A juíza Pamela Chen, da Corte Federal do Brooklyn, no Distrito Leste de Nova York, condenou José Maria Marin a 48 meses de prisão pelos crimes cometidos na época em que foi presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) de 2012 a 2015. Marin foi acusado de participar de um esquema de corrupção internacional que resultou no pagamento de US$ 154 milhões (cerca de R$ 614 milhões) em suborno envolvendo torneios como a Copa do Brasil, Copa América e Copa Libertadores. Ele já cumpriu 13 meses de detenção na Suíça e Estados Unidos e, por ter registrado bom comportamento, sua pena final, na prática, será reduzida para 28 meses de prisão nos Estados Unidos.
A juíza Pamela Chen determinou também uma multa total de US$ 1,2 milhão (R$ 4,7 milhões), que será paga em seis parcelas, sendo a primeira seis meses depois de 20 de novembro deste ano, quando será publicada a sentença. José Maria Marin também será confiscado em US$ 3,35 milhões (R$ 13,35 milhões) por ter participado do esquema de propinas que teria conspirado ao seu favor o recebimento de US$ 10 milhões (quase R$ 40 milhões no câmbio atual).
A defesa do ex-presidente da CBF solicitou que ele seja transferido de uma prisão no Brooklyn para um complexo prisional no Estado da Pennsylvania, onde teria melhores condições para cumprir sua pena, sobretudo devido a problemas de saúde e de idade, pois tem 86 anos.
Antes da decisão ser lida pela juíza, Marin pediu para ler um comunicado. Ele se emocionou e chorou no tribunal. “Jesus Cristo carregou uma cruz. Eu carrego duas: a minha e a da minha esposa, Neusa”, disse, pedindo clemência à magistrada Pamela Chen. Vestido com um uniforme verde claro, com camisa de manga curta, e calçando tênis azuis, ele pediu com olhos vermelhos e voz em tom mais elevado ao promotor Samuel Nitze: “há a herança da minha mulher, da minha família, não tire a sobrevivência dela.” A comoção de José Maria Marin levou a juíza pedir um recesso de 10 minutos.
Na volta da pausa, Marin solicitou à juíza que o liberasse para voltar ao Brasil livre para “passar o resto do tempo da minha vida” para compensar o transtorno causado por ele à sua família com sua prisão. “Eu imploro. Permita que este dia venha logo. Muito obrigado.”
A juíza Pamela Chen tomou a decisão depois de ouvir os argumentos da defesa, que pediu a liberação imediata de Marin, baseada nos 13 meses de prisão já cumpridos na Suíça e nos Estados Unidos, e a promotoria, que solicitou uma pena de dez anos.
“Marin é um bom homem, que ajudou a comunidade. Ele teve origem simples, e como jogador de futebol conseguiu ajudar a pagar seus estudos e direito para depois trabalhar nessa área e no mundo de negócios”, apontou o advogado de defesa Charles Stilman. “Ele chegou ao posto de governador de São Paulo e atuou na defesa do serviço público, inclusive em beneficio de trabalhadores do setor ferroviário.”
O advogado também apelou à juíza que não o punisse, pois sua idade é avançada. “Quanto tempo mais ele terá de vida? Anos, meses… Não há um calendário para este homem, cujo espírito está ‘quebrado’. O homem que conheci há alguns anos não é o homem que está presente aqui. Ele não acreditava que estava machucando ninguém com seus atos.”
Por outro lado, o promotor Samuel Nitze fez um contraponto agudo às posições da defesa. “Marin é um homem inteligente e esperto, que participou de forma deliberada de um grande esquema de corrupção envolvendo o mundo do futebol quando já tinha 79 anos. Ele já tinha dinheiro, tinha discernimento e não precisava envolver-se”, destacou.
A juíza Pamela Chen fez comentários que reforçaram as análises da Promotoria. “O único argumento que consegue mitigar a pena é a idade do senhor Marin”, destacou a magistrada, apontando que tinha estabelecido uma faixa de pena entre 97 e 151 meses.
“O senhor Marin deixou o serviço público há mais de 30 anos e atuou no esquema de corrupção, do qual foi beneficiário, entre 79 e 82 anos. É difícil na minha mente conciliar sua participação nos esquemas milionários de pagamento de propinas do qual teria recebido cerca de US$ 10 milhões em três anos”, apontou a magistrada. “É preciso mandar uma mensagem forte para o mundo de que o crime não paga e que a lei precisa ser respeitada, não importando a idade das pessoas.”