Fagotista Alexandre Silvério toca com seu quinteto em SP

O sonho de todo fagotista é brilhar no solo que abre a Sagração da Primavera, obra-prima maior do século 20, composta por Igor Stravinsky em 1913. O fagote é um dos instrumentos de som mais grave da orquestra. Visualmente, destaca-se na centena de músicos de uma orquestra sinfônica por seu longo tubo de madeira reluzente de 2,5 metros e o finíssimo tubo de prata de lei. Este tubo curvo liga a palheta dupla, soprada pelo músico, ao corpo do fagote. A curvatura do tubo em “U” modifica a sonoridade. A sonoridade gaiata encantou compositores ao longo dos séculos; seus graves sustentam a base da harmonia das madeiras, suporte essencial numa orquestra sinfônica.

Normalmente, os fagotistas contentam-se em atuar nas orquestras. Mas há quem também cisque em outros terreiros – e obtenha admiráveis resultados musicais. O paulista de Osasco Alexandre Silvério, fagote principal da Osesp desde 2004, costuma levar seu instrumento para outras baladas. Como a do jazz, sua segunda paixão. Nesta sexta-feira, 3, a partir das 20 horas, ele toca com seu quinteto e autografa o CD Entre Mundos no Instituto Cultural Itaú, com entrada franca.

Esqueçam exotismos e sons bizarros. O grupo conta com músicos igualmente talentosos como Fábio Leandro ao piano acústico e no Rhodes, Vinícius Gomes na guitarra e violão, Igor Pimenta no contrabaixo e Sérgio Reze na bateria. São dez faixas, distribuídas entre um standard do jazz (a linda balada My Funny Valentine) e composições autorais. Silvério assina cinco delas (os destaques vão para Tarde em Berlim, reminiscência do período em que estudou com o mítico fagotista Klaus Thunemann, Ballad for Klaus e Meu fagote chorou). Leandro, Vinicius e Igor comparecem com um tema cada.

Jazz bem comportado, mainstream, sem culpa, feito com muito prazer e competência. Todos esbanjam talento nos improvisos. Mas é o líder que extrapola. Um pouco por causa do timbre exótico, mas principalmente pela qualidade musical das suas composições e a surpreendente agilidade que imprime ao fagote ao improvisar.

Silvério descobriu o fagote adolescente de 14 anos ao ouvir um dos maiores do mundo, o alemão Klaus Thunemann, numa loja de discos. Anos mais tarde, realizou o sonho de estudar com ele em Berlim, depois de passar pelas aulas de Formiga, Mamão, Afonso Venturieri e Noel Devos. Na Europa, estudou também na academia da Filarmônica de Berlim. “Toquei na orquestra regido por Mariss Jansons, Seiji Ozawa, Sir Simon Rattle, Pierre Boulez e Andre Previn, entre outros”.

Ok, excepcional formação clássica. Mas o CD Entre Mundos é tão idiomático que se deveria intitular “Outros Mundos”. Não tem nenhuma interface erudita, é puro jazz hard bop. “Descobri o jazz por acaso”, diz Silvério ao Estado. “Eu e o Formiga (Francisco Formiga, seu professor na época, hoje parceiro na Osesp) procurávamos outros métodos de fagote na Casa Vitale. Encontramos casualmente o Charlie Parker Omnibook. Cheguei em casa e logo fui tentar tocar aquilo. Fiquei maravilhado com a música. Isso foi em 1993. Ali surgiu meu interesse de estudar jazz, improvisação”. Daí em diante, passou pelas mãos de Roberto Sion, tomou um banho de Bird. Encantou-se particularmente com Gerry Mulligan, “por achar certa semelhança sonora entre o sax-barítono e o fagote”. Silvério confessa que jamais ouviu alguém improvisar jazz no fagote. Por isso, diz: “Minhas influências foram saxofonistas, pianistas e um pouco dos trompetistas”. Quebrou o tabu, numa bem-vinda ousadia, concretizada em jazz de ótima qualidade.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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