“O Atlético estava no Pinheirão, mas a torcida não aceitava. Éramos líderes do Brasileiro e iam duas mil pessoas, quando ia e naquele momento o clube vivia de arrecadação para se sustentar. A torcida me condenava porque vendia os jogadores para suprir as contas do clube. Os poucos torcedores que iam ao Pinheirão pediam a volta da Baixada. Eu, como presidente do clube e representante da instituição, ouvi o torcedor e me convenci que o lugar da torcida era Baixada”, ressaltou Farinhaque.
Porém, o ex-mandatário rubro-negro lembra que não foi fácil tirar o sonho do papel e devolver a Baixada ao torcedor atleticano. “O Atlético tinha um contrato de cem anos com a Federação, mas eles não cumpriam as cláusulas nos contratos. Tudo que era para nos repassar, ela colocava no caixa dela e não nos passava nada. Antes do presidente da época (Onaireves Moura) entrar com uma ação exigindo o execução do contrato, eu me antecipei, entrei com uma ação contra a Federação, construímos a Baixada e voltamos para casa”, lembrou.
“Na época queriam vender o terreno da Baixada para a construção de um shopping. Durante a reunião eu levantei e falei que não concordava na venda de um patrimônio que é a casa dos atleticanos. Felizmente tomei essa atitude e tudo que fiz foi por amor ao clube. O Atlético não existiria mais e não teria futuro algum se tivesse ficado no Pinheirão, tanto que o estádio da Federação foi leiloado”, acrescentou Farinhaque.
O ex-presidente atleticano relembrou das dificuldades enfrentadas e dos parceiros que ajudaram na reforma da Baixada, que em 1994, passou a comportar 22 mil torcedores. “Arranjamos uma forma e maneira de fazer um estádio simples, para 22 mil pessoas, mas bem aconchegante para o torcedor. Tivemos grandes parceiros nessa etapa, principalmente o governador Ney Braga, que nos estendeu a mão desde o primeiro momento e nos ajudou muito, com muita credibilidade no que queríamos fazer. Ele encampou nosso sonho, pedindo ferro, cimento, enfim, nos ajudou demais. Conseguimos voltar para casa com a venda de jogadores e muitos esforços. Mas tudo valeu a pena”, cravou.
Não parou por aí
Depois do mandato findado em 1993 e de ter voltado em 1995 como diretor de futebol, Farinhaque foi um dos responsáveis pelo time formado no título conquistado pelo Furacão da Série B do Brasileiro de 95. Afastado do clube por muitos anos, pode-se dizer que o ex-presidente rubro-negro tem participação direta na construção da nova Arena da Baixada e na eleição do atual presidente atleticano, Mário Celso Petraglia.
“Voltei a cena no clube em 2011, quando alguns conselheiros me procuraram para ajudar o Mário (Celso Petraglia) a apresentar o projeto de reforma e ampliação da Arena da Baixada. Ninguém pode discutir a capacidade dele e a proposta dele realmente era a melhor. Mas o conselho, dominado pelo então presidente Marcos Malucelli, não deixou o Mário apresentar seu projeto até o final e me pediram para reunir os conselheiros para que ele pudesse explanar o seu projeto da nova Arena”, contou.
“AO lado de alguns amigos, conseguimos, a cada semana, conversar com cerca de vinte conselheiros por reunião, que aconteceram no Estação, para que ,o Mário pudesse apresentar o seu projeto. Conseguimos um bom resultado, pois em julho, na votação, conseguimos aprovação de 78% dos conselheiros e não deixamos o estádio nas mãos da construtora OAS, como queria o Malucelli. Se não fosse isso, a construtora ficaria por anos com metade de tudo que o Atlético ganhasse e isso seria um retrocesso. Juntos, conseguimos fazer este bem ao Atlético”, comentou Farinhaque.
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Matéria da Tribuna retrata a volta do Atlético à Arena nos anos 90. |
O ex-presidente rubro-negro, então, foi convidado por Mário Celso Petraglia, para coordenar a sua campanha nas eleições do clube realizadas no final de 2011. “Aceitei e com reuniões nos bairros, em cidades da Região Metropolitana, sempre com mais de duzentas pessoas, fomos realizando a campanha. Fizemos também grandes jantares no Morgenau apresentando as propostas da chapa. Levei o Mário até a sede da Fanáticos e convenci a torcida a ouvir a explanação dele, pois felizmente sou querido entre os torcedores. Não fiz sozinho, mas tive uma boa participação também na eleição, que o Mário venceu por merecimento. Hoje me sinto em paz com a minha consciência de tudo que fiz pelo Atlético, para mudar para melhor a história do clube”, emendou.
Vontade
Afastado do clube, Farinhaque não esconde a vontade de, um dia, voltar a diretoria do Atlético. Porém, o ex-presidente admite que poderia haver um choque de temperamentos com as atitudes do atual presidente rubro-negro.
“Vontade eu tenho, mas não sou um cara submisso. Prezo pelo bom diálogo e gosto da democracia. É preciso ter união e respeito mútuo e acredito que todas as pessoas precisam ser bem atendidas, inclusive a imprensa. O gênio dele é coisa dele, eu sou diferente, mas eu respeito cada um do jeito que é. Na minha gestão, o que marcou a minha gestão foi a boa comunicação que sempre tive com todos, inclusive com os torcedores. Sempre fui tratado com carinho pelo torcedor e era mútuo, pois eu retribuía isso e havia uma empatia muito grande do presidente com a torcida e isso é um orgulho para mim”, recordou.
Grana
Além da ajuda ao presidente Mário Celso Petraglia na aprovação do projeto da reforma e ampliação da Arena da Baixada, a atitude de Farinhaque tomada na década de 90, quando processou a Federação Paranaense de Futebol (FPF), está rendendo bons frutos ainda ao clube. “O Atlético ganhou a ação e nos últimos meses o clube passou a receber o dinheiro da ação, de cerca de R$ 15 milhões. Parece que só falta o clube receber mais R$ 5 milhões, que a Federação está pagando com os recursos do leilão do Pinheirão. Acho que essa foi uma atitude forte que tomei para que o Atlético voltasse a sua casa”, contou Farinhaque.