Credibilidade e transparência. Se fosse possível resumir o ideário de Fernando Carvalho, um dos dirigentes de maior sucesso na história do futebol brasileiro, as duas palavras fariam uma grande síntese – que causaria urticária em alguns cartolas. O ex-presidente do Internacional foi a estrela da abertura do 1.º Ciclo de Palestras e Debates da rádio Banda B, ontem, no hotel Victoria Villa, em Curitiba. Carvalho contou como surgiu a ?estratégia da vitória?, que desaguou no título mundial conquistado em dezembro do ano passado.
Ao contrário de muitos dirigentes, que sempre contam seus feitos e escondem os insucessos, Fernando Carvalho contou sua história com todos os percalços, incluindo as falhas do departamento de futebol na sua gestão (ele foi presidente entre 2002 e 2006) e da derrota na eleição de 1999 para Jarbas Lima. ?Ali nós percebemos que era necessário planejamento para ganhar a eleição e para comandar o clube?, comentou.
O subtítulo de sua palestra foi ?De Belém a Yokohama?.
O ex-presidente aponta o início da recuperação do Inter na salvação do rebaixamento, ao vencer o Paysandu na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2002. Aquele foi um momento de aprendizado, quando ele descobriu que as mudanças na ?Lei do Passe? afetavam inclusive o rendimento dentro de campo. ?Se você faz um contrato com um jogador de um ano, ele começa em agosto a pensar o que vai acontecer no futuro. Isto é prejudicial em competições como o Campeonato Brasileiro, você não consegue ter regularidade?, resumiu.
Auto-estima
Daquele momento em diante, o Inter cresceu – apesar dos erros confessados pelo presidente em 2004, quando trocou várias vezes o comando técnico. A diretoria resolveu aumentar a auto-estima do torcedor com obras e com muita sinceridade. ?Foi quando decidimos anunciar que em nosso planejamento ficaria certa a venda de um ou dois jogadores por temporada. Não escondemos isso, e o torcedor passou a acreditar mais no clube.?
Outro ponto importante foi a criação do projeto de sócios (ver matéria ao lado), que criou uma renda fixa mensal para o Colorado. E, claro, a recuperação no futebol, e o ?ano mágico? de 2006. ?Criamos estratégias para mobilizar nossa torcida durante a Libertadores, e com isso tínhamos a convicção que teríamos uma grande conquista. Era uma questão de tempo?, revelou.
A história de Fernando Carvalho como presidente do Internacional termina com o título mundial em Yokohama, o que representou a certeza do trabalho bem feito. ?Nós não brincamos, fazemos futebol de forma séria, com transparência e planejamento. E isso traz credibilidade?, finalizou o ex-dirigente.
Inter vira exemplo pro País
O plano de sócios do Internacional virou exemplo para todo o País – incluindo Atlético e Coritiba, que lançaram com estardalhaço seus projetos no início do ano. O segredo do sucesso colorado, entretanto, não está no preço (hoje um valor intermediário entre o que Coxa e Furacão cobram, por exemplo), mas sim em detalhes simples, que parecem impensáveis na estrutura ?imperial? dos nossos clubes.
A intenção do então presidente Fernando Carvalho era aproximar a torcida do clube, criando um vínculo que superasse o dinheiro e fosse levantar o ânimo dos colorados. ?Chamamos todos os setores do clube para participar do planejamento. Até o Sangaletti (ex-jogador, então capitão do time) e o Clemer estiveram nas reuniões e deram ótimas sugestões?, contou o ex-dirigente.
Chegou-se ao ponto comum – era preciso criar benefícios a quem se tornasse sócio.
?A primeira decisão foi liberar o acesso aos jogos, pois antes os associados tinham que pagar ingresso?, lembrou Carvalho.
Promoções
Para fazer com que o plano fizesse sucesso mesmo que os resultados no campo não fossem os melhores, Fernando Carvalho abriu o Internacional para os sócios. Foram lançadas três promoções: Visita Colorada, que reúne 25 associados, em dia com as mensalidades, para um passeio de 4 horas pelo Beira-Rio; Fala, Dirigente – idéia do então vice de futebol Vitório Píffero, hoje o presidente colorado – reunindo dez sócios (sempre com pagamentos pontuais) para falar sobre o futebol do Inter; e a cada viagem do clube, um sócio é convidado para fazer parte da delegação.
Graças a essas iniciativas, o clube hoje tem mais de 50 mil associados – 42 mil pagando R$ 45 mensais e o restante R$ 20 (sem acesso aos jogos, mas com preferência na compra de ingressos).