Ele é o ciclista mais experiente do Brasil. Está na equipe Memorial-Santos desde a sua criação, em 1999. Aos 37 anos de idade o paranaense Hernandes Quadri Júnior tem uma carreira vitoriosa, que soma 20 títulos nacionais e duas participações em Jogos Olímpicos. Continua em plena atividade e anuncia que 2005 vai ser o melhor ano de sua trajetória no ciclismo. Para isso, quer deixar de ser o principal gregário da equipe, aquele atleta completo que faz a função de ajudar os companheiros de equipe para a vitória, em detrimento de um resultado pessoal, para voltar a ser um competidor buscando vitórias. Entre os objetivos principais está a Volta do Rio e a reconquista do título brasileiro.

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Este ano, ele foi eleito o melhor ciclista de pista do País no Prêmio Brasil Olímpico, do Comitê Olímpico Brasileiro. Também mostrou que continua em plena forma sendo o destaque do Brasileiro de Pista, em Caieiras. Junto com Anderson de Oliveira, o Mindu, foi protagonista da vitória mais emocionante de todo o evento, na prova de madison, disputa feita em duplas, onde os atletas fazem o revezamento constante, exigindo força e muita estratégia.

Além disso, faturou mais três medalhas, outra de ouro – no revezamento 4x4000m e duas de prata, na perseguição individual e na por pontos. Na entrevista, Hernandes fala dos novos planos, dos companheiros de equipe, família e também da decepção que teve com dois ex-integrantes da Memorial, Márcio May e Nilceu Aparecido, que abandonaram o grupo. Mas a animação para a próxima temporada é total. Acompanhe agora uma entrevista exclusiva ao Paraná-Online.

Paraná-Online – O que você espera de 2005?
Hernandes Quadri Júnior – Acho que vai ser uma temporada melhor do que a gente teve esse ano. Em 2004 deixamos a desejar o ranking nacional por equipes, que era nosso há quatro anos, e acho que o objetivo maior em 2005 é voltar a ser a equipe número 1 do ranking.

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Paraná-Online – E individualmente?
Hernandes – Já começou em 2004. Vou começar a pensar em mim e já tenho programado a Volta do Rio de Janeiro. Vou fazer a Volta do Estado de São Paulo como treinamento. Lógico, visando ganhar, mas como preparação para o meu objetivo maior que é a Volta do Rio, onde quero decidir. Estou determinado a vencer o máximo de provas que puder em 2005. Agora, tenho de pensar mais em mim. Tenho potencial para vencer e vou atrás disso. Não quer dizer que vou ser egoísta. Todos sempre falam que sou o primeiro a vestir o macacão, para ajudar o time. Vou continuar assim, mas também tentando as vitórias. Acho que fiquei meio apagado, na função de gregário, mas sei que tenho potencial para brigar por títulos.

Paraná-Online – Pesa muito ser o mais experiente do País? E enfrentar garotos que podiam ser seus filhos?
Hernandes – Não pesa nada. A experiência ajuda a você aprender a dosar suas forças. Isso ajuda bastante e procuro passar isso para a equipe. É mais uma segurança e para que eles corram mais relaxados, sabendo que tem um cara experiente com eles.

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Paraná-Online – E ser o líder no grupo, é algo natural ou você "puxa? a responsabilidade?
Hernandes – Eu não gosto de ser líder. Acho que numa equipe todos são líderes. Acho que não tem de ter um cara líder, na equipe todos têm de atuar juntos. Se errou, foi a equipe e não um só. Se venceu, também foi a equipe toda. Todos trabalharam para isso. Eu acabo liderando um pouco, por causa da minha vivência, mas acho que todos estamos juntos.

Paraná-Online – Você falou que o grande objetivo é a Volta do Rio, mas e as provas de pista? Vai continuar se dedicando?
Hernandes – Com certeza. Esse ano vai ter o Pan-Americano em Mar Del Plata e estou pretendendo fazer duas etapas da Copa do Mundo. Se der eu vou. Não quero abandonar a pista. Mas a estrada vai ser importante. Fui campeão brasileiro de estrada duas vezes seguidas, em 2002 e 2003 e já estou com saudades da camisa verde e amarela. Quero ver se recupero esse ano. Como falei, vou tentar ganhar tudo o que puder, sempre contando, claro, com minha equipe. Mas não vou ser egoísta. Quando tiver de ajudar meus companheiros, estarei ali, pronto.

Paraná-Online – Como é a sua rotina de treinos?
Hernandes – Se eu fico um dia sem treinar, parece que me falta alguma coisa. Até minha mulher fala que eu fico muito nervoso. Quando eu pedalo eu fico mais light. Eu treino em média de 600 a 800 quilômetros por semana.

Paraná-Online – E o futuro? Pretende competir até quando?
Hernandes – Pretendo seguir até os Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007. Se eu chegar nos Jogos e sentir que ainda tenho condições para brigar para a Olimpíada de Pequim, com certeza eu vou. Daí fecho com chave de ouro.

