colaboração de José Maria Marin para chegar a Marco Polo Del Nero, Ricardo Teixeira, aos esquemas que envolveram a Copa do Mundo de 2014 no Brasil e até a empresas norte-americanas suspeitas de terem pago subornos por muitos anos no futebol, como a Nike. Neste sábado faz um mês que o ex-presidente da CBF foi preso em Zurique, acusado de corrupção, fraude e lavagem de dinheiro. E Marin ainda pode permanecer meses na prisão suíça.

Na sexta-feira foi revelado que a Justiça do país rejeitou um apelo de um outro cartola (o uruguaio Eugenio Figueredo) para aguardar a extradição em prisão domiciliar, fechando as portas para as esperanças dos demais dirigentes, entre eles o brasileiro. O processo de extradição para os Estados Unidos deve ser iniciado apenas na semana que vem, quando os norte-americanos repassarão aos suíços o pedido oficial para que Marin e os outros seis dirigentes detidos sejam transferidos para que sejam julgados.

Se condenado, Marin, de 83 anos, pode pegar até 20 anos de prisão. Mas é acima de tudo com a colaboração de Marin que os norte-americanos esperam contar, inclusive para permitir que sua pena seja substancialmente reduzida ou mesmo permutada por uma prisão domiciliar e multas milionárias.

A demora pelo pedido oficial para que haja a extradição não ocorre por acaso. Os norte-americanos tinham 40 dias para formalizar o processo e devem esperar até o último minuto justamente para forçar os suspeitos a permanecer na cadeia e criar condições psicológicas para que aceitem colaborar.

No dia 3 de julho, os Estados Unidos devem apresentar o pedido de extradição. Mas um recurso não será possível imediatamente. Em primeiro lugar, os suíços precisarão de cerca de 20 dias para traduzir todos os documentos. Depois disso, um novo prazo vai ser estabelecido para que haja uma decisão por parte do Departamento de Justiça de Berna.

Neste caso, se a posição for favorável à extradição, Marin poderá apresentar seu recurso, o que significa que começaria a ser considerado apenas em setembro. A situação de Marin foi agravada pelo fato de que foi abandonado na prisão suíça, sem falar inglês ou alemão e tendo de lidar sozinho com um advogado que, nos últimos dias, resolveu tirar férias no sul da Europa.

“Todo mundo o abandonou”, disse uma pessoa próxima a Marin. “Se fosse eu, contaria tudo o que sei. Mas não é muito o perfil dele, não sei se fará isso”. Sua família não se pronuncia, mas vem defendendo que ele entregue todo mundo, principalmente Del Nero.

O atual presidente da CBF abandonou Zurique no dia seguinte à prisão de Marin, retirou da sede da entidade o nome do suspeito e fez questão de se afastar de seu ex-chefe. A atitude foi vista como uma traição por parte da família de Marin, já que Del Nero participou de todas as negociações com ele desde que Teixeira deixou a CBF em março de 2012.

Para fontes no FBI, a situação é “ideal” para propor uma colaboração com Marin. A meta dos Estados Unidos é chegar ao topo da estrutura de corrupção no futebol e não apenas aos cartolas presos. Mas para isso precisará contar com a ajuda de Marin e dos demais detidos.

Fontes próximas às investigações apontaram que esperam de Marin informações sobre Del Nero e Teixeira, até agora não indiciados mas sob investigação. Os norte-americanos também querem saber o que exatamente foi estabelecido no contrato entre a CBF e a Nike, uma empresa norte-americana.

Outro aspecto que os norte-americanos querem explorar é a participação de Marin como presidente do Comitê Organizador Local da Copa. O FBI quer conhecer detalhes das negociações de contratos do Mundial de 2014, principalmente envolvendo empresas americanas, e sua relação com a cúpula da Fifa. Coca-Cola, Visa, Mastercard, Nike, redes de televisão e dezenas de outros fornecedores do mundo do futebol têm sede nos Estados Unidos e a Justiça tenta identificar quem participou dessa estrutura corrupta por anos.

Enquanto a oferta de delação premiada não chega, Marin foi forçado a trocar a vida de luxo que manteve ao longo de décadas por uma prisão comum, ainda que considerada uma das mais adequadas do mundo. Isolado, ele pode receber apenas uma visita por semana. Tem uma hora de caminhada por dia e está sem telefone nem internet. A comida servida é correta. Mas sem luxo, sem variedade nem álcool.

O maior problema, segundo seus amigos, é o ânimo do cartola. “O contato é difícil. Pelo que sei, está bem de saúde. Ele foi atleta, tem saúde de ferro e não toma remédios contínuos. Mas o problema é psicológico. Tem 83 anos, está preso, sozinho. O Marin está se sentindo triste, abandonado. Pode entrar em depressão. Esse é o temor”, disse um amigo.

ABANDONO – Amigos e parentes não têm escondido a revolta diante da atitude do governo de não dar assistência a Marin. “Ele é um cidadão brasileiro preso do exterior e o governo brasileiro não faz nada. Nem o Itamaraty nem o Ministério da Justiça”, disse um aliado. “Ninguém faz nada. Não entro no mérito se ele é culpado ou não, isso é para a Justiça. Mas no caso do brasileiro traficante na Indonésia, o governo fez até pedido oficial para tentar defendê-lo. Pelo Marin, nada. É inacreditável”.

Marin, ex-governador durante a ditadura, foi sempre desprezado pelo governo de Dilma Rousseff, presa nos anos 70 e torturada pela mesmo regime militar que colocou o cartola para comandar São Paulo. O Itamaraty tem outra versão. Segundo o consulado do Brasil em Zurique, a assistência é apenas prestada quando o cidadão a solicita. “Nada nos foi solicitado por parte do detido”, declarou o consulado. “Só podemos agir quando há um pedido formal solicitando nossa colaboração”.

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