A expansão da Copa do Mundo para 48 seleções vai exigir a realização de quatro jogos de futebol por dia, durante duas semanas. Só assim é que a Fifa conseguirá cumprir sua promessa aos maiores clubes do planeta de que o novo Mundial será realizado com 16 seleções extras e, mesmo assim, não ultrapasse 32 dias de disputa.
Nesta terça-feira, a Fifa aprovou a maior expansão na história de quase cem anos da Copa. Ao passar de 32 para 48 seleções, a entidade admite que a qualidade vai cair. Mas a renda vai sofrer uma explosão, com 35% de aumento em comparação à receita da Copa de 2014 no Brasil.
Para o novo presidente da Fifa, Gianni Infantino, trata-se de seu maior teste como chefe da entidade máxima do futebol. Por meses, ele tem costurado a ideia com emissoras, federações, clubes e patrocinadores.
Maior audiência, maior marketing e mais venda de ingressos, porém, exigirão um acúmulo de jogos por dia, com um total de seis horas de futebol diariamente. Isso se os jogos não forem para os pênaltis. Uma das propostas é de que não haja empates e que todas as partidas nessa situação sejam definidas por pênaltis, o que aumentaria ainda mais as horas de futebol na TV.
“Será um mês de um futebol sem fim nas televisões do mundo”, alertou um dos cartolas em Zurique, na condição de anonimato e admitindo que, no médio prazo, isso pode afetar o valor da Copa. “A Fifa não entende a lei do retorno”, alertou Patrick Nally, homem que desenhou o sistema de marketing da entidade nos anos de 1970. “Um modelo com 48 seleções vai diminuir o valor das Eliminatórias e da Copa”, disse.
Estudos realizados na Inglaterra no final de 2016 mostraram que, pela primeira vez em 30 anos, a audiência do futebol na TV dá sinais de fadiga. A culpa, segundo as análises, seria do excesso de horas de partidas ao vivo sendo transmitidas.
De acordo com a agenda realizada pela Fifa, a partir de 10 mil simulações diferentes, a primeira fase da nova Copa terá 16 grupos, de três equipes cada. Para que todos esses 48 jogos possam ocorrer em duas semanas, quatro partidas serão disputadas diariamente.
Não haverá nem mesmo como ter a abertura da Copa do Mundo sendo realizada com um jogo único, como ocorreu em 2014, quando a única partida do primeiro dia do Mundial foi Brasil x Croácia. Já no primeiro dia de competições, seriam quatro partidas.
O número representa o acréscimo de um jogo por dia, em comparação ao atual modelo, com 32 times. Na segunda fase, com 32 times em um mata-mata, o mesmo ocorreria: quatro jogos por dia.
Mas a expansão também representará um desafio para infraestrutura e transmissões. Num documento confidencial preparado pelos técnicos da entidade, admite-se ainda que essa nova realidade vai exigir “uma maior logística e coordenação, o que colocaria mais pressão sobre as equipes da Fifa e das emissoras”. “Um número maior de jogos também levaria a um aumento de custos diante da maior necessidade por funcionários e alugueis mais longos de equipamentos”, disse a entidade.
“Enquanto formatos de expansão com quatro jogos por dia gerariam mais valor de transmissão, isso também aumentaria os custos operacionais”, indicou a Fifa.
RENDA – Em sua avaliação interna, a entidade deixou claro que, apesar do maior custo e do futebol praticamente sem interrupção, a superlotação de jogos compensaria em termos financeiros, principalmente se as TVs entrarem em um acordo com os organizadores para transmitir os jogos nos horários nobres dos países envolvidos na partida.
No Comitê Olímpico Internacional (COI), os Jogos do Rio-2016 já registraram uma situação similar, quando a natação e o atletismo ocorreram em horários que eram considerados como mais adequados para as transmissões da NBC nos EUA.
Para que o novo formato funcione, a Fifa estima que pelo menos 12 estádios sejam necessários para que o calendário funcione e, mesmo assim, cada um deles terá de comportar um jogo a mais, o que também colocará pressão sobre o gramado.
Para cada seleção, a média será de um jogo a cada quatro dias, número considerado como o mínimo necessário para garantir a qualidade do torneio com jogadores que já vem de longas temporadas e exaustos.
Um dos problemas registrados é o de que não haverá um equilíbrio entre os dias de descansos entre as seleções. Outro problema é que não haverá forma de realizar disputas simultâneas nas últimas rodadas da fase de grupos, medida adotada para evitar que seleções combinem resultados.
Com esse calendário sobrecarregado, a Fifa espera conseguir evitar que a competição dure mais dias, uma promessa que Infantino havia feito aos grandes clubes europeus que já criticam o calendário internacional.