Paraná-Online – Já pensou o que vai fazer depois?
Hernandes – O meu prazer será continuar trabalhando com a equipe Memorial, ajudando o Cláudio (Diegues técnico), a Memorial. Ainda tem de ver.

Paraná-Online – Você está desde a criação da equipe Memorial, hoje uma das principais do País. É o único atleta que está desde o começo. Fala um pouco da equipe.
Hernandes – Cada ano que passa a equipe vem melhorando, crescendo. É uma das melhores. Não tem o que reclamar. O trabalho em equipe é onde funciona tudo. E somos bem unidos. Todos, atletas, comissão técnica, patrocinadores, assessoria de imprensa. Um só time, sempre voltado a vencer. Por que a gente ganhou as principais provas em 2004? Tudo bem que não levamos o ranking nacional, mas as melhores competições nós ganhamos. Isso é a união da equipe. Ninguém nega força. O que importa é a equipe, não o atleta.

Paraná-Online – Sua equipe virá reforçada em 2005, com os argentinos Jorge Ciacinti e Pedro Pietro, a volta de Daniel Rogelin. Como analisa a nova formação?
Hernandes – Não tenho palavras sobre esses reforços. Como pessoas são excelentes e como atletas não tem o que dizer. Têm um nível muito forte. Vieram para engrandecer. E hoje, vendo no papel, é a equipe mais forte do Brasil.

Paraná-Online – Você tem sido o "gregário de luxo" da Memorial. O que fez você mudar?
Hernandes – A vitória é um estímulo. Todo atleta precisa disso e eu deixei meio de lado. E acho que isso me prejudicou bastante. Você não tem de viver de nome. Tem de viver de resultados. É o que faz você crescer.

Paraná-Online – Qual foi o melhor momento da sua carreira?
Hernandes – O melhor momento acho que será agora. Lógico, tive vários momentos importantes, mas estou confiante que 2005 vai ser o ano de arrebentar.

 Paraná-Online -Você foi escolhido o melhor ciclisa de pista. Descreva a emoção da conquista no Prêmio Brasil Olímpico?
Hernandes – É um orgulho para todo atleta brasileiro receber um prêmio do Comitê Olímpico. É o terceiro que eu recebo. Já recebi um de estrada e dois de pista. E esse ano vou brigar por mais um, ou pela estrada ou pela pista. Acho que em um dos dois dá para estar lá novamente.

Paraná-Online – E o pior momento no ciclismo? Quando foi?
Hernandes – Foi domingo passado, dia 19 de dezembro. Foi uma traição que a gente teve na equipe, com o Márcio (May) e o Nilceu (Aparecido) saindo da equipe daquele jeito. Mas a equipe soube em dois dias reverter isso. E isso foi até bom, porque vamos competir com mais estímulo, gana. Foi uma decepção e, ao mesmo tempo, uma alavanca para levantar todos da equipe.

Paraná-Online – Voltando aos assuntos bons, quem dá mais força para você continuar atuando entre os principais do Brasil?
Hernandes – Minha família, minha mulher (Graça). Ela me apóia bastante. E também minha equipe, que hoje está mais unida ainda. Isso é que me levanta mais o estímulo.

Paraná-Online – A Graça é seu maior incentivo?
Hernandes – Em casa ela é o pilar. Ela que sustenta. Sem ela, não estaria onde estou hoje e em tanta evidência, brigando por vitórias. É o grande amor da minha vida.

Paraná-Online – Mas ela dá muitas broncas?
Hernandes – Demais (risos). Acho que dá mais que o Cláudio. Ela é uma das pessoas que pega no meu pé nesse negócio de eu só trabalhar para os outros. Acho que ela está certa. Eu deixava de enxergar (sic) o que ela falava. Agora vou pensar mais em mim. Escutar a minha mulher, o Cláudio e a equipe.

Paraná-Online – Como é trabalhar com o Cláudio, que já foi comparado ao Bernardinho, pelo seu estilo exigente?
Hernandes – Olha eu sempre tive bom relacionamento com ele. Nunca tive briga, discussão muito forte. Ele é uma pessoa excelente. Acho que para a Memorial, com esse alto nível técnico que tem hoje, não há outro técnico. Ele sabe comandar muito bem.

Paraná-Online – Como você vê esse relacionamento do Pepe Altstut, que é patrocinador e também ciclista? Esse amor que ele tem pela equipe?
Hernandes – Acho ele é outra pessoa que me ajudou muito e sem o apoio dele não estaria onde estou hoje. Ele não é só patrocinador. É amigo, entende das coisas. Mas acho que tenho de me preocupar com o Pepe, porque ele está treinando e se bobear perco minha vaga para ele (risos). Tem de ficar de olho nele né? Fiscalizar os treinos dele