Faixas voltam a ficar na posição correta

Chega de gozação e protesto. A partir do Campeonato Paulista, ninguém mais verá as faixas de incentivo da Torcida Jovem colocadas de ponta-cabeça na arquibancada. A uniformizada do Santos adotou a medida depois de uma derrota para o Corinthians por 5 a 0, no Pacaembu, pelo Campeonato Paulista do ano passado. E a promessa era a de que seriam desviradas somente após a conquista de um título. E isso ocorreu ontem.

O jogo estava 2 a 1 para o Corinthians, aos 40 minutos do segundo tempo, e as faixas da Torcida Jovem continuavam de ponta-cabeça. Aos 43 minutos, porém, começou a movimentação no lado santista da arquibancada do Morumbi. Foi quando Robinho fez grande jogada e tocou para Elano empatar a partida e praticamente garantir o título brasileiro ao Santos. As faixas foram, então, recolocadas à posição normal, antes mesmo do apito final do árbitro Carlos Eugênio Simon.

O técnico Emerson Leão revelou ontem que estava incomodado com a atitude da torcida e se disse aliviado por ter visto a situação voltar ao normal. “Nós precisávamos resgatar a convivência pacífica com a torcida”, afirmou o treinador. “E, para falar claramente, me enchia o saco ver as faixas de cabeça para baixo. A partir de amanhã (hoje), na Vila Belmiro, não tem mais faixa para baixo”, completou. Leão foi um dos mais festejados pelos torcedores, que gritaram de maneira incansável seu nome enquanto o grupo recebia as medalhas pela conquista do Campeonato Brasileiro.

Leão volta a ter prazer na Vila

Há um ano, o campeão brasileiro estava desiludido. Hoje, considera-se responsável pelo projeto que revolucionou o Santos, transformando-o, em pouco mais de seis meses, de empresa deficitária em dona de patrimônio com perspectiva de lucros ilimitados. Teve uma experiência frustrante na Seleção, passou meses no pequeno Juventude, livrando-o do rebaixamento.

Até pensou em se mudar para sua fazenda no Mato Grosso e cuidar de bois… Hoje, Émerson Leão está realizado e feliz com o futebol.

Antes do título brasileiro já dizia que o trabalho que rendeu a revelação de Diego, Robinho, Alex e outros tinha lhe trazido de volta a alegria como técnico. “Para cicatrizar as feridas, só mesmo o sorriso de uma criança, a alegria de um time bem montado”, disse o treinador em entrevista para a AE-Tribuna. Leão, 53 anos, quer ser técnico até os 60, mas não pensa em Seleção tão cedo.

Agência Estado – Se você ficar no Santos ficará frustrado se o presidente Marcelo Teixeira vender Diego ou Robinho, ou os dois para ter volta o dinheiro do primeiro mandato?

Emerson Leão – Se o presidente vender é porque tem um motivo capital – que se chama dinheiro. Ouvi dizer, e não sei se é verdade, que o presidente tem US$ 11 milhões dele no clube. Ao câmbio atual, são R$ 40 milhões, companheiro. Deve estar sorrindo porque agora tem material para recuperar o que pôs no clube. E se vender, alguém pode falar que ele está errado? Não. Mas que vai ser frustrante para o torcedor do Santos, vai.

Qual é sua opinião sobre Alex?

É a maior revelação do Brasileiro na defesa. Em uma lista de dez zagueiros, a primeira posição será dele. Alex é o melhor zagueiro do País e, pelo que tenho visto ultimamente, talvez o melhor do mundo.

Lembra de zagueiro parecido?

Parecido não, mas com a mesma capacidade, o Luís Pereira. Alex tem só 20 anos, 1,91 m, é técnico e sabe se impor. Os companheiros não ouvem sua voz, mas ele está sempre presente. É um fenômeno. Saiu do juvenil direto para o profissional estreou contra o Vasco, em São Januário. O time estava há um ano sem ganhar um jogo oficial fora da Vila e ele fez um dos gols da vitória por 2 a 1. Nunca mais saiu do time. O futebol brasileiro achou o que mais lhe fazia falta: um grande beque central.

Como define esse seu Santos?

É um time com o futebol de uma plástica muito bonita, jovem, alegre e irresponsável na maneira de jogar, mas que nem por isso deixa de cumprir determinações. Esse time é muito mais sério do que alguns imaginam, principalmente quando perde a bola. E também mais irreverente do que as pessoas pensam. Para mim está sendo uma nova forma de trabalhar, resgatando a origem do futebol brasileiro. É um prêmio para mim, para nós todos do Santos e para o público, além de uma lição para muita gente que não entende de futebol mas manda demais nele.

Você recuperou o prazer de ser técnico?

Tive uma decepção muito grande com o futebol. Certas pessoas tomam decisões erradas e provocam feridas no coração. E, para cicatrizar, nada melhor do que o sorriso de uma criança, a alegria de ver um time bem formado, mostrando um futebol alegre. Contagia. É bom ver novamente o futebol-espetáculo. Mas mantenho a decisão de não querer jamais me tornar um técnico veterano. Não ficar em campo até aos 70 anos. Imponho meus limites, não vou passar dos 60 como treinador.

Se o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, se retratar, você aceitaria voltar à Seleção?

Na segunda-feira estava conversando com o Parreira (Carlos Alberto Parreira), que pretende ser diretor-técnico na Seleção e com quem teria imenso prazer de trabalhar. Mas minha resposta, com pesar, seria não. Nem ele (Teixeira) faria isso, nem eu aceitaria. No futebol, as coisas demoram para mudar, mas quando mudarem será para melhor.

Você se sentiu desprestigiado por ter sido mandado embora da Seleção?

Nunca me senti desprestigiado como jamais me senti um master. Considero-me suficiente. Como me senti capaz de fazer um bom trabalho no Santos quando assumi, em condições difíceis, há sete meses. Um dos motivos de eu ter aceitado o convite foi testar meu carisma em relação à cidade de Santos. Na outra vez que trabalhei no clube (em 1998/99) fui muito feliz, o técnico que mais tempo ficou no cargo, além de conseguir o último título internacional. As coisas estão se repetindo, de modo mais forte.

Você assinou por salário inferior a seu padrão de técnico?

Dinheiro não me importava, mesmo porque eu sabia que estava ‘curto’.

Leão ainda é técnico que não gosta de trabalhar com estrelas?

Não temos dinheiro para contratar estrelas. Mas se eu for contratado para dirigir um grupo de estrelas, não haverá problema, desde que eu tenha o direito de escolher as estrelas. Agora… não imponham estrelas.

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