Uma Fifa mais rica e um futebol mais pobre. Isso é o que pode ser o resultado da expansão da Copa do Mundo que a entidade tenta aprovar na próxima semana, na maior mudança no torneio em seus quase cem anos. Com a meta de ter um novo Mundial, a Fifa colocará o assunto em votação na próxima terça-feira, costurando uma série de acordos nos bastidores para garantir que o Mundial passe a ter 48 seleções.
Cálculos feitos pela Fifa indicam que, com 48 seleções, a Copa pode ter uma renda de US$ 6,5 bilhões (cerca de R$ 21 bilhões). Isso seria mais de 25% superior ao que gerou o Mundial de 2014 no Brasil, o mais rico da história.
Os custos de organização também aumentariam. Mas apenas em 15%, para um total de US$ 2,3 bilhões (R$ 7,6 bilhões). Ao final, os cofres da entidade poderiam garantir lucros de US$ 640 milhões (R$ 1,47 bilhão).
Mas no estudo realizado pela própria entidade, a Fifa admite que colocar 16 novos times e 80 partidas pode afetar a qualidade do futebol apresentado, um temor de técnicos que criticaram a proposta nos últimos meses. Para garantir “a qualidade absoluta” do esporte, o modelo ideal seria mesmo de 32 seleções – e não as propostas de expansão para 40 ou 48 times.
Ainda assim, visando novos territórios e novos lucros, o que mais agradou a cúpula da Fifa foi o de que a Copa passe a ter 16 grupos de três equipes cada. Os dois primeiros passariam de fase, já em um mata-mata com 32 seleções. Não haveria mais empates e todas as igualdades seriam definidas nos pênaltis.
O Estadão.com apurou que a direção da Fifa tem feito uma pressão “considerável” para que as federações nacionais aceitem esse modelo. A Conmebol e a CBF preferiam uma expansão da Copa para 40 times. Mas estudos mostraram que a divisão das equipes em chaves ficaria complicada e que o formato poderia exigir um número maior de jogos. Um dos cenários era de oito grupos com cinco seleções cada.
Técnicos da entidade brasileira e sul-americana estão trabalhando em uma proposta que possa contribuir para o debate. Mas fontes já admitem que deve haver um acordo para seguir a proposta feita por Gianni Infantino, o presidente da Fifa, com 48 seleções.
Em contrapartida, a Conmebol quer entre 6,5 e 7 vagas, o que significaria que até 70% do continente teria lugar garantido num Mundial. Se a opção ficar por um acordo para dar 6,5 vagas para a América do Sul, a promessa da Fifa é de que a repescagem não ocorreria contra a Europa e sim contra uma região com times mais fracos.
HORÁRIO NOBRE – Para as televisões, o acordo que se negocia é de que a seleção de um determinado país jogue pelo menos duas vezes, o que atenderia os interesses das emissoras. A projeção da Fifa é de que, com a expansão, um número maior de acordos de transmissão será assinado com redes de países que pela primeira vez estarão numa Copa. Mas as televisões querem garantias de que, depois de pagar milhões de dólares, vão mostrar suas seleções mais de uma vez.
Além disso, os jogos de grandes seleções serão determinados para garantir que sejam transmitidos em horário nobre para os torcedores nos países de origem. Isso foi o caso já da natação e do atletismo na Olimpíada do Rio, com provas começando quase na madrugada para atender a NBC, nos Estados Unidos.
Mas é com a Europa que a negociação vem exigindo mais da Fifa. A Associação de Clubes Europeus indicou em dezembro que era contra a expansão. Mas a declaração foi vista pela Fifa como uma sinalização de que o grupo quer negociar.
Para garantir o apoio europeu, a entidade fez promessas de que o calendário internacional não vai mudar, que a Copa terá praticamente os mesmos dias que o modelo atual. Os europeus ainda passariam a ter 15 seleções no Mundial, contra 13 no modelo atual.
Fontes em Zurique indicaram à reportagem que Infantino precisa expandir a Copa para atingir seus objetivos políticos e comerciais. Mas não pode abrir uma briga com a Europa, de onde vem 80% do fluxo de seu dinheiro. “Um torneio com 48 times teria o mesmo período do atual modelo”, garantiu o presidente da Fifa, no final de dezembro.
Para asiáticos e africanos, Infantino também precisa aumentar a Copa, inclusive para pagar pelo apoio que recebeu nas eleições de fevereiro de 2016. O suíço usou a mesma tática que João Havelange adotou em 24 anos na Fifa para ganhar votos: oferecer vagas na Copa.
Até 2026, o plano da Fifa é de que 60% da população mundial tenha uma relação com o futebol, seja como torcedor que vai aos estádios ou como jogadores amadores e profissionais.